NOTAS
A fan fic que pode ser lida a
seguir inicia-se exatamente no final de Rise of the Tomb Raider e compõe uma
continuação para a história do jogo. Tudo foi escrito de modo a respeitar cada
HQ lançada, cada jogo e cada documento dentro dos jogos. Ao longo da história vão
existir referências a documentos, jogos e HQs que estarão devidamente
assinaladas e explicadas para que todos as possam entender. É escusado dizer
que tudo o que estiver daqui para baixo contém SPOILERS de Rise of the Tomb
Raider.
É recomendado que não leiam esta
fan fic sem conhecer a história do jogo. Se quiser vê-la (ou revê-la) clique AQUI para assistir a todas as cutscenes
dubladas. É aconselhado que todos vejam (ou revejam) pelo menos a cena final do jogo. Agora sim, estará pronto para ler esta continuação!
(É ainda de referir que a fan fic
está escrita em português de Portugal e algumas palavras podem ser escritas de
maneira diferente no Brasil, ainda que se consiga entender tudo perfeitamente)
SINOPSE
Quem matou Ana? Quem mandou matar
Ana? Será mesmo que ela morreu? E o pai de Lara? O que realmente aconteceu com
ele? Rise of the Tomb Raider encerra com várias pontas soltas. Todas elas
esclarecidas e explicadas agora. Algo após os acontecimentos do jogo faz Lara
mergulhar numa nova e emocionante aventura, onde ela encontra mais respostas do
que as suas próprias perguntas. Com um final mais do que surpreendente, esta
continuação de Rise of the Tomb Raider, de leitura obrigatória a qualquer fã, promete
fechar com chave de ouro uma grande trilogia.
CAPÍTULO 1 – Há segredos lá fora
- Ana, tu disseste “Outro Croft
não precisa de morrer por isto”. O que quiseste dizer?
…
- Tu mataste o meu pai, não foi?
– aproximou-se Lara, ameaçando-a com o revólver.
- A Trindade ordenou a execução
dele. Mas… eu não consegui… - respondeu Ana, de cabeça decaída.
- Estás a mentir! – interrompeu.
- Eu amava-o. – suspirou.
Ouviu-se, nesse instante, um tiro
de sniper ecoante que perfurou uma bala no ombro de Ana.
- NÃÃO!! – gritou Lara,
agachando-se.
- Está feito. – informou, ao
longe, o sniper.
- Ótimo. – respondeu alguém pelo
rádio.
- E quanto à Lara? – perguntou.
- Não. Ainda não…
- Lara… - sussurrou a madrasta
sem força e de mão estendida.
- Ana! – gritou Lara,
levantando-se.
Tentou ajudá-la com alguns
curativos que lhe tinham sobrado. Chamou ajuda. Um helicóptero estava prestes a
chegar. Ela estava viva, mas inconsciente. Tinha perdido algum sangue.
Já no hospital mais próximo, Ana,
agora desperta e deitada na cama, aguardava uma cirurgia. Lara permanecia na
sua frente, em pé e parada. Desiludida, magoada e com raiva.
- Lara, eu…
- Tenta não falar. – interrompeu
– Por ti, não por mim.
- Há mais por descobrir. –
sussurrava Ana – Esta história não chegou ao fim. Está só a começar.
- O que é que…
- As serpentes que caminham. Ela…
Este foi o seu último suspiro.
Ana revirou os olhos e morreu. Por mais que quisesse negar, Lara só lamentava não
ter ouvido o resto da frase. A sua última frase.
Os enfermeiros entraram pelo
quarto dentro e travaram ao ver a mulher morta.
- Foi tarde demais. Não houve
tempo. Lamento imenso, senhora. – aproximou-se um.
- Vamos levá-la para a morgue. A
senhora terá tempo de contactar uma funerária para a sua mãe. – comunicou a colega.
- Ela não é minha mãe. Eu não a
conheço. – disse Lara, limpando as lágrimas e virando as costas.
Passaram 2 semanas.
- “Querida Lara,
Muitas vezes eu penso como o meu
pai se viraria no túmulo se soubesse da vergonha que eu trouxe ao nome da nossa
família. Croft. O que esse nome significa? Eu espero que possas deixar a tua
própria marca no mundo um dia. Lembra-te de que o extraordinário está no que
fazemos e não em quem somos.”
- Destruir a fonte foi a coisa
certa a fazer. – confortou, Jonah, a Lara.
- Ainda sinto que o dececionei. –
explicou ela, pousando a gravação do pai e arrumando a mochila.
- Acho que ele teria feito a
mesma escolha. – continuou Jonah – Vamos. O teu voo vai partir.
Lara tinha ouvido aquela última
fita milhares de vezes. Mas era como se ela estivesse a entender as palavras do
pai só agora. Não importavam as escolhas que ele tinha feito. Ela tinha de
fazer as suas. O mito de Kitej era real. Haviam segredos lá fora que podiam
mudar o mundo, e ela precisava de os encontrar. Não pelo seu pai, nem por mais
ninguém. A Trindade ainda estava por aí, e eles eram mais poderosos do que ela
alguma vez imaginou. Ela podia pará-los. Ela podia fazer a diferença.
Ela podia fazer a diferença certa.
CAPÍTULO 2 – As serpentes que
caminham
Na semana anterior Lara tinha
regressado à mansão Croft e começado a investigar mais sobre Ana. Se, há uns
tempos, haviam papéis por todo o lado sobre Kitej e a fonte divina, haviam
agora muitos mais sobre a madrasta de Lara. Páginas soltas do seu diário,
cartas e documentos. Várias coisas apontavam para uma nova aventura, num lugar
bem diferente da gelada Sibéria: o México.
Lara encontrou várias cartas de
amor entre o seu pai e Ana. Bem, se era amor ou não ela não sabia. Mas se não
fosse, a Ana representava bem o papel de mulher perfeita. Tão bem quanto
representava o papel de madrasta perfeita. Mas porquê? Em que momento ela tinha
entrado para a Trindade? Em que momento ela começou a trair a família? Quando é
que a Ana se tornou a vilã da história?
Lara percebeu que a relação entre
Richard, o seu pai, e Ana era bastante aberta. Eles pareciam falar normalmente
sobre traições e outras mulheres. Era como se fosse um casamento por
conveniência. Aliás, nem um casamento era. Aquela relação sempre tinha sido tão
falsa que nem um pedido de noivado houve. Como se Ana estivesse ali apenas pelo
dinheiro e Richard apenas para poder dar uma mãe à filha. Era estranho. Mas
sim, notava-se algum carinho entre os dois. Como se fossem amigos. Bons amigos.
Encontrou documentos e relatórios
das suas antigas consultas com o psicólogo. Algo parecido com as gravações que
tinha encontrado na Sibéria.1 Como é que Ana tinha acesso àquilo?
Ela parecia realmente investigar cada passo da família Croft.
E as suas últimas palavras no
hospital? “As serpentes que caminham”. Lara sabia bem do que ela falava. Só não
sabia porquê. Fosse pela razão que fosse, o seu destino era o México. Então,
aos papéis sobre Ana juntaram-se planos e mapas.
E lá estava ela, agora, no
aeroporto, a despedir-se de Jonah.
- Eu sei que querias ir comigo,
mas tenta entender-me. Já magoei muita gente com problemas que são só meus.
Desta vez não. Desta vez eu vou sozinha. Desta vez tudo será diferente. –
notificou ela.
- Sim, Lara. Desta vez tudo será
diferente. Desta vez não vou insistir para ir contigo nem vou duvidar do que tu
consegues fazer. Depois do que se passou na Sibéria eu não tenho dúvida nenhuma
de que és mais do que capaz de ir sozinha nesta aventura. Até porque, aqui
entre nós, eu não ajudei muito da última vez. – ria-se ele.
- Não digas isso, Jonah. – pediu
– Ajudaste mais do que pensas. Acredita. Agora tenho mesmo de ir. Estou
atrasada para o avião.
- Boa sorte! – abraçaram-se – E
tenta voltar viva.
- Não te preocupes! Desta vez eu
vou preparada. – sorriu, indo embora.
- Como se alguma vez tu estivesses desprevenida… - falava, Jonah, consigo
mesmo, ao vê-la partir.
O avião levantou voo. Lara tinha
acabado de sair de uma aventura e já se estava a meter noutra. No México.
Quando lá esteve pela última vez tinha ido resgatar o seu amigo Grim, que tinha
sido raptado. Foi lá que conheceu Letícia, líder de um gang chamado “Las
Serpientes que Caminham”. E foi lá que descobriu que Grim não estava vivo.
Tinham usado o seu irmão gémeo para pedir um resgate.2 Tudo pelo
dinheiro. Letícia, essa mulher enganadora e oportunista. Mas o que teria tudo
isto a ver com Ana?
Chegou no dia seguinte de manhã.
Tinha pago a um motorista para lhe ir buscar ao aeroporto. Lara deu-lhe as
coordenadas necessárias para encontrar Letícia, na esperança que ela ainda
estivesse no mesmo sítio de antes ou, pelo menos, que alguém soubesse dela.
Entraram no meio de uma floresta
e viam-se, por várias vezes, serpentes. O nome do grupo não era à toa. Lara
estava confiante, mas nada seria como ela estava a pensar e a sua passagem pelo
México seria bem mais curta do que o esperado.
1 Referência
aos documentos de Rise of the Tomb Raider
2 Referência à
HQ #16 (Dark Horse)
CAPÍTULO 3 – Foi tudo em vão
- Pode parar aqui. A partir daqui
eu conheço o caminho. – pediu, Lara, ao motorista.
- Quer que eu fique aqui à sua
espera? – inquiriu ele.
- Sim. Eu não devo demorar. –
respondeu enquanto tirava uma moto da parte de trás da carrinha – Vou só dar
uma volta por aqui à procura de uma coisa.
