Ele nem sempre é justo... Mas não falha! Uma pessoa
pode ser uma verdadeira santa toda a vida que, se fizer algo de mal, por uma
única vez que seja, vai ser perseguida pelo Karma, até que pague pelos seus
atos! Este é um Karma que ganha vida e que se veste de negro! Será falso? Desta
vez é Lara Croft quem precisará de ajuda! Desta vez não é ela a heroína que
salva o mundo! Todos os que a rodeiam vão sofrer muito, juntamente com
ela. Agora não há uma arqueóloga, agora não há uma mulher rica, agora não há
nada! Apenas um ser humano, que também erra...
► CAPITULO #1
“Querida Lara,
Cumpro sempre as minhas promessas. Prometi que te ia
contar tudo o que aconteceu naquele maldito naufrágio onde morreu o nosso amigo
Estêvão, mas só agora, 10 anos depois, é que me sinto preparado para falar do
assunto. Provavelmente já te esqueceste do que prometi, mas eu não. Lembro-me
de tudo como se tivesse acontecido ontem.
Eu estava na parte de cima do beliche a ouvir música com os meus auscultadores para não o incomodar, que estava na parte de baixo do beliche. Ele detestava o meu tipo de música. Estava somente a apreciar a sua moeda de ouro da sorte. Ele sempre foi muito ganancioso…
Foi tudo muito rápido! De repente iniciou-se uma enorme tempestade! A maior que eu já vi! Um raio partiu o navio onde estávamos ao meio e o grande tesouro que transportávamos afundou-se por completo.
A Tripulação estava toda no fundo do mar a tentar salvar-se, nadando para a superfície. Era de noite mas o tesouro brilhava tanto que conseguia ver quase tudo! Eu era o único com os olhos abertos. Só vi a moeda da sorte do Estêvão a cair, mesmo na minha frente. Caiu e caiu até que se juntou aos outros milhares de moedas de ouro que estavam lá no fundo…
Não me lembro de mais nada… Só me lembro de acordar no
hospital. No dia em que saí de lá tentei contactar todos os colegas que estavam
comigo no navio. Consegui falar com todos, excepto com o Estêvão.
Como sei que ele está morto, perguntas tu? Porque
todas as noites antes de adormecer, consigo ouvir o som dele a afogar-se, ainda
a tentar desenterrar-se do tesouro…
Um amigo.”
Um amigo.”
► CAPITULO #2
Uma carta. Tudo começou com uma carta deixada à porta
da mansão Croft.Winston, o mordomo, ao encontrar um envelope ligeiramente
molhado preso debaixo do portão, não hesitou em apanhá-lo e lê-lo.
- Não sei, já disse que não sei! – relembrava Lara
como reacção a todas as perguntas que lhe faziam.
- Como não sabes? – insistiu Zip.
- Não conheço nenhum Estêvão e não faço a mínima ideia
de quem me possa ter mandado esta carta! É um engano, só pode! – afirmou ela.
- Passaram 10 anos! É normal que a memória falhe! Se
ao menos a carta estivesse assinada… - suspirava Winston, sempre
preocupadíssimo com os assuntos de Lara.
Lara levantou-se do sofá e, machucando a carta com a
mão, concluiu:
- Não quero ouvir-vos falar mais neste assunto! Vou
descansar, são 3 da madrugada!
A arqueóloga, porém, não deitou fora o papel
machucado. Manteve-o na sua mão e subiu até ao quarto. Sentou-se na cama, abriu
a mão e pôs-se a olhar para o papel.
- Estêvão… - pensava.
Um relâmpago interrompeu os seus pensamentos. A chuva
fez-se ouvir e em pouco tempo as janelas ficaram embaciadas.Em noites de chuva
como aquelas, Lara adorava ficar debaixo dos cobertores a ler um bom livro.
Todavia, naquela noite ela tinha algo que lhe fazia esquecer por completo todos
os livros do mundo. A carta…
Lara tentou recompor a carta, dentro dos possíveis, e
voltou a lê-la. Leu-a vezes e vezes sem conta. Mal acabava de ler a última
palavra e já estava a ler o início de novo.
De repente ouviram-se umas pancadas! Ela assustou-se e
olhou rapidamente para a janela. Por uns instantes ainda conseguiu ver um vulto
com as duas mãos no vidro, mas este rapidamente desapareceu!
- O que é que se passa? – interrogava-se enquanto se
dirigia para a janela, abrindo-a.
Não viu nada! Apenas o seu enorme jardim. Nada de
estranho…
- Isto é impossível… O meu quarto fica cá em cima!
Como poderia haver alguém na janela? Não tenho varanda! –pensava.
Voltou a fechar a janela. Esteve aberta por pouco
tempo mas foi o suficiente para o quarto ficar gelado. Desfez a cama,
preparando para se deitar. Já deitada, não conseguia parar de pensar na carta e
no vulto, quando reparou que esta já não estava onde Lara a tinha deixado.
Olhou à sua volta e viu a carta num canto do quarto.
- Deve ter voado quando abri a janela. – achou ela,
levantando-se da cama.
Lara não tinha dado muitos passos, mas já notava algo
de diferente na carta. Um arrepio introduziu o que viu a seguir. A carta tinha
agora uma moeda de ouro molhada em cima!
► CAPITULO #3
As coisas estranhas não paravam de acontecer. Lara
pestanejou e a moeda já não estava lá, porém a folha estava molhada!
- Será tudo da minha imaginação? – interrogava-se ela
– O melhor é ir dormir! Acho que estou com alucinações de tanto sono.
Lara nem se atreveu a tocar na carta. Voltou a
deitar-se e adormeceu instantaneamente.
Naufrágios, cartas, moedas de ouro e navios
constituíram os seus pesadelos durante essa noite.
Na manhã seguinte Lara desceu e dirigiu-se para um
sítio diferente do normal. Noutro dia qualquer, ela levantar-se-ia e iria dar
um passeio pelo jardim. Naquele dia ela saiu da mansão com as chaves da mota na
mão, sem dirigir uma única palavra a ninguém.
- Bom dia, senhora! – saudou-a Winston, que regava as
plantas lá fora.
Lara não respondeu e seguiu em frente com passos
largos e rápidos. Winston começou a correr atrás dela, bombardeando-a com um
monte de perguntas.
- Não se preocupe, só preciso de tratar de uns
assuntos! – acalmou-o ela.
Na sua mota a alta velocidade, Lara consultava o seu
telemóvel mas, por algum motivo, guardou-o pouco tempo depois de o tirar do
bolso.
Chegou ao seu destino! Estacionou a mota em frente a
uma velha casa em Oxford.
- Espero que ainda viva aqui! Ou pelo menos, que ainda
esteja vivo! – desejou, suspirando.
Bateu à porta e ouviram-se uns passos estranhos, como
se alguém estivesse a arrastar a sua perna. Um homem cocho, com barba mal
feita, calções brancos e uma camisa preta que não lhe tapava metade da barriga
abriu a porta. Ele estava realmente a arrastar a perna.
- Lara!? – exclamou o homem.
Este desmaiou, batendo com a cabeça no passeio, que se
encheu de sangue. Era uma rua muito estreita e pouco movimentada.
- Não acredito nisto! – lamentou Lara enquanto tirava
o telemóvel do bolso para chamar uma ambulância.
A ajuda chegou e Lara foi para o hospital com o tal
homem, chamado Romão. Tinha assuntos importantes para falar com ele.