Lara montou-se no motociclo e
acelerou em frente. Já fazia algum tempo que não conduzia, mas a agilidade
continuava a mesma. Ela estava no caminho certo. Ela lembrava-se perfeitamente
daquele lugar. Aqueles troncos, aquelas cascatas. Ela já tinha estado ali
antes.1 Ela conseguia encontrar a quadrilha de Letícia de novo.
Letícia tinha-se apresentado, da
última vez, como uma ladra. Mas mais do que isso, como uma conhecida. Ela tinha
conhecido o pai de Lara. Aliás, eles tinham tido uma relação. Ela era uma
daquelas mulheres mencionadas no diário de Ana. Uma amante. No ano passado
tinha contado a Lara como ela estava apaixonada por Richard. Como ela construiu
planos na sua cabeça. E como ela tinha sido abandonada quando ele se foi
embora. 1
O bando dela tinha raptado um
amigo de Lara justamente por conhecerem a família Croft. Por conhecerem o
dinheiro deles. Por saberem que poderiam ganhar muito dinheiro com um resgate. 1
Lara estava a chegar ao lugar
onde o gang se reunia. Pelo menos, onde se reuniam da última vez. Já se
começavam a ver algumas construções, mas nenhum sinal de humanos. Foi aí que
começaram os tiros. Ela estava a ser atacada.
- Não façam isso! Parem! Eu vim
em paz! – gritava ela, enquanto se tentava esquivar com a moto.
Os tiros atingiram os pneus e o
veículo começou a arrastar-se no chão. Lara saltou e levou as mãos ao ar, como
sinal de calma.
- Quem és tu? O que queres? –
gritou um, do cimo de uma construção.
- Esperem. Eu já a vi antes. –
disse outro.
- Sim, nós já nos vimos. –
concordou Lara – Vim aqui porque preciso de falar com a Letícia. Ela
conhece-me. Não vim como uma ameaça, nem estou armada.
- Vai-te embora. A Letícia não
está. – informaram.
- Não está? Mas… Quando é que ela
volta? Vim aqui de propósito para…
- Ela não vai voltar. –
interrompeu.
- Ela abandonou-nos. Traiu-nos! –
continuou outro deles – Agora sai daqui antes que acabemos contigo!
- O que aconteceu? Onde ela está?
– insistiu Lara.
- E porque é que nós haveríamos
de te ajudar? – aproximou-se um, sorrindo.
- Porque vocês são ladrões. –
acenou ela, com um maço de notas na mão – E gostam de dinheiro.
- Vejo que já estamos a conversar
como deve ser. – disse, tentando tirar o dinheiro da mão de Lara.
- Primeiro as informações. –
desviou-se ela.
- Muito bem. A Letícia recebeu
uma proposta que, aparentemente, era bem melhor do que continuar na rua como
uma ladra. – informou - Ela juntou-se a um grupo qualquer. Uma organização. Não
me lembro do nome, mas acho que era…
- Trindade. – interrompeu ela.
- Sim! – gritou – Isso mesmo!
Como sabes?
- E onde ela está agora? –
franziu, Lara, a sobrancelha.
- Ela disse algo sobre ter uma
missão qualquer no Peru. Antes de se ir embora estava sempre a esfregar na
nossa cara a vida melhor que estava prestes a ter.
- No Peru. Mas o que é que… Em
que lugar do Peru?
- Não sabemos. A missão era
secreta. Aliás, a Trindade parece ser um grupo secreto.
- Mas porque é que ela foi
convidada para lá? O que é que…
- Já te dissemos o que sabíamos.
– interromperam – Agora o dinheiro.
Lara atirou-lhes o prometido e
virou costas. Nesse instante um dos homens agarrou-a por trás e tentou
sufoca-la.
- Aposto que tens aí mais
dinheiro! – ria outro homem, enquanto a apalpava.
Esse levou um pontapé, o outro
uma cotovelada. Tirou uma faca do bolso traseiro e atirou-a à garganta de um
que vinha a correr com uma pistola.
1 Referência à
HQ #16 (Dark Horse)
CAPÍTULO
4 – A aventura começa
Arrancou a arma da mão dele e
começou o tiroteio. Ela abrigou-se atrás de umas ruínas e começou a eliminá-los
um a um. Quando estavam todos abatidos, Lara tomou a liberdade de dar uma vista
de olhos nas construções onde eles moravam.
Haviam, de certeza, pistas sobre
a nova agente da Trindade, Letícia. Ela não podia ter abandonado a quadrilha e
levado tudo consigo. Tinha que ter deixado alguma coisa para trás. Aquele lugar
era como um mini bairro. Haviam várias construções, que serviam como casas. A
mais alta seria, certamente, da líder.
Lá dentro estava praticamente
tudo vazio. Havia bastante lixo, mas algo chamava a atenção no meio de tanta
desarrumação. Havia uma mesa, bem velha, com um papel lá. Era uma carta da
Trindade.
“Cara agente,
Foi selecionada para uma missão
secreta na próxima semana, nas montanhas de Hayu Marca, no Peru.
Na segunda de manhã um
helicóptero vai estar pronto para levá-la até à sua primeira missão. Leve tudo
o que precisar, não vai voltar ao México. Vai, como combinado, viver com outros
agentes com todo o luxo a que tem direito. Boa sorte.
O diretor.”
- Isto parece recente – pensava
Lara – Ela ainda deve estar lá! Então ela é nova na Trindade. Só entrou depois
do que aconteceu na Sibéria? Eu preciso de encontrá-la.
- Demorou mais do que eu estava à
espera. – disse o motorista, ao vê-la regressar – Onde está a moto?
- Bem, a moto não está... Aqui
tem dinheiro suficiente para comprar outra. – ofereceu – Agora leve-me ao
aeroporto de novo, por favor.
De volta à mansão, Lara contou
tudo o que descobriu a Jonah e, quando ele achava que ela ia finalmente parar
um pouco e descansar, ela começou a preparar tudo para uma viagem ao Peru.
Desta vez ela ia mais preparada. Armada. Ia encontrar, seguramente, vários
agentes da Trindade.
Chegou lá ao fim da tarde. Uma
guia turística, Anaya, esperava-a perto do aeroporto.
- Ouça, eu sei que deve ter um
programa turístico qualquer, mas eu preciso urgentemente de chegar às montanhas
de Hayu Marca. – explicou Lara.
- O quê? Mas isso é muito longe,
senhora. – surpreendeu-se a mulher.
- Nós podemos abastecer várias
vezes pelo caminho – sugeriu, tirando um maço de notas do bolso.
- E essas armas são para quê? –
perguntou – Não tínhamos combinado nada disto. Não gosto de…
- Como já disse, é uma situação
urgente. Devíamos pôr-nos a caminho. – insistiu, tirando outro maço de notas do
bolso.
Anaya acabou por aceitar e várias
horas depois já estavam a chegar ao destino. Era de madrugada. Subiram a
montanha e o jipe parou pela primeira vez em quilómetros. Não havia ninguém à
vista. Lara saiu do carro e mirou à sua volta. Não conseguia ver ninguém.
Nenhum sinal da Trindade. No entanto, ela estava lá.
- Apanhem-na. – sussurrou uma voz
feminina, que espreitava bem de longe.
Surgiu, então, uma bomba de fumo
que soltou um gás perturbador. Tudo começou a girar. Tudo começou a ficar
escuro. Tudo se apagou.
CAPÍTULO 5 – Não correu bem
Lara acordou sentada numa cadeira
com as mãos presas. Na sua frente estava ela. Ali mesmo. Letícia. Estava bem
diferente desde a última vez que se tinham visto.1 Estava
maquilhada, com roupa nova. Toda equipada e armada. O seu cabelo negro e
rebelde estava agora liso. Ela tinha realmente subido na vida. Passou de ladra
de rua a agente da Trindade. Mas Lara ainda não podia vê-la. Para além das mãos
amarradas ela tinha um saco na cabeça.
-Não mudaste nada desde a última
vez que nos vimos, Lara.1
- Letícia? Eu…
- Nada mesmo. – interrompeu.
- Não me lembrava de ti tão
engraçada. – continuou Lara – Se não me vais tirar este saco da cabeça falo
contigo assim mesmo. A Ana…
- O que é que tem a Ana? –
gritou, puxando o saco bruscamente.
- Tu estás… diferente. – surpreendeu-se
ao vê-la.
- O que é que vieste aqui fazer?
– sentou-se numa cadeira em frente.
- Eu só vim procurar respostas,
Letícia. Não vim com guerra declarada. – explicou.
- Queres respostas? Muito bem.
Começa com as perguntas.
- Porque é que entraste para a Trindade?
- Porque me convidaram.
- Porque é que te convidaram?
- Porque eu conheço bem os Croft.
- E porque é que eles precisam de
um agente que conheça bem os Croft? – continuou Lara.
- Porque a tua família sempre foi
e ainda é um obstáculo para eles. Aliás, um obstáculo para nós.
- A missão em que estás tem
alguma coisa a ver com a minha família?
- Estou cansada de responder. –
levantou-se Letícia – Agora vamos fazer ao contrário. O que é que estavas a
dizer sobre a Ana?
- Já deves saber que ela está
morta.
- Sim, eu sei. – sorriu.
- As últimas palavras dela foram
“As serpentes que caminham”. O nome do teu grupo de ladrões. – explicou ela.
- E tu vieste aqui para descobrir
o que ela quis dizer, não foi? – adivinhou Letícia.
- Isso.
- Lamento, não te sei ajudar.
- Se ela te disse aquilo é porque
te conhecia!
- Sim, nós conhecíamo-nos. Não
sei se já percebeste, mas a Trindade tem estado sempre a vigiar-te. A observar
cada passo teu. Quando estiveste no México o ano passado eles souberam.1 Eles
sabem tudo. Desde essa altura que estava pronta para me juntar à Trindade.
Vieram aqui e quiseram-me na equipa deles. Não pensei duas vezes. Treinei o meu
corpo, a minha mente. E aqui estou hoje.
- E a Ana… - insistiu Lara.
- A Ana já estava na Trindade
desde essa altura. – continuou – Na verdade, ela já lá estava há anos. Ela
comportava-se como se mandasse em todos. Ela e o irmão. Mas na verdade eu
mandava tanto quanto ela. E quando a conheci não hesitei em atirar-lhe à cara o
facto de me ter envolvido com o marido dela. Por isso sempre nos odiámos. Pelo
teu pai.
- E porque é que a Ana me falou
de ti antes de morrer?
- É muito simples, Lara. Ela quis
que tu me encontrasses para te vingares de mim. Por eu ter sido uma amante do
Richard. Por eu sempre ter sido uma inimiga dela na Trindade. Por eu ser uma
inimiga tua também. É como se ela quisesse dizer “Eu morri, mas a Letícia não
se vai ficar a rir”.
- Isso não faz sentido. E esta
missão no Peru? É o quê? – irritou-se Lara.
- Lara, caso não tenhas percebido
a Trindade é uma organização secreta. Esta é uma missão secreta. Nem devias
saber que estamos aqui. Como descobriste?
- Fui até ao México à tua
procura. Encontrei lá uma carta da Trindade. – respondeu ela.
- Só há uma maneira de saberes o
que estamos aqui a fazer. – continuou Letícia - Junta-te a nós. Junta-te à
Trindade. Eles sempre te quiseram do lado deles. E tu sempre foste idiota ao
ponto de nunca aceitar.
- Eu... A… Eu aceito.
1 Referência à
HQ #16 (Dark Horse)
CAPÍTULO 6 – Chamada com o diretor
- Aceitas? – surpreendeu-se
Letícia.
- Eu quero entrar para a
Trindade, Letícia.
- Se estás a fazer isto só para
eu te soltar…
- Não estou. – interrompeu – Eu
quero ser agente da Trindade. O que eu tenho que fazer?
- Tens de… Eu tenho de falar com
o diretor. – explicou ela.
- E quem é esse diretor?
- Vais descobrir se mereceres.
- Onde está a Anaya? – perguntou
Lara.
- Aquela que estava contigo ao
lado do jipe? Deixámo-la ir embora. Não nos serviu para nada. – explicou.
Letícia chamou dois agentes que
ficaram de olho na Lara enquanto ela contactava o diretor da Trindade.
- Eu conheço-te de algum lado. –
afirmou Lara ao olhar para um deles.
- Pensa mais um pouco. Aposto que
te consegues lembrar. – sorriu ele, pendurando uma caneta no bolso da camisa.
- O enfermeiro! Mas o que é que…
- Muito bem!
- Mas o que é que um agente da
Trindade fazia como enfermeiro num… Espera… Eu conheço-te! Tu entraste na
mansão e roubaste o livro.1 Eras tu! Tu…
- Eu matei a Ana. Fui eu que lhe dei
o tiro na Sibéria. Disparei e vi-a cair no chão. Morta, achava eu. Mas depois
vi um helicóptero de urgência e segui-o no helicóptero da Trindade. Ela tinha
sobrevivido ao tiro, então acabei o serviço no hospital. Vesti-me de enfermeiro
e injetei uma droga no soro dela. Prazer, o meu nome é
- Mas porquê? O que é que…
- Porque é que achas que fazemos
as coisas aqui na Trindade, Lara? – interrompeu ele – Porque o diretor manda. Ele
mandou e eu fiz. É assim que funciona. Foi sempre assim. É simples.
- Prepara-te. Vais falar com o
diretor. – entrou, Letícia, pela sala dentro.
Letícia preparou tudo para uma
chamada de vídeo entre Lara e o diretor da Trindade. A hora tinha chegado.
Pousaram um Tablet em frente a Lara e a chamada iniciou-se. Via-se uma mesa e
uma cadeira com alguém sentado. Essa cadeira estava de costas para a câmara.
Não se conseguia ver a identidade do diretor.
- Olá, Lara. Ouvi dizer que
queres juntar-te a nós. Juntar-te à Trindade. – saudou ele.
- Eu… Eu não o conheço? Essa voz…
- Não me respondeste. – insistiu.
- Sim, eu quero entrar para a
Trindade. Mas… – confirmou ela.
- E és capaz de me explicar o
porquê? Depois de tudo? – continuou.
- Porque eu… Eu quero ter um
propósito na minha vida. – explicava - Eu… Acho que fiquei obcecada em
desvendar os mistérios do mundo. E a Trindade é o lugar perfeito para mim. Posso
fazer isso, mas com todas as condições. Eu…
- Ou será que só queres ter mais
informações sobre nós? Será que estou a falar com uma futura infiltrada? Quais
são as tuas reais intensões? Porque confiaríamos em ti? – duvidou o diretor.
- Não. As minhas intensões são
claras. Quero tornar-me uma agente da Trindade. E acho que tenho o que é
preciso.
- Estás disposta a passar por um
pequeno teste? Um teste que prove que estás do nosso lado.
- Sim. Eu faço. Qualquer teste.
Qualquer coisa. O que for preciso. Eu faço. – concordou ela.
- Ótimo. Falamos muito em breve,
nesse caso.
1 Referência a
Rise of the Tomb Raider
CAPÍTULO 7 – O teste
Poucas horas depois Lara foi
levada para um escritório da Trindade montado no Peru, bem perto da montanha.
Ela estava prestes a enfrentar um teste para poder entrar na organização.
- Disseste que fazias qualquer
coisa, certo? – perguntou Letícia.
- Sim. – respondeu – O que for
preciso.
- Muito bem. Nesse caso boa
sorte. – desejou, abrindo uma porta que as levaria ao teste.
Lara entrou e viu algo que lhe
causou arrepios. Sam estava ali. Presa a uma cadeira, a chorar. Ao seu lado
estava um agente com uma espessa estaca de madeira na mão.
- Ela é toda tua. – disse ele,
atirando a estaca para Lara.
- SAM? – gritou Lara – Como é
que… O que é que…
- Soltem-me seus filhos da puta!
Soltem-me! – esperneava Sam.
- Talvez eu possa explicar o que
se está a passar aqui, Lara. – aproximou-se Letícia.
- Estou à espera.
- Bem, resumindo: A Sam saiu da
cadeia1 e juntou-se à Trindade. – contou ela.
- Ela… O QUÊ? Ela é uma de vocês?
- Sim. Pelo menos era até agora.
Quando ela saiu da prisão1 estava com tanta raiva de ti que a
Trindade teve de se aproveitar. Mais uma pessoa próxima da família Croft na
nossa equipa. Foi o plano perfeito! – ria-se Letícia - Ela viveu contigo, ela
sabia tudo sobre ti… Mas agora a própria Lara Croft quer juntar-se a nós. Já
não precisamos desta japonesa irritante. Agora ela vai servir apenas como um
teste.
- Sam, isto é verdade? –
perguntou, segurando as lágrimas.
- Lara, eu…
- É VERDADE OU NÃO? –
interrompeu.
- É.
- Como é que pudeste? Como??
- Deixa-me explicar. – pediu Sam
– Quando eu fui presa tu não quiseste saber de mim. Não acreditavas que eu
estivesse inocente. Não pagaste a fiança. Nunca me foste visitar. Tu…
- Sam, tu não estavas bem. Não
estavas normal. Eu não paguei a fiança porque não tinha dinheiro, tu sabes. Eu
fui visitar-te uma vez. E tu disseste que nunca mais me querias ver. Além disso
os teus médicos não gostavam de visitas… – explicou Lara.
- Tu prometeste que ias arranjar
uma maneira de me tirar dali.1 Lembras-te? – continuou Sam -
Disseste que não me ias deixar. À primeira oportunidade foste viajar. Mais uma
aventura, não foi? E eu a apodrecer na prisão. A Trindade ajudou-me. Tiraram-me
dali. Em troca só tive de me juntar a eles.
- Não quero ouvir mais nada…
Afinal o que eu tenho que fazer neste teste? – perguntou, levantando a estaca
do chão.
- Usar essa madeira e espancá-la
até à morte. – respondeu um dos agentes.
- Eu… Eu… - gaguejava Lara – Eu…
Vai ser fácil.
Letícia voltou a pousar o Tablet
numa mesa e iniciou uma chamada de vídeo com o diretor. Desta vez ele estava
com a câmara desligada. Ele ia assistir ao teste.
- Desculpa. – sussurrou Lara ao
erguer a arma.
A primeira bofetada foi a que
custou mais. As lágrimas caiam dos olhos de Lara e o sangue saía do nariz e da
boca de Sam. Uma atrás da outra. Lara não parava. Cada vez lhe batia com mais
força. Ao sangue e lágrimas juntaram-se gritos de raiva (Lara) e dor (Sam).
1 Referência à
HQ #18 (Dark Horse)
CAPÍTULO 8 – Estou na Trindade
- Chega. – mandou o diretor.
Lara travou imediatamente, ainda
com a estaca de madeira levantada.
- Ela passou no teste. Ela está
do nosso lado. Posso ver a raiva dela nos olhos. – continuou ele. – Preparem
uma reunião. Ela vai entrar na missão no Peru.
A chamada foi desligada.
- Nunca mais me apareças à
frente. – pediu Lara, limpando as lágrimas, enquanto Sam era levada dali por
dois agentes.
- Ias mesmo matá-la? – perguntou
Letícia ao ficarem sozinhas.
- Eu… Não sei.
- Parecias estar a bater-lhe com
vontade.