Passaram horas. Finalmente a arqueóloga teve notícias
da única pessoa que lhe podia ajudar. Os médicos disseram que Romão perdeu a
memória e que era possível nunca mais voltar a recupera-la.
- Posso falar com ele? – pediu ela.
- Pode, sim! Venha comigo. – sugeriu o médico.
Chegaram ao quarto onde Romão estava acamado. Lara
sentou-se numa cadeira perto da cama, tirou da sua mochila a tal carta e
mostrou-lhe!
- Isto diz-lhe alguma coisa? – perguntou.
- Nada. – respondeu.
- E o nome Estêvão? – continuou.
- Nada. – repetiu.
De volta à mansão, Zip e Winston repararam que Lara
não estava bem. Esta andava de um lado para o outro e falava muito sozinha,
pelo menos mais do que o normal. Winston também estava diferente. Parecia
assustado. Reuniu todos na sala de estar e afirmou pouco confiante, gaguejando:
- Eu… Eu acho que a casa está… assombrada!
No mesmo instante um grito de uma voz masculina e o
som de água a cair invadiram os ouvidos de Lara, Zip e de Winston, que ainda
ficou mais assustado.
► CAPITULO #4
Correram todos para o jardim, de onde vinham os
barulhos. Pararam todos à porta. Ninguém se atreveu a chegar mais perto do que
viram. O chão estava molhado. Como seria possível num dia de sol como aquele?
- Bem, da tempestade de ontem é que isto não é! –
afirmou Zip boquiaberto.
- Vêm? Está assombrada! – desesperava Winston.
Lara, sem nenhuma explicação para o sucedido,
respondeu:
- Calma! Não diga disparates. A casa não está
assombrada!
- Como explica isto? – insistiu Winston.
Lara não respondeu. Pestanejou algumas vezes na
esperança que o que via desaparecesse como na noite anterior.
- Estão a acontecer coisas muito estranhas! – informou
Zip.
Lara, como sabia que eles não tinham visto o vulto e a
moeda de ouro, perguntou:
- Winston, para além disto o que viu para dizer que a
casa está assombrada?
- Eu… Eu vi alguém passar pela janela do meu quarto.
Nem tive coragem de ir ver o que era. Também vi sombras, barulhos… Muita coisa!
– explicou ele.
- Hum… Alguém a passar na sua janela? Pois esse alguém
está a querer pregar-nos uma partida de muito mau gosto! – disse ela.
- Provavelmente é isso mesmo! – concordou Zip – Mas
olha, o que foste fazer hoje tão apressada?
Lara revirou os olhos e voltou a entrar na mansão,
desviando o assunto:
- Porque não arranjamos um plano para descobrir quem
anda a fazer isto?
- Não respondeu! – insistiu Winston.
- Fui só visitar um amigo. – mentiu ela.
- Que amigo? – questionou Zip.
- Bem, mas isto é o quê? Um interrogatório? Chega de
perguntas! – reclamou ela.
- Bem eu vou preparar o almoço! – terminou Winston.
O resto do dia correu normalmente. Mais ninguém tocou
no assunto. À noite, Lara saiu do banho e foi para o quarto, preparando-se para
dormir.
Chovia e trovejava como na noite anterior. Uma figura
sinistra rondava a mansão Croft. Vigiava as janelas. Estava apenas parada a
observar. Usava roupa preta, uma capa com capuz da mesma cor, umas luvas e umas
botas negras...A chuva, que teimava em cair, só amedrontava mais aquela imagem
no meio da trovoada!
► CAPITULO #5
Bateram à porta. Winston já estava deitado, porém
levantou-se para ver quem era. Um barulho ouviu-se no quarto de Zip que veio
ver o que se passava. Viu Winston caído junto à porta e mal teve tempo para ter
uma reacção, já tinha sido atacado por trás. Lara, lá em cima no seu quarto,
não ouviu nada. Já estava deitada. O quarto estava escuro.
Por entre o som de tanta chuva e trovoada, ouviu-se a
porta do quarto a abrir, rangendo. O corredor estava escuro. Lara não viu
ninguém entrar nem sair.
- Devo tê-la deixado aberta e agora está a mexer-se
com a corrente de ar. – pensava ela.
O som de uma jarra a cair no chão e a desfazer-se em
pedaços sobressaiu no meio de tanto barulho. Lara assustada, acendeu
imediatamente a luz do candeeiro e o seu queixo caiu com o que viu.
A tal figura sinistra estava à frente da sua cama com
uma enorme faca na mão. Lara rebolou da cama para o chão, tirando debaixo da
almofada a sua faca. Os dois com uma faca apontada um para o outro. A de Lara
era mais pequena, porém a sua agilidade era maior.
- Quem és tu? – perguntou.
- Alguém! – respondeu.
- Hum… Sê um homem e tira esse capuz! - ameaçou Lara,
que só conseguia ver o queixo barbudo daquela pessoa misteriosa.
Lara fez-lhe uma rasteira e o homem escondido caiu de
costas para cima. Lara preparava-se para lhe tirar um capuz quando este lhe deu
um pontapé. Lara caiu, agarrou na faca e tentou esfaquear aquela figura tão
misteriosa. Não lhe causou nenhum arranhão. Todavia a faca prendeu a capa do
homem ao chão, rasgando-lhe um pouco dos seus trajes.
O homem fugiu e Lara foi atrás dele. Pelo caminho
agarrou nas suas pistolas. Durante a descida das escadas Lara disparou várias
vezes. A sua pontaria nunca falha. Aquela pessoa levou 5 tiros nas costas. Nem
uma gota de sangue se viu. Ela não reagiu. Apenas correu, como se nada fosse.
Saiu da mansão, deixando a porta aberta. Lara ainda
conseguiu vê-la a trepar a vedação mas os seus olhos foram chamados para outro
lugar. Os seus amigos estavam os dois deitados no chão, inconscientes.
Zip foi o primeiro a acordar. Já não estava no chão,
estava agora deitado na sua cama, sozinho no quarto, já Winston, estava no seu
quarto, ainda inconsciente com Lara ao lado.
Pouco tempo depois estavam os três reunidos na sala.
Lara disse que foi um assalto e que tratou do assunto.
- Vou chamar a polícia! Temos de descobrir quem foi! –
Afirmou Winston.
Lara, erguendo uma sobrancelha discordou:
- Não! Eu vou tratar disto! Não vou esperar por
amanhã, vai ser já hoje! E só preciso de três coisas! De mim e de duas
pistolas!
► CAPITULO #6
- E o que vais fazer? – perguntou Zip ansioso.
- Vou vestir-me! – respondeu Lara virando-lhes as
costas.
Ao entrar no quarto Lara viu a sua faca espetada no
chão, prendendo uma parte rasgada da capa da tal figura misteriosa. Tirou a
faca e inspeccionou o bocado de tecido. Primeiramente cheirou-o. Lara conhecia
aquele cheiro mas não sabia de onde. Ao observar melhor viu uma etiqueta meio
descosida com o nome de uma loja.
- Eu sei onde isto fica! Mas a esta hora está fechada…
Vai mesmo ter que ficar para amanhã. – pensava ela.
Lara colocou as pistolas na gaveta do costume e
colocou a faca debaixo da almofada, preparando-se para dormir.
Estava quase a adormecer quando foi surpreendida pelas
batidas fortes de Winston na sua porta.
- Posso entrar, senhora? – pediu ele.
- Entre! – mandou Lara, enquanto se sentava na cama.
- Então? Disse que não ia deixar para amanhã! –
surpreendeu-se ele.