- Talvez estivesse. Não acredito
que ela se juntou à Trindade.
- E tu também acabaste de te
juntar, lembras-te?
- Sim. Diz-me, Letícia. Há quanto
tempo é que estás na Trindade?
- Como te disse, desde que
estiveste no México o ano passado1 que eu fui convidada. Andei por
aí com eles a ver como tudo funcionava. Estive meses a observar tudo. Sei muita
coisa. Mas esta é a minha primeira missão. Foi só agora que abandonei o México
definitivamente. – explicou.
- E a Ana? Porque é que a
mataram? Ela pertencia à Trindade. E eu já soube que foi o diretor que a mandou
matar. – continuou Lara.
- Talvez eu tenha ajudado um
pouco. Eu estava sempre a fazer queixa dela. Sim, talvez fossem ciúmes do teu
pai. Mas eu odiava-a. Aliás, nós odiávamo-nos. Quando soube que ela tinha
traído a Trindade fiz questão de me mostrar indignadíssima na frente do
diretor. Mas ela seria castigada de qualquer forma. – contou.
- Mas ela traiu-vos como?
- Nós tínhamos um objetivo em
comum. Todos nós. Descobrir a verdade sobre a imortalidade. Guardar esse
segredo connosco e usá-lo no que fosse necessário. Dominar o mundo. Mas ela
usou a fonte divina para proveito próprio. Ela e o irmão. Ela quis ser imortal
porque estava às portas da morte. E o irmão, Konstantin, queria ser líder de um
exército imortal.
- Ela nunca aceitou aquela
doença. Sempre a vi revoltada por causa daquele cancro de fígado. Mas nunca imaginei
que ela fosse capaz de fazer o que fez. – desabafou Lara.
- Eles sempre enganaram a
Trindade. – continuou Letícia – A Ana foi recrutada há muito tempo.
Aproximou-se do teu pai por interesse desde o início. Conheceram-se numa
conferência onde ele tinha sido humilhado.2 Ele era sempre
humilhado, em todo o lado. E a Ana aproveitou-se disso. Fez-se de amiga.
Fingiu-se de interessada nas histórias dele… E ela usou as marcas na mão do
irmão para fazer o diretor acreditar que ele era o escolhido de Deus. Foi assim
que arrastou o irmão para a Trindade também.2 Até hoje me pergunto o
que seriam aquelas marcas na realidade.
- De uma forma ou de outra, a Ana
fez o meu pai feliz. Eu não podia odiá-la por isso. E eu sei o que eram aquelas
marcas. – afirmou Lara – A Ana fez-lhe aquelas feridas quando eram crianças.
Ela diz, no seu diário, que o salvou dessa maneira. Que lhe deu um propósito na
vida. Eu acho que ela sempre foi louca. E com a doença ficou pior.
- Então foi isso! Ela é que lhe
fez aquelas marcas! – surpreendeu-se - E usou isso para entrarem os dois para a
Trindade. Ela nunca me enganou. Eu não presto, mas ela é bem pior. Ela foi bem
pior…
- E esta missão no Peru? É o quê?
– mudou, Lara, de assunto.
- Vamos ter hoje uma reunião
sobre isso. Vais descobrir. Mas duvido que gostes da ideia.
- Porquê?
- Não te posso dizer nada. Depois
vais ver. Agora tenta descansar. Serei uma amiga aqui. Mas só enquanto tu fores
também. – informou Letícia.
- Vou tentar esquecer quem tu és.
Quem tu foste. O que fizeste. Agora somos colegas. – sorriu.
Lara desmanchou o sorriso assim
que Letícia abandonou o lugar. Lara correu para o telemóvel e contactou Jonah.
Ele tinha que saber o que se estava a passar. O que tinha acontecido. O que ela
tinha feito.
1 Referência à
HQ #16 (Dark Horse)
2 Referência aos
documentos de Rise of the Tomb Raider
CAPÍTULO 9 – Telefonema difícil
- Jonah, preciso de te contar uma
coisa. – começou ela, quando atenderam a chamada.
- Lara? Estiveste a chorar? O que
se passa? – perguntou, confuso.
- Eu não sei como te dizer isto
mas… Eu… Eu entrei para a Trindade. – contou.
- Tu o quê? Não brinques. O que
se passa?
- Não estou a brincar, Jonah. –
chorava – Só te peço que confies em mim, por favor! Eu tinha que te contar
isto. Entrei para a Trindade.
- Mas o que é que…
- Ainda não acabei. –
interrompeu, soluçando – Para entrar, eu tive de fazer um teste e eu…
- Lara, tu estás bem?
- Eles trouxeram a Sam. Ela
estava com eles, Jonah. A Sam estava com a Trindade. Eles meteram-na aqui em
poucas horas. Eles fazem tudo tão rápido… Eu nem pude…
- A Sam? Lara, tu…
- Eu tive de fazer o teste,
Jonah. Eu tive de espancar a Sam. Eu quase a matei, Jonah! – gritava ela,
inundada em lágrimas.
- Lara, o que é que estás a
dizer? – gritava Jonah do outro lado – Tu não estás bem. Não estás a dizer
coisa com coisa. Tu…
- Jonah, só quero que confies em
mim. E que me desculpes por qualquer coisa.
- Chega. Isto não é normal. Quando
é que voltas a Londres? Vou ligar ao psicólogo. Tu precisas de falar com ele de
novo. – afirmou – Eu sabia que não estavas pronta para mais emoções. Ele
dizia-te o mesmo, eu…
- Não, Jonah! Não… Eu não estou
louca, se é o que estás a pensar! Por favor não faças nada. Por favor… Eu tenho
que desligar, adoro-te. E desculpa.
- Lara, não…
Ela desligou o telemóvel e caiu
de joelhos ao chão, com a dor do que tinha feito a Sam. Com a dor de ter
entrado para a Trindade. As lágrimas pareciam não ter fim. Nesse instante
Letícia entrou:
- Vejo que não estás muito segura
do que fizeste.
- Eu estou! – levantou-se e
limpou as lágrimas – Mas não vou mentir. Custa-me mudar de lado tão rápido.
- Recompõe-te. A reunião vai
começar. – informou Letícia.
- Mas já? Eu pensei que pudesse
dormir um pouco antes de…
- Na Trindade não há tempo para
dormir. Vamos.
- Vocês montam uma sala de
reunião em qualquer país? Tão rápido?
- Salas de reunião, de
interrogatório, de sequestro… O que for preciso. – informou, enquanto andavam.
- Que eficazes. E quem vai
participar nesta reunião? – continuou Lara.
- Todos os agentes que estão
envolvidos nesta missão. Não te preocupes. Não são muitos.
- Estou a morrer de sono. Já
estamos a meio da tarde e ainda não dormi. – protestou Lara.
- Pensei que fosses mais forte do
que isso…
Entraram numa sala com uma grande
mesa, cheia de agentes. Seria de se esperar que, ao fundo, estivesse o diretor.
Mas não. Nem o Tablet do costume lá estava. Parecia uma reunião apenas entre
agentes. Na verdade, os agentes que já estavam na missão iam explicá-la à nova
colega, Lara Croft. Sentaram-se.
CAPÍTULO 10 – A reunião
- Então, quem vai começar a
falar? – perguntou um dos agentes.
- Acho que posso ser eu. A Lara
já me conhece. Pode sentir-se mais à vontade comigo. – ofereceu-se Letícia.
- Força. Nem sei porque estamos
aqui todos. Não bastava alguém explicar-lhe a missão? – disse outro.
- Se tens alguma reclamação fala
com o diretor. – sugeriu Letícia – Além disso, a Lara não é uma agente
qualquer. Ela tem tudo para ser a nossa melhor agente. Ela já derrotou vários
de nós. Com um simples arco e algumas flechas, não é verdade? Já para não dizer
que, na minha opinião, qualquer novo agente deve ser apresentado aos colegas de
missão.
- Parem com rodeios. Afinal o que
é esta missão e o que é suposto eu fazer? – irritou-se Lara.
- Lara, nós estamos aqui a
investigar uma lenda. – explicou Letícia – A lenda de Aramu Maru. Já ouviste
falar?
- Eu acho que…
- A lenda diz que, quando os
espanhóis invadiram o Peru e começaram a roubar o ouro e pedras preciosas das tribos
Incas, um sacerdote local, esse tal Aramu Maru, fugiu do seu templo com a ajuda
de um “disco dourado”. Bem, de alguma forma ele alcançou as montanhas de Hayu
Marca.
- Que é onde estamos agora. –
interrompeu.
- Exato. Diz-se que ele realizou
um ritual que fez com que “a porta se abrisse e dela saísse uma intensa luz
azul”. – continuou - Ele entrou e deixou o disco para trás. Nunca mais foi
visto.
- Uma porta? Como assim?
- Ia explicar-te isso agora. Seria ótimo se parasses de me interromper. Então…
O homem entrou na chamada “porta dos deuses”, bastante conhecida aqui na zona.
Ele acreditava que essa porta o levaria ao mundo dos deuses. É uma espécie de
cova no meio das rochas. Parece mesmo uma porta. Vê com os teus olhos. – pediu,
colocando uma fotografia em cima da mesa.
- Eu já vi isto antes! –
entusiasmou-se Lara - Quando aqui cheguei, antes de vos encontrar! Estava…
- Sim, Lara. Nós já a
encontramos. O problema não está aí. O problema está em abrir essa porta. Ainda
não descobrimos como o fazer. E tu sabes que as lendas são baseadas em alguma
versão da verdade.
- Aprendi isso da pior forma,
mas…
- Essa “porta” é demasiado antiga
para ter sido feita por humanos. E tem uma forma bastante invulgar para ser
natural, não achas? Há relatos da imprensa que dizem que arqueólogos, pesquisadores e
curiosos que visitaram o local, atraídos pelas lendas, disseram ter tido visões
de luzes, túneis e estrelas no interior das estruturas e alguns dizem ter
ouvido “uma estranha música”.
- Esses depoimentos não podem ser
levados a sério. – disse Lara.
- Nós concordamos contigo. Mas
não deixam de ser interessantes. – terminou Letícia.
- Muito bem. E vocês querem abrir
essa porta porquê? Só para terem o mistério desvendado?
- Essa é a melhor parte, Lara! –
sorriu Letícia – A Trindade acredita que essa porta não vai dar ao mundo dos deuses.
Essa porta pode servir para viajar no tempo. Fizemos várias pesquisas. Há quem
diga que pode entrar-se na porta a pensar numa data específica e que se viaja
para lá. Passado ou futuro.
- E a Trindade quer viajar no
tempo para quê? – insistiu Lara.
- Lemos que essa porta só
funciona uma vez a cada 500 anos. E só funciona de dia, por alguma razão. Acreditamos
que nunca ninguém a conseguiu abrir depois daquele sacerdote. – informou um
agente - Ou seja, só temos uma oportunidade. Tudo tem de correr como planeado.
Porque nenhum de nós vai viver 500 anos para fazer uma segunda tentativa.
- Mas vocês estão a falar do quê?
O que pretendem com isto? – confundiu-se.
- Mas não é óbvio, Lara? Nós
queremos abrir a porta dos deuses para voltar atrás no tempo e recuperar a
fonte divina. – ria-se Letícia.
CAPÍTULO 11 – Vamos a isso
- O quê?? – quase se engasgou.
- Lara, a Trindade passou anos à
procura da fonte divina. Não achavas que íamos desistir tão facilmente, pois
não? – continuou ela.
- Mas estão a pensar voltar no
tempo como? Para quando? – confundiu-se.
- Qualquer data antes de tu teres
partido a fonte serve, não achas? Até podemos voltar anos atrás e recuperar o
tempo perdido. Agora já sabemos onde a fonte sempre esteve. E se voltarmos
tempo suficiente tu serias apenas uma criança e nunca nos conseguirias impedir.
– explicou Letícia – Já agora, não estás a pensar partir a fonte de novo, pois
não?
- Desta vez eu estou do vosso
lado. Podemos voltar só umas 3 semanas atrás. – sugeriu Lara.
- Como te dissemos, só temos uma
oportunidade. Bem, a reunião acabou. Voltem às vossas funções. Vou explicar à
Lara o que ela deve fazer. – encerrou Letícia.
- Disseste que a Ana e o
Konstantin achavam que mandavam mas parece que estás a fazer o mesmo. –
sussurrou Lara.
- Bem, na verdade o diretor elege
alguns agentes como líderes de missão. A Ana e o Konstantin lideravam na
Sibéria. Eu tomei a liberdade de mandar um pouco aqui, já que ninguém elegeu
nenhum líder.
Lara e Letícia ficaram sozinhas
na sala de reuniões.
- Quando é que eu vou conhecer o
diretor? – perguntou Lara – Tive uma sensação estranhíssima quando ouvi a voz
dele. Como se…
- Conhecê-lo pessoalmente? –
interrompeu Letícia – Mais da metade de nós nunca o conheceu. Ele controla
tudo, mas bem longe daqui.
- Não tem de ser pessoalmente.
Quando é que eu vou poder ver a cara dele? Eu conheço aquela voz… Eu tenho a
certeza… Ele tentou disfarçar, mas…
- Isso eu não sei. Alguns de nós
nunca o vimos. Ele raramente sai de onde está. – explicou.
- E tu já o viste? – insistiu – E
onde ele está? E porque é que ele raramente sai de lá?
- És bastante curiosa, Lara. Bem,
como agora és uma de nós posso responder-te a tudo. Quase tudo. Sim, eu já o
vi. E ele está longe. Bem longe… Na sede da Trindade. Todos os caminhos vão dar
a Roma, Lara. Ele controla tudo a partir do Vaticano.2
- E como é que ele é? Ele…
- Acho que já são perguntas a
mais. – interrompeu Letícia – Vais ter resposta para tudo, quando chegar a hora
certa. Agora devíamos preocupar-nos com a missão, não achas?
- Essa missão… Passei por tanto
na Sibéria para impedir a Trindade de chegar à fonte divina… E agora estou
aqui, do lado deles, a tentar recuperá-la…
- Eu entendo o que estás a
sentir. É estranho. Bem, agora vou estudar e pesquisar mais sobre a lenda da
tal porta dos deuses. Eles querem mais arquivos, mais informações. Qualquer
detalhe pode ser uma grande pista. Tu devias fazer o mesmo.
- Vou fazer isso. Não me vão dar
um Tablet, um computador ou algo do género? – perguntou.
- Claro. Vem comigo, temos uma
sala de pesquisa aqui perto.
- Eu só queria dormir!
- Quando acabarmos isto vais ter
tempo.
Passaram algumas horas.
- Não aguento mais! – protestou
Lara.
- O que foi? – perguntou um
agente da secretária ao lado.
- Estou cansada de estar aqui
fechada a pesquisar. Cada site, cada livro, cada artigo. Cada um com uma versão
diferente da lenda… Nós temos a razão desta lenda aqui mesmo ao lado. Posso ir
dar uma vista de olhos a essa tal porta? Ou a minha função resume-se a ficar
aqui?
- Acho que não há problema. Mas
vai armada. – aconselhou.
- Armada porquê? O que é que…
- Digamos que os nativos não
estão muito contentes com a nossa presença aqui. Isto é quase sagrado para
eles. Já para não dizer que estamos a fazer interrogatórios por aí. E talvez
uma ou outra tortura.
- O quê? Não estás a pensar que
eu vou matar os nativos, pois não? Eu… Eu vou lá fora. – disse ela.
Lara agarrou no seu arco e numa
pistola e saiu do escritório. Ar puro lá fora. Começou a subir a montanha para
observar melhor a “porta dos deuses”. A Trindade estava a espalhar o pânico e o
terror nos arredores. Sequestros, interrogatórios, torturas, mortes… Tudo pela
mínima pista. Lara estava, por outro lado, prestes a dar o primeiro passo para
descobrir outro segredo do mundo.
2 Referência aos
documentos de Rise of the Tomb Raider
CAPÍTULO 12 – A chave dourada
Lá em cima havia alguns agentes
que inspecionavam o lugar. Lara meteu-se, discretamente, no meio deles e
aproximou-se da porta. Não teve qualquer visão ou alucinação, como alguns
depoimentos diziam.
- Então? Já descobriram alguma
coisa? – perguntou ela.
- Encontrámos um símbolo ali
atrás. Vem, eu mostro-te. – respondeu um deles.
- Isto é escrita Inca! – afirmou
ela ao ver os símbolos na pedra. - Pode ser uma pista! Já tentaram…
- Já interrogámos alguns nativos
sobre isto. Não parecem querer ajudar. – informou.
- Vou tentar uma coisa.
- Tentar o quê? – apareceu
Letícia.
- Letícia? Eu vou… Lembras-te da
guia turística que me trouxe aqui? Vou tentar que ela traduza este símbolo. –
explicou Lara.
- Muito bem. É bom ver-te a
querer ajudar.
Lara afastou-se um pouco. Ela
ainda tinha o contacto de Anaya, a guia turística. Iniciou uma chamada.
- Anaya? É a Lara. Quero pedir-te
desculpa pelo que aconteceu na montanha. Espero que estejas bem.
- Lara? Porque me ligaste? Não
quero ter nada a ver contigo! Tu metes-te com gente perigosa! Eu meti a minha
vida em risco! – exaltou-se ela.
- Não! Espera, não desligues! –
pediu Lara.
- Esse grupo que se instalou aí
está a assustar tudo e todos. Eles andam armados, ameaçam as pessoas. Já ouvi
histórias de pessoas que foram sequestradas, torturadas e até mortas! Por favor
finge que nunca me viste! – continuava.
- Espera! Eu sei como tirá-los
daqui de uma vez por todas. Mas preciso da tua ajuda.
- Tu estás com eles! Queres
informações como eles! És só mais uma!
- Não, eu não estou com eles! E
sim, quero informações. Mas não vou ameaçar nem torturar ninguém por isso. –
explicou Lara - Ouve-me! Eu sei como fazê-los ir embora. Só preciso que me
digas o que sabes sobre a “porta dos deuses”.
- Lara, essas montanhas não fazem
parte de nenhum dos meus programas turísticos. Lamento.
- Mas não precisam de fazer!
Qualquer pessoa daqui deve conhecer aquela lenda. Por favor diz-me que sabes
ler escrita Inca!
- Eu não moro aí, lembras-te?
Pagaste-me para te levar.
- Mas moras no Peru! Deves saber
ler algumas palavras em Inco, não? Ou pelo menos saber o que significam em
alguns monumentos. – insistiu.
- Sim, Lara. Eu sei. Diz lá o que
queres. Rápido. – pediu.
- O que está escrito perto da
“porta dos deuses” na pedra? – perguntou Lara.
- Ah, essa inscrição é famosa.
Significa “Chave Dourada”. É isso que está escrito. Ninguém sabe porquê. Agora
deixa-me em paz e tira essas pessoas daí!
- Chave dourada? Mas… Anaya?
Anaya??
- Então, conseguiste alguma
coisa? – apareceu Letícia, quando Lara desviou o telemóvel do ouvido.
- Letícia? Só me apareces de
surpresa. Ela… Não! Ela não… Ela não sabia nada sobre nenhum símbolo aqui nas
montanhas. E eu insisti bastante…
CAPÍTULO 13 - Devaneios
- Que pena.
- Deixa-me fazer-te uma pergunta.