- Pois, mas vai mesmo ter que ser amanhã – explicou,
pegando na mochila que estava no chão, ao lado da cama – Vê este tecido? É do
ladrão! Está aqui a etiqueta da loja. Amanhã vou lá e pode ser que tenhamos
sorte!
- Como assim, sorte? – perguntou curioso.
- Sorte! Ele pode ter sido o único homem barbudo a
comprar uma capa como a que trazia. Mesmo que hajam vários homens parecidos a
comprar a mesma coisa, já é melhor do que não sabermos nada… Basta pedirmos as
gravações das câmaras de vigilância – sugeriu ela.
- Hum… Muito bem pensado, senhora! Até amanhã! –
despediu-se fechando a porta.
No dia seguinte, Lara desceu já com as chaves da mota
na mão, em direcção à porta. Mas algo a travou. Era Winston com o telefone na
mão.
- Bom dia, senhora Croft. Estão a ligar do hospital.
Dizem que têm notícias de um tal senhor Romão. Já disse mais de mil vezes que é
engano mas insistem que este é o contacto correto! – explicou.
- Eu trato disto! Pode ir! – ordenou ela, enquanto
agarrava no telefone.
Lara esperou que Winston saísse da sala e assim que
ficou sozinha, começou a conversa:
- Sim!? Bom dia!
- Bom dia, fala o Doutor Marco Andrade! Estou a falar
com? – saudou.
- Lara Croft! – identificou-se.
- Ah, sim! Temos péssimas notícias acerca do seu amigo
Romão e este é o único contacto que temos associado a ele. – explicou.
- Diga! – pediu ela.
- O senhor foi… Bem… Não sei como isto aconteceu mas…
O senhor Romão faleceu! Dizem que viram alguém suspeito entrar no quarto!
Alguém todo vestido de negro e com uma capa! Resta-nos esperar pela autópsia! –
informou o médico.
Lara ainda mal tinha tido tempo para reagir, quando
ouviu um pequeno ruido mesmo atrás de si. Virou-se e lá estava ela! A mesma
figura sinistra da noite passada! Igual, mas, desta vez, com um pedaço de capa
rasgado. Agora não tinha nenhuma faca na mão. O capuz já não lhe tapava todo o
rosto, porém este trazia uma máscara de mergulho embaciada e suja na
cara.
► CAPITULO #7
Zip e Winston, na cozinha, ouviram um barulho e
correram para a sala. Lara estava completamente paralisada frente a frente com
a figura sinistra. O telefone estava caído no chão, ainda com a chamada activa.
- Estou sim? – chamava o médico pelo telefone – Está
aí alguém?
A respiração daquele homem misterioso ouvia-se alto
devido à máscara de mergulho. Este adereço impossibilitava a visão do seu
rosto, porém era possível, mais uma vez, confirmar que ele tinha barba.
Zip e Winston estavam boquiabertos por ver aquela
figura tão sinistra.
- É… É…. É um fantasma! – tremia Winston.
- Sim! Sim, um fantasma! – sussurrava o homem.
- Um fantasma? Ele vai fazer o quê? Natação? – brincava
Zip enquanto retirava a sua pistola das calças.
Rapidamente o homem das vestes negras retirou a sua
pistola e apontou-a a Zip. Lara não ficou indiferente. Retirou as suas pistolas
duplas. Seriam três armas contra uma mas a figura sinistra retirou outra pistola.
Agora eram três contra duas. A avaliar pela pontaria de Zip, era como se fossem
duas contra duas. Nesse caso, claro que Lara estava em vantagem devido à sua
enorme experiência.
- O que é que queres daqui? Já não é a primeira vez! –
começava Lara.
- Não é? – confundia-se Winston.
- Apenas uma palavra! Uma palavra muito simples! –
sussurrava misteriosamente.
- Sim? – perguntou Zip.
- Vingança! – gritou a figura misteriosa!
Zip e Lara agarraram nas suas armas ainda mais
fixamente pois assustaram-se com o grito do tal homem. Winston tremia por todos
os lados e nem se atrevia a perguntar se Lara reconhecia a voz do “fantasma”.
A figura misteriosa começou a dar passos lentos,
retrocedendo até à porta, sempre a apontar as armas para Lara, Zip e Winston,
enquanto sussurrava:
- Eu vou voltar! Eu vou voltar!
Zip disparou! O homem caiu e, enquanto isto acontecia,
disparou também. O tiro de Zip foi em cheio no peito da figura sinistra, já o
desta, acertou no lustre de vidro que caiu no chão, partindo-se e libertando
milhares de vidros que voaram por todo o lado.
O homem, sem qualquer dano, aproveitou a confusão
instalada para fugir. Virou costas e correu, fechando a porta principal para
que ninguém viesse atrás dele. Lara ainda o conseguiu ver correr e reparou em
cinco buracos na sua capa.
Sangue. Muito sangue foi o que se seguiu. O lustre
partido causou muitos danos. Zip tinha um grande e fundo golpe no braço e
vários outros na face. Lara tinha um corte na bochecha mas, a situação pior foi
a de Winston, que estava estendido no chão,inconsciente, com um golpe no
pescoço e um vidro de 10 centímetros espetado no ombro.
► CAPITULO #8
- Aquele filho da mãe deve ter as chaves da mansão! –
dizia Lara, levantando-se.
Olhou à sua volta. Zip levantou-se de seguida. Ficaram
os dois pasmados a olhar para Winston, caído no chão.
- Estão bem? O que é que se passa? Está aí alguém? –
perguntava o médico, ainda ao telefone.
Lara agarrou de imediato no telefone, pedindo uma
ambulância para a sua morada.
- Oh meu deus! – lamentava Zip – Não acredito nisto!
- Nem eu… - concordou Lara.
- Lara, isto já foi longe demais! Vais contar-me o que
sabes! Tudo começou com aquela maldita carta! – gritou Zip.
- Calma! – ordenava Lara – Eu conto-te tudo! Mas agora
não é a altura!
A ajuda não tardou. Lara quis ir na ambulância com
Winston. Zip também quis mas Lara não concordou:
- Não! Tu ficas aqui! Há um kit médico algures por aí!
Trata-te e tenta limpar minimamente isto! Quando eu chegar quero aquela
fechadura mudada!
- Quer que lhe trate dessa ferida? – perguntou o
enfermeiro, apontando para o rosto de Lara.
- Deixe estar! Isto não é nada! – respondeu.
- Eu insisto! – continuou o enfermeiro.
- Também eu! – subiu o tom de voz, virando-lhe as
costas e entrando finalmente na ambulância.
Algumas horas depois o médico chegou ao corredor do
hospital, chamando pelos familiares de Winston. Lara levantou-se da cadeira
onde estava instalada e dirigiu-se até ao médico.
- Tem notícias? – perguntou.
- Sim. Nós… - respondia.
- Ele vai ficar bem? – interrompeu-o Lara.
- Sim, vai! Nós temos a certeza de que sim! Já lhe
retiramos o vidro que tinha no ombro com os devidos cuidados. Ele perdeu muito
sangue e vai ficar aqui por alguns dias. – informou o médico.
- Hum… Obrigado! Aqui tem o meu contacto! – disse,
entregando-lhe um papel – Sempre que tiver novidades contacte-me!
- Como queira! – concordou o médico.
Ao regressar à mansão Croft e ao experimentar as suas
chaves, Lara percebeu que a fechadura já tinha sido mudada, soltando, assim, um
leve sorriso. Bateu à porta. Zip não demorou e abriu-a.