Vocês não estipulam turnos ou horários? Estou cansada, quero dormir. –
protestou Lara.
- Realmente já não dormes há
bastante tempo. Ninguém consegue desvendar mistérios com sono, não é? Vai para
os dormitórios e dorme. É simples.
- Dormitórios? Vocês literalmente
instalam-se em todo o lado. – surpreendeu-se.
Lara não pensou duas vezes e desceu
a montanha, em direção aos dormitórios. Deitou-se num colchão e adormeceu quase
instantaneamente.
- Lara… - sussurraram.
- Lara, acorda…
Ela levantou-se. Já não estava
nos dormitórios da Trindade. Agora estava na mansão Croft. Ouviam-se vozes,
barulhos e ruídos estranhos.
- Lara… - chamavam.
O símbolo da Trindade aparecia
por toda a parte. Nas paredes, janelas, tetos, em todo o lado.
- Eu… Eu aceito. – ouvia-se.
- O que é que está a acontecer? –
confundia-se ela.
Ao caminhar pelos corredores da
mansão ela observava folhas a voar. Documentos e páginas do diário de Ana. As
janelas abriam e fechavam. As portas rangiam.
- Lara…
Um telefone começou a tocar.
Tocava de forma contínua e perturbante. Doía-lhe a cabeça. Tudo andava à roda.
- Tu não estás bem... bem… bem… –
ouviu-se.
- Vou ligar ao psicólogo. Tu
precisas de falar com ele de novo… novo… novo… - ecoava ao longe.
- Eu sabia… Não estavas pronta
para mais emoções… - continuava.
- Jonah?? – chamou ela.
- Pai??
- Algum dia… Tu vais entender… -
sussurrou outra voz.
- O que é que… Não… Eu… Eu tenho
de estar a…
- Tu prometeste que ias arranjar
uma maneira de me tirar dali - gritou outra.
- Disseste que não me ias deixar…
deixar… deixar…
- Sam?
- À primeira oportunidade foste
viajar. Mais uma aventura, não foi? Não foi??...
- A Trindade ajudou-me. Em troca
só tive de me juntar a eles… juntar a eles… juntar a eles… - ecoava.
De repente tudo ficou azul. Tudo brilhava.
Era a fonte divina. Ela estava por ali.
- Ana, não!!
- A Trindade ordenou a execução
dele... dele… dele…
- Tu matas-te o meu pai, não foi?
– ouviu-se.
- Lara? Só quero que saibas que
no pouco tempo em que estivemos juntas, eu amei-te. – disse a voz mais doce de
todas.1
- MÃE?? Não… Não pode ser… Eu…
- Foi pela morte da tua mãe que
eu comecei a pesquisar sobre a origem da vida… vida… vida…1
- Pai? Eu… O que é que…
- Amélia… - sussurraram.
Ouviu-se um barulho. A fonte
divina tinha-se partido. Lara tinha-a partido.
- Em todos os meus anos, eu
conheci poucas pessoas tão extraordinárias como tu… tu…
- Lembra-te de que o
extraordinário está no que fazemos, e não em quem somos…
- Quando estiveres pronta, abre
os teus olhos…2
- Disseste que os flashbacks pararam…2
- Nós tornamo-nos em quem devemos
ser… ser… ser…
Todas as vozes foram ficando mais
baixas, mais distantes. As paredes da mansão foram-se apagando e tudo foi
escurecendo. Lara acordou no meio de um pulo, completamente suada. Claro, um
sonho. Tinha que ser.
- Estavas aos gritos. – disse
Letícia, que a observava, de braços cruzados, no canto da cama.
- O que é que eu gritei? –
assustou-se Lara.
- Nada que te prejudique, por
enquanto.
- Que horas são? Quanto tempo eu
dormi? Eu…
- Dormiste o resto da tarde de
ontem e toda a noite. Agora é de manhã. Tens de voltar ao trabalho. – explicou
ela.
- Claro. Estou pronta. Só preciso
de um banho e…
- Não tenho boas notícias para
ti. Não temos como tomar banho aqui.
- Têm dormitórios, salas de
reunião, de interrogatório, escritórios e não têm uma simples casa de banho? –
surpreendeu-se.
- Estamos a demorar mais do que o
previsto aqui, Lara. Isto não deveria estar a demorar tanto. É por isso que
temos de voltar ao trabalho. Mas tenho uma boa notícia. Não vais ter de usar
essa roupa suja. Tens ali os uniformes da Trindade. – apontou Letícia. –
Despacha-te. Tens comida enlatada naquelas gavetas para o pequeno almoço. Mas
não abuses, tem que durar.
Já vestida, equipada e
alimentada, Lara voltou a subir a montanha, para continuar o trabalho do dia
anterior. Ao equipamento dado pela Trindade ela juntou o seu clássico arco e
machado.
1 Referência aos
documentos de Rise of the Tomb Raider
2 Referência trailer
de anúncio de Rise of the Tomb Raider (com o psicólogo)
CAPÍTULO 14 – O templo
- Alguma coisa está a falhar. –
desabafavam os agentes – Tem de nos estar a escapar algo nesta lenda…
- Eu estive a pensar numa coisa.
– chegou Lara – A única coisa que nos falta no meio de toda a lenda e que
aparece em todas as versões. O “disco dourado”.
- O disco? E tu chegaste a essa
conclusão como?
- Aqueles símbolos na pedra.
Significam “chave dourada”. O disco deve ser a chave da porta dos deuses. –
explicou Lara.
- Mas como é que…
- Os espanhóis levaram tudo na
invasão. O disco foi a única coisa que sobrou aos Incas porque ficou aqui nas
montanhas. O disco dourado passou a ser o seu único tesouro. Eu acredito que
eles o guardaram no templo do sacerdote para o proteger. – continuou ela.
- E onde fica esse templo? –
apareceu Letícia.
- Fiz umas pesquisas e encontrei
algo que se encaixa perfeitamente nas histórias. Um templo em Machu Picchu. Eu posso ir investigar. Só preciso de um
helicóptero e…
- Achas mesmo que vais sozinha?
Vou preparar uma equipa e um piloto para irem contigo. Espero que valha a pena.
É bom que esse disco esteja ali.
- Eu consigo fazer isto sozinha.
Eu… Eu estou habituada a trabalhar sozinha. – insistiu.
- Lara, a Trindade ainda não
confia em ti o suficiente. Lamento.
Pouco tempo depois Lara já estava
num helicóptero com destino a Machu Picchu. Fora o piloto, haviam mais dois
agentes da Trindade. Se encontrassem algo importante, tinham ordens para avisar
o resto dos agentes.
- Eu acho que é aquilo! – apontou
Lara ao ver um templo Inca.
Toda a vegetação à volta voava
com o pouso do helicóptero. O templo estava ali, grandioso, a aguardá-los. O
piloto ficou para trás. Lara e os dois agentes subiram a construção
completamente abismados com a sua beleza. Não havia ninguém nas redondezas. No
topo não encontraram nenhum tipo de entrada. Estava completamente selado.
- Ainda bem que trouxemos
explosivos. – sorriu um deles.
- O quê? Vamos rebentar com a
entrada? Mas…
- Alguma ideia melhor, Lara?
Montaram os explosivos e
afastaram-se. Abriu-se uma entrada. O templo estava, agora, instável, devido à
explosão. Quando entraram, pelo topo, foram surpreendidos por uma armadilha. O
chão abriu-se e os três caíram. Lara, no meio da queda, conseguiu lançar o seu
machado arpéu e salvar-se.
Olhou para baixo. Os “colegas”
estavam mortos. Era uma grande altura. Ela foi descendo devagar com a corda,
até que esta não podia esticar mais. Soltou o machado e caiu de uma altura
relativamente alta. Rebolou no impacto com o chão. Ali estava ela. No templo do
sacerdote. Havia um corredor na sua frente. Ali estava o disco dourado. Era
difícil acreditar que mais uma lenda no mundo era real.
- Daqui fala o diretor.
Encontraram o templo? – surgiu uma voz, via rádio.
O som vinha do cinto de um dos
agentes. Lara agarrou no rádio. Abriu a boca por um momento, mas teve outra
ideia. Pegou na mochila que eles traziam e vasculhou-a. Tirou de lá um Tablet. Estava
com a tela rachada, mas funcionava. Podia estar prestes a descobrir algo
importante.
- Está tudo bem? Está alguém aí?
Respondam! – chamava ele.
Quanto mais ouvia a voz do
diretor mais tinha a certeza de que o conhecia. Ligou o Tablet e, claro, ele
pediu a senha de acesso. Tinha de ser a mesma senha do computador que lhe
tinham dado para pesquisar. Só podia. Ela tentou. “Novo Mundo”.
- Algo está errado. Os rádios
devem estar estragados. – continuava o diretor.
O Tablet desbloqueou-se. Antes
que tivesse tempo para ver qualquer coisa, recebeu uma chamada de vídeo. Era o
diretor. Lara estava prestes a descobrir a sua identidade. Quem estava por trás
da Trindade. Desligou a sua câmara e atendeu a chamada.
- Finalmente. Então, como vai a
missão?
Lara ficou completamente
incubada. Estática. Impossível. Os seus olhos só podiam estar a traí-la. Como é
que podia ser ele? O diretor da Trindade? Durante todo este tempo?
- Porque é que não vos estou a
ver? Liguem a câmara! – ordenou ele – O que se passa?
CAPÍTULO 15 – Foi sempre ele
Foi sempre ele. Em Yamatai2,
na Síria, no México. Em todo o lado. Onde Lara estivesse. Nas consultas, nas
sessões. Era ele. O psicólogo. A pessoa com quem ela expôs os seus traumas. Com
quem ela desabafou. A pessoa a quem ela contou a vida toda. Uma pessoa que
tinha frequentado a sua casa. Uma pessoa que lhe tinha ajudado. Agora tudo
fazia sentido. Era assim que a Trindade tinha tantas informações da sua vida.
Isto explicava a origem das gravações que ela tinha encontrado na Sibéria.1
A origem dos comentários de Ana.1 Agora fazia sentido. Parecia
que todos à sua volta não passavam de infiltrados e pertenciam à Trindade.
Quantos amigos Lara realmente teve?
- Merda, o que se passa?
Respondam! – insistia ele.
Lara permaneceu em choque.
Calada. Não se mexeu até o diretor desligar a chamada. Como era possível? Mais
uma vez ela sentiu-se enganada. Usada. Sentimentos comuns nos últimos tempos.
No que se tinha tornado a sua vida depois do acidente no Japão?2
Todas aquelas terapias. Não
tinham sido verdadeiras consultas. Tinham sido entrevistas. Inquéritos. Com o
único objetivo de conhecer melhor a vida de Lara. Aliás, o psicólogo tinha-a
tentado influenciar várias vezes. A Ana acompanhou tudo de perto. Sempre
escondida. Eles tentaram afastar Lara de Jonah. Incentivaram-na a continuar as
pesquisas do pai. A levar a Trindade à fonte divina.1
Tentou recompor-se. Levantou-se e
olhou em frente. Mais nada podia separá-la daquele disco dourado que estava a
um corredor de distância. Deu meio passo e tudo tremeu. O corredor na sua
frente começou a apertar. As paredes estavam a juntar-se.
Lara correu o mais rápido que
conseguiu até ao disco. Agarrou-o. Era pesado. Maior do que ela imaginava. As
paredes estavam prestes a esmagá-la. E isso só não aconteceu por um segundo. Ou
por menos. Quase que os seus cabelos ficaram entre as paredes, de tanta sorte
que teve.
E ali estava ele. O disco. Havia
agora outro problema. Como sair dali? Lara estava praticamente enterrada
naquele templo. A única saída era a entrada que tinham rebentado no topo. O
machado arpéu nunca alcançaria aquela altura.
Lara não tinha outra alternativa.
Lançou uma granada para perto de uma pilastra e abrigou-se atrás de umas
ruínas. A explosão meteu o pilar abaixo e ela pôde escalá-lo. Viu, no meio de
tanto pó, uma fresta de luz. Uma parede mais fraca já se estava a rachar. O
templo estava prestes a ruir. Ela tinha de sair dali. Agarrou no seu machado e
começou a partir uma saída.
Quando tinha aberto uma passagem
suficientemente grande, atirou-se lá para fora e desceu as escadas que lhe
levavam para terra firme. Conseguia sentir o chão a tremer. A estrutura a cair
lá dentro.
Correu para o helicóptero e
explicou a morte dos dois agentes. Levantaram voo a caminho das montanhas, para
finalmente abrir a porta dos deuses, voltar no tempo e recuperar a fonte
divina. Pelo menos esse era o plano da Trindade.
1 Referência aos
documentos de Rise of the Tomb Raider
2 Referência ao
primeiro jogo (Tomb Raider 2013)
CAPÍTULO 16 – Saiam do meu caminho
Pousaram na base da montanha.
- É agora. – disse Lara,
aproximando-se da frente do helicóptero e olhando para fora.
- O quê? – perguntou o piloto.
Antes que pudesse dizer outra
palavra, Lara atravessou a sua faca na garganta dele.
- Porque é que a equipa enviada
para o templo não me responde? – gritava o diretor via rádio.
- Eles não te respondem porque
estão mortos! – gritou Lara para o rádio.
- Lara? Mas o que é que…
- Eu sei quem tu és! E vais pagar
por tudo! – avisou ela, atirando o rádio pela janela.
Olhou, depois, ameaçadoramente,
para o topo da montanha. Agarrou no seu arco e começou a subir. Lá em cima
haviam vários agentes a policiar o lugar. Lara estava determinada a eliminar
qualquer um entre ela e aquela porta.
Puxou uma flecha da aljava e
assassinou um deles. Antes que o colega ao lado pudesse perceber o que tinha
acontecido já tinha sido trespassado por outra seta. Um terceiro homem viu os
corpos e gritou por ajuda. Começaram todos a procurar um inimigo. Lara não
tinha qualquer tipo de esconderijo. Não iam demorar muito a encontra-la. Ela
não podia fingir-se de aliada. Era a única com um arco ali. E mesmo que
pudesse, ainda havia quatro agentes para matar. Não havia tempo para conversas.
Conseguiu surpreender um deles
por trás, abatendo-o com a faca. Foi nesse instante que os restantes a
localizaram. Começaram os tiros. Antes que o homem com a faca no pescoço caísse
no chão, Lara puxou-o e abrigou-se atrás dele. Tirou-lhe a arma do coldre e, agora com duas pistolas, conseguiu excluir outro deles. Ficou sem munição antes que conseguisse avançar
mais. Restavam 2.
Lara chutou o seu escudo,
guardando a faca ensanguentada, e correu na direção deles. Atirou o seu machado
arpéu a um, que foi puxado pela perna, servindo de rasteira ao outro, que caiu
no chão. Quando este se levantou levou com a faca no olho. O último deles não
durou muito. Uma machadada nas costas foi o seu fim.
Ofegante, começou a descer a
montanha para ir buscar o disco dourado, que tinha deixado no helicóptero.
- É isto que procuras? – sorriu
Letícia, subindo a montanha, com o disco nas mãos.
Lara apontou-lhe a pistola, ainda
que descarregada.
- O que são todos estes corpos,
Lara? Estiveram a brincar aos tiroteios? – continuou Letícia, irónica, ao
observar o topo da montanha.
- Dá-me esse disco! – gritou
Lara.
- Porquê? És só mais uma agente
da Trindade, não é? A única coisa que queres é o mesmo que todos nós, certo?
Recuperar a fonte divina. Ou será que o teu plano era outro?
- O meu plano era outro. O meu
plano é outro. E eu aposto que o teu também.
- É. Parece que ambas traímos a Trindade.
Mas temos um pequeno problema. Os nossos planos são diferentes. E o meu será o
único a ser posto em prática. – irritou-se Letícia.
- Diz-me, Letícia. Porque é que
queres voltar no tempo? O que é que…
- Eu? Quem disse que eu queria
voltar no tempo? Lara, eu estou melhor do que nunca. Agora vivo nas melhores
condições, quando não estou em campo, claro. E mesmo durante as missões eu vivo
melhor do que vivia no México, como ladra. Eu não quero usar a porta dos
deuses. Eu quero certificar-me de que ninguém a usa. – explicou – Para que
ninguém volte atrás no tempo. Porque se voltarem eu posso nunca ser convidada
para a Trindade. E isso não pode acontecer.
- Então o teu plano é…
- Destruir o disco. – interrompeu
– Sem ele ninguém consegue usar a porta.
- E vais destrui-lo como? Como
pensas fazê-lo sem que a Trindade perceba a tua traição?
- Tens razão. Deste-me uma ótima
ideia. Como é que eu não pensei nisto antes? Basta usar a porta. Posso voltar
no tempo para ontem. A porta só funciona uma vez a cada 500 anos. É brilhante!
– ria-se Letícia – E o melhor de tudo é que ninguém vai desconfiar de nada. Nem
tu te vais lembrar desta nossa conversa. Vão só tentar abrir a porta e, quando
não acontecer nada, vão achar que era só uma lenda falsa. É o plano perfeito!
Graças a ti.
- O que te faz acreditar que esta
não é mesmo só uma lenda falsa? – insistiu Lara.
- Um artefacto que concedia vida
eterna a todos os que olhassem para ele era real. Uma simples viagem no tempo
que só funciona uma vez a cada 500 anos não? Claro que a lenda é verdadeira. E
se não for, eu nem vou precisar de fazer nada. Vou continuar na Trindade. –
ria-se.
- Esse disco é meu! – gritou
Lara, correndo e agarrando no disco, apanhando Letícia desprevenida.
CAPÍTULO 17 – O meu plano
Estavam as duas a agarrar no
disco dourado, a chave para a porta dos deuses. Uma de cada lado. As duas
puxavam com toda a força. Lara inverteu o sentido da força que fazia e deu com
o artefacto na cara de Letícia. Esta caiu no chão e deu um tiro no braço de
Lara. Levantou-se e, quando estava prestes a alcançar o disco, Lara chutou-o
para longe e deu-lhe uma punhada lateral. Antes que se pudesse defender,
Letícia levou outro murro, desta vez no queixo. Sem ter tempo de cair ao chão,
ainda suportou um pontapé no estômago, que lhe dificultou a respiração.
Uma mão agarrou o disco. Porém
não era nem Letícia nem Lara. Essa mão levantou o disco e ouviu-se:
- É por isto que estão a lutar?
A outra mão segurava uma pistola,
apontada a Lara. Era ela. Sam. Ela estava ali. Ela tinha o disco. Estava tudo
nas mãos dela.
- Perdeste, Lara. A Sam nunca
chegou a sair da Trindade. – ria-se Letícia, maleficamente – Ela sempre esteve
connosco. Depois do teste não a mandamos embora. Ela só ficou… Guardada.
…
- Agora dá-me esse disco! –
esticou, Letícia, a mão, sorrindo sinistramente.
- Sim, eu ainda estou na
Trindade… Mas não quero mais. – disse Sam, mudando o alvo e puxando o gatilho.
Uma bala perfurou a testa de
Letícia. O sorriso desmanchou-se. A mão baixou. Os olhos reviraram-se e os
joelhos começaram a descer. Ela caiu morta no chão, no meio de uma poça de
sangue.
- Pensei que tivesse dito que
nunca mais te queria ver. – disse Lara, baixando a arma.