Já estava tudo limpo. A sala estava agora mais escura
devido ao lustre em falta.
- Muito bem! Foste rápido a fazer tudo o que pedi! –
elogiou ela.
- Notícias do Winston? – interrompeu.
- Sim! Senta-te aqui que já te conto - respondeu.
No momento em que se sentaram, Zip e Lara escutaram o
barulho da fechadura da porta principal.
- Não faças barulho! É ele! – sussurrava Lara,
agarrando na sua pistola.
Os dois aproximaram-se da porta, ficando um de cada
lado desta. A pessoa atrás da porta continuava a rodar a chave mas a porta não
se abria. De repente este som parou. Lara e Zip olharam um para o outro.
A arqueóloga abriu a porta com a sua arma preparada
mas não havia lá ninguém. O sol estava a pôr-se. Foi nesse momento que uma
enorme pedra furou a janela ao lado da porta, partindo-a por completo e
abrindo, assim, uma passagem.
- Eu prometi que voltava! – sussurrava alguém – E eu
cumpro sempre as minhas promessas!
► CAPITULO #9
Lara apontou a sua arma para a janela, esperando a
entrada de alguém. Uma sombra aproximava-se no meio daquela luz vinda do pôr do
sol. Era ele. O tal homem misterioso que ultimamente andava a assombrar a vida
de Lara.
Primeiro um pé, depois a cabeça e por fim o resto do
corpo. O homem entrou na mansão através da janela. Não tinha máscara de
mergulho, porém, mais uma vez, o capuz não permitia ver o seu rosto. Via-se
apenas, de novo, o seu queixo barbudo.
- Lara! – chamou o homem sussurrando.
Zip também agarrou na sua arma.
- Eu podia acabar contigo aqui e agora, mas fazê-lo
lentamente dá-me muito mais prazer! – informava sinistramente.
Lara mirou-o de cima a baixo, tentando reconhecer
aquela pessoa, mas não conseguia sequer imaginar quem poderia ser. Olhou com
mais atenção e viu um buraco na roupa da figura sinistra na zona do peito.
- Qual é o teu objetivo? – perguntou, erguendo uma
sobrancelha.
- Fazer com que passes os dias mais aterrorizantes da
tua vida antes de morreres! No dia em que o teu coração deixar de bater, a
minha vingança estará concluída! Esta história está só a começar! – sussurrou.
- E se o teu coração deixar de bater primeiro? –
perguntava ironicamente enquanto retirava a outra arma, ficando com as duas
apontadas para ele.
- O meu coração já deixou de bater há muito tempo… -
respondeu.
- Porque só sussurras? Tens medo que reconheça a tua
voz? – inquiriu Lara.
- Não! – gritou o homem.
- Então, conheces ou não a voz? – perguntou Zip
curioso.
- Conheço! Só não sei de quem é… - lamentou ela.
- É normal… Afinal já passaram 10 anos! – sussurrou o
homem.
- Pensas que me assustas com essas brincadeiras? Vou descobrir
quem és! – prometeu – E eu cumpro sempre as minhas promessas!
- Venho aqui dar-te uma pequena ajudinha! Queres ouvir
a minha dica? – continuou a figura misteriosa.
- Fala! – ordenou Zip.
- Vai fazer uma visita à casa do falecido Romão. Pode
ser que encontres alguma coisa! – sugeriu.
- Foste tu que o mataste! Eu sabia! – acusou-o Lara.
- Romão? Quem é esse? – perguntou Zip confuso.
- Talvez! –respondeu o homem.
Nesse momento a figura sinistra tirou do bolso um
papel e deixou-o cair no chão. De seguida fugiu rapidamente, usando a janela
como saída
- Rápido! Vamos atrás dele! – gritou Zip.
- Vai tu se quiseres! Eu estou demasiado cansada –
disse, enquanto pegava no papel que o homem deixou atrás.
“Querida Lara,
Há uma surpresa para ti na cozinha.”
Ao ler isto, Lara dirigiu-se imediatamente à cozinha,
deixando o bilhete cair no chão. Zip foi mesmo atrás dela. Quando chegaram à
cozinha não viram nada de diferente. Foi nessa altura que uma bala furou a
janela junto à mesa, acertando no peito de Zip.
► CAPITULO #10
Lara fechou os olhos. Teve medo do que poderia ver ao
abri-los novamente. Abriu um de cada vez. Viu, através da janela partida, a
figura misteriosa a correr. Zip estava caído no chão. Não havia sinal de
sangue. Estava atordoado, mas bem. Levantou-se um pouco tonto.
- Como é que é possível? – questionava-se Lara.
Olharam para o chão e viram a bala caída, a rebolar
para baixo da mesa.
-És assim tão forte? – brincava ela.
- Eu não! Mas isto sim! – disse, enquanto retirava um
pen drive do bolso do camiseiro.
- Oh meu deus! Quem diria que o teu pen drive chumbado
com ferro iria salvar-te a vida! – exclamou.
- Não acredito que perdi todos os meus arquivos que
estavam aqui guardados! – lamentou Zip.
- Devias estar feliz por estares vivo! Ainda bem que
tens essa mania de comprar coisas caras e resistentes. Se fosse outro pen
drive, morrias! – celebrou ela.
- Este gajo não está a brincar! Quem é ele? Conta-me
tudo o que sabes! – pediu.
- Bem, acho que chegou a altura de saberes de tudo! –
concordou ela – Vamos para a sala.
Sentaram-se os dois. Lara colocou as pernas sobre a
pequena mesa à frente do sofá, deitando alguns livros ao chão.
- Estás pronto? – perguntou ela.
- Claro! – exclamou.
- Bem, vou contar-te tudo, mas não quero que me
interrompas! – avisou Lara.
- Começa. – pediu.
- Bem, tudo começou com aquela carta que eu recebi
assinada como “um amigo“. Sim, eu conheço esse Estêvão. Há 10 anos atrás fui
numa viagem com outros arqueólogos em busca de tesouros, mas isso não interessa.
O que interessa é que ele estava lá, nessa viagem. Houve uma tempestade e… Bem…
Do que eu sei, todos sobreviveram menos ele. Nunca consegui perceber o que lhe
aconteceu. Porque é que ele não se conseguiu salvar se todos o fizeram? Bem, na
carta, é, supostamente, alguém, que sabe de tudo o que se passou, a contar-me.
Lá diz que ele morreu afogado, enterrado no tesouro que o nosso navio
transportava. A partir do momento em que recebi essa carta começaram a
acontecer coisas muito estranhas! – contou Lara.
- A tal casa assombrada… - completou Zip.
- Eu disse para não me interromperes – ralhou ela.
- Desculpa! Continua. – pediu ele.
- Bem... Na noite em que recebi a carta, quando a
amassei não a deitei fora. Levei-a para o meu quarto e li-a várias vezes. Não
me lembro de promessa nenhuma. Acho que ninguém me prometeu contar o que se
passou. Mas é isso que a carta diz. De repente vi alguém na janela a bater no
vidro, mas quando fui abrir a janela não havia ninguém. Quando a fechei vi a
carta num canto do quarto, molhada e com uma moeda de ouro em cima. A tal moeda
de ouro da sorte de que fala a carta. No dia a seguir, aquele em que eu saí de
mota, eu fui ver um velho amigo que estava no navio comigo. Não falava com ele
há anos. É o único que sei onde vive. Quando cheguei à casa dele e quando ele
me viu, desmaiou e bateu com a cabeça. Perdeu a memória e alguém o matou no
hospital. Na outra noite, em que eu disse que foi um assalto, era aquele tal
homem vestido de preto que foi até ao meu quarto com uma faca na mão. Dei-lhe
vários tiros e ele nunca reagiu. Nem uma gota de sangue… O resto tu sabes… O
lustre, enfim… - continuou ela.
- Porque mentiste? – perguntou Zip.
- Queria primeiro perceber o que se passava. –
explicou Lara.
- Hum… Não achas mesmo que o homem do capuz é o
fantasma do Estêvão, pois não? – inquiriu Zip.
- Claro que não! O que eu acho é que alguém quer que
nós achemos isso. Não sei o que ganham com isto mas tenho a certeza de que não
é nenhum fantasma! – afirmou ela.
- Hum… Esse tal velho amigo então é o tal Romão de que
ele falava, certo? – questionou.
- Isso! Foi esse homem que matou o Romão! O médico
disse que viram alguém vestido como ele a entrar e a sair do quarto. –
informou.
- Hum… E tu vais à casa do Romão, como o homem sugeriu?
– continuou.
- Não sei. O que achas? Pode ser uma armadilha. –disse
Lara.
- É a única pista que temos! – afirmou.
- Zip, é isso! – gritou ela.
- Isso o quê? – perguntou, curioso.
- Há outra coisa que me pode levar até esse homem! Ele
não escapa! – prometeu ela.
► CAPITULO #11
- Conta! – pediu Zip.
- Há uma coisa que me esqueci de te contar! No dia do
suposto assalto eu consegui rasgar um pedaço da capa do homem e estava lá a
etiqueta da loja. Pensei em ir lá. Pode ser que ele tenha sido o único homem
barbudo a comprar uma capa daquelas. E, se pagar bem, talvez tenha acesso às
câmaras de vigilância! – explicou.
- Então do que estamos à espera? Vamos a essa loja! Eu
vou contigo! – levantou-se.
- Não! Eu vou sozinha! Tu vais ficar aqui a arranjar
as janelas! Quero vidros resistentes a balas, a pedras, a tudo! – ordenou.
- Já está de noite, estará aberta? – perguntou Zip.
- Hum… Não sei a que horas fecha! É melhor ir amanhã!
– respondeu ela.
- E estas janelas? A esta hora não há onde ir comprar
os vidros! – explicou.
- Parece que esta noite vamos dormir com um bocadinho
mais de frio. – brincou ela.
- E se entrarem? – temeu Zip.
- Se entrarem não saem vivos. – respondeu – Vá, vamos
dormir que amanhã pode ser um grande dia!
A noite foi calma. Não apareceu ninguém e não
aconteceu nada de estranho. A avaliar pelos últimos tempos, o mais provável era
que acontecesse alguma coisa, o que não foi o caso.
O sol nasceu. Isso faz sempre as coisas parecerem
melhores. Faz os problemas parecerem menores e mais fáceis de resolver. O
amanhecer trás sempre mais esperança. Um novo dia. Era isso que Lara tinha que
ter. Esperança.
Tomou o seu pequeno almoço e vestiu-se sem pressas,
pois não sabia a que horas a loja abria. Zip já estava a tratar do assunto dos
vidros, com alguns telefonemas. Finalmente Lara dirigiu-se até à porta
principal, despedindo-se de Zip.
- Não levas as chaves da mota? – perguntou Zip.
- Não! Vou a pé! A loja é aqui perto! – respondeu ela,
fechando a porta.
Entrou na loja. Um sino tocou quando Lara abriu a
porta e surpreendeu-se com toda a desarrumação e falta de higiene. A loja
estava às moscas. A senhora que lá trabalhava veio imediatamente atender Lara.
Era uma senhora velha, tal como a loja.
- Bom dia! – saudou a senhora.
- Bom dia! – respondeu Lara.
- Em que posso ajudá-la? – começou.
- Bem, eu queria saber se a senhora se recorda de
alguém que tenha comprado aqui recentemente uma capa com um capuz negro. –
explicou Lara.
- Hum… Uma capa como aquelas? – inquiriu a velha,
apontando para uma prateleira com mais pó do que roupa.
- Sim! Igual àquelas! – exclamou Lara.
- Quase ninguém compra aquilo! Está fora de moda!
Recentemente só me lembro de dois homens comprarem uma coisa dessas. – informou
a mulher.
- Algum deles era barbudo? – continuou Lara,
entusiasmada.
- Sim! Um deles era! O outro parecia um rato careca! –
explicou a dona da loja, coçando a cabeça.
- Há alguma hipótese de eu ver as filmagens das
câmaras de vigilância? – pediu Lara.
- Mas quais câmaras? Eu quase não tenho dinheiro para
pagar produtos para limpar a loja. Não ia gastar dinheiro em coisas modernas
como essas. – disse ela.
A figura sinistra estava à porta dessa mesma loja a
observar tudo. A porta de vidro permitia ver o que a montra não deixava, devido
à sujidade. O homem misterioso conseguia ver que Lara estava a tentar descobrir
mais sobre ele, porém, nada fez para a impedir. Estava apenas parado a
observar. Talvez estivesse na altura de Lara saber de toda a verdade…
► CAPITULO #12
Reparando que Lara se estava a despedir da mulher, o
homem misterioso escondeu-se. Esta saiu da loja e tomou o seu caminho. Nesse
momento, o homem entrou na loja, com uma faca preparada na mão.
- O que é que ela queria? – ameaçou ele, apontando a
faca, de forma discreta, ao pescoço da velha.
- Ela quem? – gaguejava a idosa, assustada!
- A mulher que acabou de sair daqui! – insistiu ele.
- Nada de especial! Ela só queria saber quem tinha
comprado uma capa dessas recentemente e pediu-me as filmagens das câmaras de
vigilância! – tremia a senhora.
- E ela teve acesso a essas filmagens? – perguntou a
figura sinistra enquanto chegava a faca mais perto do pescoço da senhora.
- Não! Eu… Eu… - gaguejava.
- Sim? – gritou o homem.
- Desculpe é que estou nervosa. Não tenho câmaras, por
isso ela não viu nada! – chorava ela.
- Muito bem! – sorriu ele, arrumando a faca e virando
costas à mulher.
Olhou à sua volta para ver se alguém tinha visto algo
de estranho. Não havia ninguém a olhar para a loja. As pessoas passavam para um
lado, para o outro mas nenhuma parava para entrar na loja. Nem sequer para
olhar. O homem deu alguns passos até que parou em frente à porta. Olhou para
trás e viu a senhora ainda a tremer. Foi nesse instante que carregou num botão
preto que estava na parede.
As grades começaram a descer, tapando a visão de fora
para dentro. A loja ficou mais escura do que já era. O homem misterioso começou
a destruir a loja. Atirou roupas das prateleiras, meteu diversas peças ao chão.
Aproximou-se do balcão e desarrumou todos os papéis, abriu gavetas e esvaziou a
caixa registadora, que não tinha muito dinheiro.
- O que se passa? O que está a fazer? – gritou a
mulher.
- Isto tem de parecer um assalto! – respondeu o homem.
- Um assalto? Porquê? – chorava a senhora.
Como resposta, a figura sinistra tirou a sua faca
novamente e esfaqueou a mulher até à morte.
- Porque hoje ficaste a saber demais! – sussurrou
misteriosamente, deixando a arma do crime para trás e saindo pelas traseiras da
loja.