- Eu percebi o teu plano desde o
início. – sorriu Sam.
- E qual era o meu plano? –
duvidou.
- Entraste para a Trindade para
descobrires mais sobre o teu pai. Sobre a morte dele. Sobre a traição da Ana.
Sobre tudo. Acertei?
- Sim…
- Mas o teu plano mudou. –
continuou ela - Quando soubeste que a Trindade estava à procura de uma maneira
de viajar no tempo. Tu quiseste encontrar essa maneira primeiro. Tu queres
voltar no tempo para o dia em que o teu pai morreu. Para descobrires o que
realmente se passou. Acertei?
- Como é que eu hei de dizer que…
Sim.
- Apesar de tudo ainda te conheço
bem, Lara. – sorriu Sam.
- Não penses que eu fiz aquele
teste só pelo meu plano. Eu tive realmente vontade de te matar. E ainda tenho.
- Mata-me. O que temos a perder?
Eu vou ser deixada para morrer aqui no Peru. Tenho a certeza. Mata-me.
- Matar-te porquê? Vou voltar
atrás no tempo. Tudo o que eu fizer agora vai deixar de ter acontecido. –
explicou Lara.
- Diz-me, Lara. Tu só queres
mesmo ver o que aconteceu naquele dia? Ou pensas tentar mudar alguma coisa?
- Eu… Eu só quero respostas. Eu
não vou mudar nada. Só quero descobrir a verdade. Só isso. Tenho plena
consciência de que mudar o passado pode ter graves consequências no futuro.
Aliás, no presente.
- Acho que vais precisar disto. –
aproximou-se ela, esticando a mão com o disco dourado.
- Eu… Obrigado. – agarrou no disco.
- Então, como se abre esta porta?
– perguntou Sam.
- A lenda diz que a porta só
funciona de dia. Mas porquê? Só pode ter alguma coisa a ver com o sol. –
pensava, caminhando para a porta.
Lara posicionou o disco de forma
a que o sol se refletisse nele. Apontou, depois, o reflexo para a porta.
Começou a ouvir uma música. Uma música bastante baixa. A terra começou a
vibrar. O reflexo do sol ficou azul e a porta começou a ficar da mesma cor.
Vinha de lá uma intensa luz. Não se via nada no interior. Saía bastante fumo de
lá. Vinha também um cheiro. Era o perfume do pai dela. Ela tinha a certeza.
Nesse instante surgiram alguns
agentes da Trindade, que tinham ouvido tiros. Com as armas apontadas para Lara
e para Sam perguntaram o que tinha acontecido. Quem tinha morto todos aqueles
homens?
- Fui eu!! – acusou-se Sam,
levantando as mãos – Matei-os.
Não hesitaram em abatê-la.
- Desculpa. – sussurrou Lara.
- Pai? – ouviu-se, do interior da
porta, a voz da pequena Lara.
CAPÍTULO 18 – O dia em que o meu
pai morreu
Lara encarou os agentes e correu
para a porta, perdendo-se no meio do nevoeiro. Lá dentro não conseguia ver
nada. Olhou para trás e viu a porta dos deuses a fechar-se. Ela tentava pensar
no pai com toda a força. Só tinha uma oportunidade.
Continuou a andar em frente, mesmo
às cegas. Tudo começou a escurecer. O nevoeiro foi ficando negro. A música foi
desaparecendo. Começou a surgir um corredor. Um longo corredor. Ela estava na
mansão. No fundo do corredor estava a inconfundível porta do escritório de
Richard. O escritório do pai dela.
Lara, completamente arrepiada,
aproximou-se devagar. Quando esticou a mão para puxar a maçaneta, a porta
abriu-se sozinha. As duas portas, na verdade. Lá estava ele, no fundo da sala.
Sentado na cadeira de sempre. Na secretária de sempre. E na mesa estava o
jornal que o chamava de louco.
A porta atrás de Lara fechou-se.
As paredes mexiam-se. Como se fossem falsas ou visões. Estava escuro ali. Como
num filme de terror. Ele ergueu a cabeça. Olhou-a de cima a baixo. Levantou-se
e cerrou os olhos, como se não estivesse a ver bem.
- Quem és tu? – perguntou ele.
- Tu… Consegues ver-me? –
perguntou Lara, deixando escapar a primeira lágrima.
- Acho que sim. Mas… Lara? És tu?
– confundiu-se, aproximando-se.
- Não! Por favor não me toques. –
chorou – Finge que eu não estou aqui! Por favor continua a…
- Eu… Eu não posso estar a ver
bem. Como é que… Ana? – chamou ele – Podes vir aqui?
- Não! – pedia, Lara, lavada em
lágrimas – Não mudes nada, pai. Só… Continua o que estavas a fazer. Eu… Eu não
estou aqui… Eu…
- Não estás. Claro que… É claro
que não estás. – afastou-se ele.
…
- Claro que eu estou a ver
coisas. Este jornal tem razão. – irritou-se Richard, atirando o jornal na
direção de Lara.
- Não. Por favor para com isto. –
devolveu ela o jornal – Tu não podes mudar nada. Confia em mim, finge que eu
não estou aqui. Eu sou… Eu sou uma visão.
- Uma visão. – sorriu ele – E que
linda visão. Estás igualzinha à tua mãe, Lara. Como tu cresceste…
- Por favor, para com isso. –
limpava as lágrimas.
- Ao que tu chegaste, Richard. –
falava ele, sozinho – Ver a tua filha com 9 anos e adulta no mesmo dia.
Chegaste ao ponto de alucinar.
- Pai…
- Eles tinham razão. Todos eles!
Quando diziam que eu era maluco. Este jornal está certo. – atirou o jornal ao
chão.
- Não. Isso não é verdade! Para…
- Eu estou a falar com uma ilusão.
– sentou-se ele.
…
- Eu estou mesmo louco. – tirou,
de uma gaveta, uma pistola. – Eu sou mesmo louco.
- Pai? O que é que…
- Vamos ver se tu és real. –
apontou ele a arma para Lara.
- Não! Não faças isto. Por favor!
– afastou-se, assustada.
- Espera… Vamos ver se EU sou
real! – sorriu, mirando a pistola à sua cabeça.
- NÃO! NÃO PODES! NÃÃO!! –
gritava Lara.
O gatilho foi puxado. O som de um
tiro penetrou no coração de Lara. Ela fechou os olhos. Não queria ver. Não
podia ver. Impossível. Ela tinha morto o próprio pai.
- Pai? – ouviu-se, do lado de
fora, a voz da pequena Lara.
CAPÍTULO 19 – O final
Lara começou a hiperventilar e a
ficar tonta.
- Pai? Está tudo bem? –
continuava a pequena Lara.
As suas mãos começaram a
desaparecer. Quando a criança entrou na sala, a adulta já lá não estava. Lara
voltou a passar pelo mesmo corredor com nevoeiro e ao fundo estava, mais uma
vez, o escritório do pai. Ela entrou. Haviam papéis sobre a fonte divina por
todo o lado. Ela tinha voltado ao presente. Ou ao futuro… Ela tinha chegado da
aventura na Sibéria agora. Conseguia lembrar-se de tudo. Do Peru, da viagem no
tempo… Mas nem tudo estava igual.
Uma nova realidade tinha acabado
de ser criada. Uma realidade onde ela nunca procurou Letícia no México, onde
ela nunca entrou para a Trindade. Uma realidade onde Letícia e Sam ainda
estavam vivas. Onde o diretor da Trindade, o psicólogo, ainda se achava
secreto. Onde Sam estava do outro lado. Do lado deles. Ela estava na Trindade.
Os acontecimentos de Yamatai1
e da Sibéria2 tinham ocorrido praticamente da mesma maneira. Ana
estava morta. A Trindade estava neste momento no Peru, a procurar uma maneira
de recuperar a fonte divina. E essa maneira só poderia ser usada dali a 500
anos.
A diferença mais importante desta
nova realidade: ninguém matou o pai de Lara. Nesta nova realidade Richard
tinha-se suicidado por vê-la adulta. Por se achar louco. Nesta realidade não
havia nenhum assassino por aí. Na nova realidade ele tinha morrido por culpa de
Lara. Tinha-se tornado impossível descobrir o que realmente tinha acontecido
naquele dia. Porque aquele dia tinha sido alterado. O dia da morte do pai dela.
Já não havia nada para descobrir. A outra morte nunca tinha acontecido…
Ela não podia guardar este
segredo consigo. Precisava de Jonah. Combinaram encontrar-se na mansão. Lara
contou tudo. Via-se na cara dele que não estava a perceber nada. Mas pelo menos
ela tinha desabafado com alguém.
- Estás a dizer-me que o teu pai
se matou porque tu viajaste no tempo e que por isso já não podes descobrir quem
o matou na outra realidade porque criaste esta nova realidade onde ele se matou
porque…
- Sim, Jonah. Sim… É isso mesmo.
É confuso, mas tu percebeste. – limpava, Lara, as lágrimas.
- E a Sam está na Trindade. Não
consigo acreditar que… - continuou ele.
- Nem eu. – interrompeu – Ela… Jonah, neste momento ela é uma inimiga. Mas eu sei que ela ainda
está do meu lado. Eu vi nos olhos dela. Eu…
- Isto é tudo muito estranho,
Lara… O que é que…
- Sabes o que aprendi? Não posso
mudar o passado. Só o futuro. – explicou ela.
- E o diretor? Pensas fazer algo
com ele?
- Eu… Jonah… Nenhum jogo tem graça
sem uma equipa adversária. As aventuras precisam de perigo! E eu tenho a
vantagem de saber quem ele é sem ele sequer desconfiar.
1 Referência ao
primeiro jogo (Tomb Raider 2013)
2 Referência a
Rise of the Tomb Raider
FIM
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