- Porque demoraste tanto? – perguntou Zip ao ver Lara
chegar à mansão.
- Aproveitei e fui visitar o Winston ao hospital. –
explicou ela.
- E como está ele? – inquiriu.
- A recuperar. Em breve deve voltar a casa. – informou
Lara.
- Ainda bem! Então, conseguiste descobrir alguma
coisa?- questionou Zip, sentando-se no sofá.
- Infelizmente não! – lamentou, sentando-se – A loja é
tão velha e pobre que não tem câmaras de vigilância!
- Hoje em dia como é que uma loja assim ainda não foi
à falência? – surpreendeu-se ele.
- A não ser que todos os criminosos do mundo vão lá
comprar disfarces, a loja não está muito longe disso. - irritou-se ela.
- Então a única coisa que nos resta é a casa do Romão,
certo? – perguntou ele.
- Certo! Nem que seja uma armadilha! Eu tenho de ir
até lá! E já sei como vou fazer! – informou.
- Como? – insistiu Zip.
- Quando fui à casa dele, reparei que o telhado era
muito velho, tal como toda a casa. – explicou - E se déssemos algum
uso à minha corda com gancho?
► CAPITULO #13
Protegidos pela escuridão da noite, Lara e Zip foram
de mota até à antiga casa do Romão. A figura sinistra aguardava-os na sala de
estar, num canto escuro, sem se mexer. Ia apenas assistir à armadilha genial
que tinha preparado para Lara, fazendo com que ela se matasse a si própria, por
“acidente”.
No lado de fora, Lara agarrou na sua corda com gancho
e lançou-a para o telhado da casa. Esta ficou presa numa extremidade. Lara
puxou para ter a certeza de que era seguro e só depois começou a escalar a
parede. Já lá em cima, a arqueóloga precisava agora de entrar pelo telhado,
surpreendendo aquele homem misterioso, no caso de ser uma armadilha, sem saber
que era mesmo.
Zip, que estava ainda no chão, amarrou uma pedra
grande e pesada à corda. Lara puxou-a e, com algum esforço, conseguiu levá-la
até ao telhado. A arqueóloga pegou na pedra e antes que a deixasse cair, de
modo a partir o telhado, este, com o peso, antecipou-se, dando entrada direta
de Lara à sala de estar da casa de Romão.
O homem continuava no mesmo sítio, apenas a observar e
não se mexia. Lara ligou a sua lanterna e abriu a porta de entrada, para que
Zip se juntasse a ela. Este, já lá dentro, também ligou a sua lanterna e
começaram a explorar o local.
- Não seria mais fácil acender a luz? – sugeriu Zip
Lara olhou à sua volta, procurando um interruptor,
quando reparou que havia um mesmo ao lado da porta de entrada, então, caminhou
para lá, de modo a iluminar a sala. Antes que isso acontecesse, Zip chamou-a
para ver algo! Tinha encontrado um envelope com uma carta. Uma carta igual à
que Lara tinha recebido! Mas com uma diferença: no lugar de “Querida Lara,…”
estava “Caro Romão…”. Tirando isso as cartas eram idênticas!
- Mas… O Romão era quem partilhava o quarto com o
Estêvão! Só ele podia ter-me enviado esta carta! Como é possível ter recebido
outra igual? Não estou a perceber nada! Era esta a pista que aquele homem com
fantasias de bruxa e mergulhador tinha para nos dar? – surpreendeu-se Lara.
- Parece que sim! – respondeu Zip com uma pequena
gargalhada.
- Acho melhor continuarmos à procura de pistas! –
pensou ela.
- Sim, é melhor! Acende a luz! – concordou Zip.
Ainda nenhum dos dois tinha reparado no homem vestido
de negro que estava no canto da sala. Ele continuava parado, a observar tudo.
Apenas à espera que a sua armadilha resultasse!
Lara aproximou o seu dedo do interruptor para acender
a luz mas foi interrompida por um grito de Zip:
- Olha! Ali!
- O que foi? – assustou-se ela!
- O tal homem! Está ali no canto! – apontou ele, com a
lanterna.
A figura misteriosa, uma vez descoberta, saiu do seu
esconderijo, correndo na direção de Lara, sem qualquer arma! Na verdade ele
queria apenas fazê-la cair na armadilha, mesmo depois de ter sido visto. Não
pensava em matá-la de outra forma! O seu plano tinha de resultar! Pelo caminho
roubou a lanterna ao Zip e partiu-a, atirando-a para o chão.
Lara era agora a única capaz de iluminar a sala, com a
sua lanterna ou acendendo a luz. O homem chegou até ela e agarrou também na sua
lanterna, dando-lhe o mesmo destino que deu à do Zip.
O escuro tomava conta do espaço e Lara estava a poucos
centímetros da morte, ou, dizendo por outras palavras, da armadilha!
► CAPITULO #14
A armadilha. Esta consistia em fazer com que Lara
Croft, ao ir acender a luz, apanhasse um choque elétrico e morresse com o
interruptor sabotado. O homem tinha, anteriormente, tirado o isolamento do
interruptor e colocou alguns fios de maneira a que ninguém escapasse.
Impaciente, a figura misteriosa agarrou na mão de Lara
e tentou levá-la até ao interruptor. Lara tentava resistir porque não conseguia
ver nada, mas o homem tinha mais força! Ela sentiu a sua mão bater na parede,
por várias vezes. O homem estava a tentar encontrar o interruptor.
Zip agarrou no seu telemóvel e tentou iluminar o
caminho. Correu até aos dois rivais e puxou a mão de Lara, de modo a libertá-la
do homem e este, com o impulso, enfiou a mão pelo interruptor dentro.
Uma pequena faísca surgiu e o homem foi projetado uma
pequena distância, até bater contra um sofá. Estava caído no chão,
inconsciente! Estaria na hora de descobrir quem ele era? Ou o que ele era?
Lara aproximou-se dele com a luz do seu telemóvel.
Baixou-se e estendeu a mão, preparando-se para lhe tirar o capuz, quando foi
interrompida por um telefonema.
- Nem penses em atender! Isto é mais importante! –
ordenava Zip.
Lara preparava-se para rejeitar a chamada quando viu
que lhe ligavam do hospital.
- É do hospital! –informou ela.
- A estas horas? –surpreendeu-se Zip.
- Deve ter acontecido alguma coisa com o Winston, é
melhor atender! – pensou ela.
- Sim, atende! – concordou ele.
- Estou, sim? – atendeu Lara.
- Boa noite! Gostaria de falar com a senhora Lara
Croft! – saudou uma enfermeira.
- É a própria! Diga! – identificou-se ela.
Enquanto Lara estava ao telefone, Zip olhava fixamente
para o homem caído no chão, morrendo de curiosidade para saber quem ele era.
- Aconteceu algo muito grave! – informou a senhora.
- Diga de uma vez! – insistiu Lara.
- Chegámos à pouco ao quarto do senhor Winston e ele
não estava lá! Desapareceu! O soro estava caído no chão, ele estava internado,
não sabemos como saiu! – explicou a enfermeira, um pouco nervosa.
- O quê? Vou já para aí! – gritou Lara.
- O que se passou? – preocupou-se Zip.
- O Winston desapareceu! Vamos embora! – explicou ela.
- E o homem? – disse ele.
- Ele não parece estar em condições de ir a lado
nenhum! Havemos de cá voltar! – pensou Lara.
- Mas não queres ver quem ele é? – perguntou Zip.
► CAPITULO #15
- Neste momento só quero saber se o Winston está bem,
ou, pelo menos, se está vivo! – gritou Lara.
Lara deixou Zip na mansão Croft, para o caso de
Winston aparecer lá e foi logo de seguida para o hospital. Lá, a enfermeira não
tinha mais nada a dizer para além daquilo que já tinha dito ao telefone. Não
passava daquilo. O Winston tinha simplesmente desaparecido sem ninguém dar por
nada!
- Não há câmaras de vigilância aqui? – perguntou Lara.
- Nos quartos não há! Há algumas espalhadas pelo resto
do hospital mas não funcionam! – explicou a enfermeira.
- E porque não as arranjam? – inquiriu Lara.
- Estão estragadas há anos… Não há dinheiro suficiente
para essas coisas! – informou a senhora.
- Ai, eu não acredito nisto! E agora? – gritava Lara,
preocupadíssima.
Entretanto, na mansão Croft, Zip procurava o contacto
de Winston no seu telemóvel, quando ouviu um barulho vindo da
cozinha. Pousou automaticamente o telemóvel na mesa do seu quarto, abriu
uma gaveta e tirou de lá uma pistola. Seguiu o barulho lentamente, de modo a
ouvir bem.
Chegou à porta da cozinha e parou. Os barulhos estavam
mais altos. Agarrou na arma com força, respirou fundo e entrou na cozinha.
Já não havia barulho! Zip deu alguns passos e os
barulhos recomeçaram. Vinham agora do frigorífico gigante que Lara tinha, onde
cabiam várias pessoas. Zip viu uma sombra irreconhecível de um lado para o
outro.
No hospital, Lara continuava a falar com a enfermeira,
às quais se juntaram mais algumas. Falavam sobre o que poderia ter acontecido
com Winston e sobre onde ele poderia estar. Ninguém tinha visto nada! Um
paciente não conseguia sair assim do hospital sem ninguém o ver!
- Este hospital é uma vergonha! Primeiro deixam entrar
um assassino que matou um velho amigo meu e agora deixam desaparecer aquilo que
tenho de mais parecido com um pai? – refilava Lara.
- Nós fazemos o nosso trabalho! Este não consiste em
fazer de guarda-costas do seu mordomo! Temos muitos doentes! – respondeu uma
das enfermeiras, a mais velha e antipática.
- Primeiramente deixe-me dizer-lhe que há uma coisa que
eu adoro e que costumo chamar de respeito. Depois, quero que saiba que o seu
trabalho é fazer os doentes sentirem-se bem e sim, vigiá-los! – insistiu Lara
extremamente calma.
Nesse momento o telemóvel de Lara tocou. Era o número
do Zip!
► CAPITULO #16
-Diz! – atendeu Lara.
- Vem para casa! O Winston está aqui! – informou Zip.
- Está em casa? Vou já para aí! – aliviou-se ela.
Lara não explicou nada às enfermeiras e nem se
despediu delas. Foi embora como se nunca tivesse acontecido nada. Ao chegar a
casa deparou-se com Zip e Winston sentados no sofá da sala de estar a
conversar.
-Então, Winston? Está bem? – preocupou-se ela.
- Eu estou muito bem, senhora Croft. – informou ele.
- Como desapareceste? – questionou Lara.
- Ouvi umas conversas entre enfermeiras. Falavam de um
assassino e de um paciente assassinado. Eu não me sentia seguro ali! Pedi-lhes
várias vezes para sair mas diziam sempre que tinha de recuperar. Arranquei
aqueles fios a que estava preso, vesti-me e saí. – explicou ele.
- Não me dizia nada? Eu ia busca-lo! Eu falava com as
enfermeiras! Não podia ter-nos deixado sem saber nada de si! Mas olhe, como o
deixaram sair? – perguntou ela.
- Vesti-me e saí como uma pessoa normal. Para além das
enfermeiras ninguém sabia que eu estava internado… Não me cruzei com nenhuma.
Um senhor que me viu perguntou o que eu estava ali a fazer àquelas horas e eu
disse que adormeci enquanto visitava um paciente e que nenhuma enfermeira me
tinha acordado. Bem, mas isso não interessa! Porque não estava ninguém em
casa? Onde vocês estavam? – inquiriu.
- Fomos por um ponto final a esta história toda! –
disse Zip.
- Que história? – confundiu-se Winston.
- A história do homem que anda por aí vestido de negro
a fazer parvoíces! – acrescentou Lara.
- Como assim? Descobriram quem era? Afinal não era um
fantasma? – perguntava ele.
- Claro que não é um fantasma! Essas coisas não
existem! Quase que descobrimos quem ele era! – explicou Zip.
- Bem, enquanto lhe contas o que aconteceu eu vou
deitar-me. Estou cansada! – afirmou Lara.
- Vais deitar-te? Pensei que fossemos ver o homem! –
surpreendeu-se Zip.
- Vamos vê-lo amanhã! Ou é a pessoa mais sortuda do
mundo ou está morto! – disse ela.
- Eu não estou a perceber nada! – interrompeu Winston.
- Bem, até amanhã! – despediu-se Lara.
O dia seguinte prometia grandes surpresas! O que teria
acontecido com o homem que, mesmo com luvas, levou um choque elétrico e ficou
estendido no chão? As luvas que usava estavam molhadas da chuva que fazia nessa
noite, o que só piorava a situação. Era caso para se dizer que o feitiço
virou-se contra o feiticeiro.
O dia nasceu e Lara, para variar, levantou-se cedo.
Encontrou Winston na cozinha a preparar-lhe o pequeno-almoço.
- Bom dia, senhora! – saudou-a ele.
- Winston, vá descansar! Nem pense que vai trabalhar
ou eu ponho-o já no hospital! – ralhou ela.
- Eu sinto-me bem e pronto para trabalhar! –
explicou-se.
- Mas se estavas no hospital a recuperar é porque
precisas! Vá, já para a cama! – ordenou ela.
- Mas… - protestava o mordomo.
- É uma ordem! – interrompeu Lara.
Winston nunca desobedecia a uma ordem de Lara. Foi
para a cama, deixando o pequeno-almoço pronto para Lara. Esta não tinha fome e
nem olhou duas vezes para o enorme tabuleiro de comida. Ignorou-o.
- Acorda! – pedia ela ao entrar pelo quarto dentro do
Zip.
- O que foi? Sabes que não gosto de me levantar cedo!
– protestou ele.
- Não eras tu que estavas tão curioso? Anda daí! Vamos
tirar finalmente o capuz ao tal homem misterioso! Isto acaba hoje!
► CAPITULO #17
Ao ouvir estas palavras Zip levantou-se
automaticamente da cama.
- Estou à tua espera no jardim! – informou Lara.
Lá fora, enquanto esperava, Lara só conseguia pensar
em quem poderia ser aquela pessoa! Quem é que teria motivos para andar a
“assombrar-lhe” a vida? O homem estaria vivo? Estaria morto? Tudo era um
mistério.
Zip finalmente chegou ao jardim e foram juntos a
caminhar até à mota.
- Já vi noivas estarem prontas em menos tempo do que
tu! – brincava ela.
- Por isso não ficam tão perfeitas quanto eu! –
continuava ele.
Não estavam tensos nem nervosos, mas sim descontraídos
e naturais. Mas todo o ambiente mudou ao estacionarem em frente à antiga casa
do Romão, onde tinham deixado o homem misterioso caído e inconsciente na noite
anterior.
Com a mesma técnica de antes, Lara subiu ao telhado da
casa e entrou, mas desta vez com mais cuidado. Era de dia e ninguém os podia
ver. Olhou à sua volta e não viu ninguém! Abriu a porta ao Zip.
- Ele desapareceu! O filho da mãe não morreu e
safou-se! – chateou-se ela.
- Não acredito nisto! Eu vi com os meus próprios
olhos! Ele levou um grande choque! Era essa a emboscada para ti! A armadilha
que te ia matar! Como não o matou? – gritava Zip.
- Calma aí! Não vês o que se passa aqui? Ele mandou a
mesma carta para mim e para o Romão e matou-o! A próxima pessoa sou eu!
Ele há de me procurar e eu estarei preparada. Nós estaremos preparados! –
afirmou ela.
- Ai sim? E explicas-me como? – perguntou, nervoso.
- Bem, ele não tem a chave da mansão, por isso vai ter
que entrar pelas janelas. E se fosse a nossa vez de lhe preparar uma armadilha?
– sugeriu ela.
- Que tipo de armadilha? – continuou Zip.
- Podíamos simplesmente ficar alerta com armas e até
mesmo espalhar pequenas rasteiras pela casa! Sei lá! Um fio transparente onde
ele tropece, um buraco tapado com um tapete, coisas dessas! Não é só nos filmes
que resulta! Pensa bem! Sempre que o vemos ficamos com armas apontadas e ele
foge. Desta vez as armadilhas vão impedi-lo de fugir! O que achas? – inquiriu
ela.
- Acho uma ótima ideia! Vamos já tratar disso! –
entusiasmou-se Zip.
Regressaram a casa e começaram a preparar tudo. Muitas
armadilhas… Pensaram em todas as saídas possíveis e armadilharam-nas. No fim de
tudo avisaram Winston, para que este tivesse cuidado!
- Não sei porquê mas eu estou com um mau
pressentimento acerca disto! – informou Winston.
- Eu não queria dizer nada mas também sinto que algo
não vai correr bem… nada bem… - concordou Lara.
- Vamos pensar positivo! – desanuviou Zip.
Lara, com um ar muito cansativo e, sentando-se na cama
de Winston, desabafou:
- Já estive mais longe de achar que ele é mesmo um
fantasma… Leva tiros e não reage, leva choques e não morre, está sempre a
aparecer e a desaparecer… Isto é muito estranho! Não vejo a hora desta história
toda terminar. Já não deve faltar muito!
► CAPITULO #18
Anoiteceu. Lara e Zip estavam na cozinha a tomar um
café. Estavam armados, sempre prontos para o caso do homem aparecer. Também
tinham deixado uma pistola com Winston, que estava deitado, para que ele também
estivesse protegido.
Lara tinha arrepios constantes e Zip não parava de
bocejar. Já estavam assim há algum tempo.
-É da minha vista ou o homem está ali? – inquiriu ele,
olhando pela janela da cozinha.
Lara olhou imediatamente. Por trás do portão da mansão
Croft estava algo. Não se conseguia ver bem mas era alguma coisa que não
costumava ali estar. Era alto, porém mais baixo do que as grades.
Um trovão interrompeu todo o silêncio e Lara reagiu
finalmente:
- Não sei o que é aquilo mas não se mexe!
Era assustador ver algo de diferente no jardim àquelas
horas da noite, principalmente depois dos últimos acontecimentos que tinham
sido tudo menos calmos. Lara e Zip olharam um para o outro. Não sabiam o que
fazer. Saiam e iam ver o que era? Esperavam para ver o que acontecia?
De repente, o menos esperado aconteceu! Uma chama
iluminou o jardim da mansão Croft. Era pequena! Maior do que a chama causada
por um fósforo mas menor do que a de uma fogueira. Uma tocha, talvez! Essa
chama só iluminava o que estava dela para a frente, ou seja, a partir do
portão. O que estava para trás continuava escuro. Agora ainda se via menos.
A chama começou a subir lentamente até ao topo das
grades e desceu rapidamente. Fosse lá o que fosse, tinha agora atravessado o
portão.
- Pensei que os fantasmas atravessassem paredes, mas
parece que este não passa por um portão! – disse Lara, erguendo uma sobrancelha
e agarrando as suas pistolas duplas, agora com mais força.
- Vamos até lá ou ficamos? – perguntou Zip.
- Ficamos por aqui! Mas esconde-te! Vamos
surpreende-lo! – respondeu ela.
Esconderam-se na sala de computadores de Zip. Tinham,
posteriormente, apagado todas as luzes da mansão para que o homem pensasse que
estavam todos a dormir e, para além disso, para que não pudesse ver as
armadilhas.
Já não conseguiam ver a chama. Aquela sala era muito
isolada do exterior. Não havia uma única janela. A janela mais próxima era a da
sala de estar, aquela por onde a figura sinistra já tinha entrado uma vez.
Podiam ver essa janela do local onde estavam. Iria ela entrar pelo mesmo sítio?
Todas as perguntas estariam prestes a encontrar as
suas respetivas respostas. Algo sombrio e arrepiante estava por acontecer!
O telefone da sala dos computadores tocou.
► CAPITULO #19
- Desliga essa porcaria! Não podemos fazer barulho! – sussurrou
Lara.
- É melhor atender, aprendi isso recentemente! – disse
ele, agarrando no telefone – Sim?
- Lara Croft! – sussurraram, do outro lado do
telefone.
- Parece que é para ti! – informou Zip, passando o
telefone a Lara.
- Sim? – chamou ela.
- Hoje vais pagar por tudo! – sussurraram.
Lara preparava-se para responder mas desligaram-lhe o
telefone na cara.
- Quem era? – perguntou Zip, curioso.
- Acho que era o tal homem! Disse que hoje eu vou
pagar por tudo! – explicou ela.
- Espera lá, como pode ser o tal homem? O número
aparecia quando eu fui atender! – surpreendeu-se ele.
- O número não estava em privado? – questionou Lara,
agarrando no telefone de novo.
- Não! – respondeu ele.
Lara ligou de volta para o número de onde recebeu a
chamada. Outro telefone começou a tocar na mansão Croft. Lara e Zip olharam um
para o outro. A arqueóloga pousou o telefone na mesa, de modo a não desligá-lo
e saiu da sala, chamando o colega:
- Vamos seguir o som!
- Tens a certeza? – duvidou ele.
Não lhe respondendo, Lara virou-lhe as costas e
agarrou nas duas armas. Zip foi atrás dela e ambos perceberam, pouco tempo
depois que o som vinha do quarto de Winston. Nesse momento o telefone, que era
o que sempre esteve no quarto de Winston, parou de tocar.
Lara abriu a porta do quarto de Winston muito devagar
e viu algo digno de um filme de terror! Winston estava a dormir. Ao seu lado
estava a figura sinistra em pé, com os mesmos trajes negros de sempre, junto à
cama, com uma tocha acesa na mão direita e uma enorme faca na mão esquerda. O
seu rosto estava escondido pelo grande capuz que apenas deixava de fora, mais
uma vez, a barba. A pistola que Lara tinha deixado na mesa ao lado da cama
tinha desaparecido.
Lara não hesitou e baleou o homem. Este levou cerca de
dez tiros no peito e estava deitado no chão. Winston, como é óbvio, acordou
assustadíssimo. Estavam os três a olhar para o homem misterioso deitado no
chão. Não havia sinal de sangue e ele agarrava na tocha e na faca da mesma
maneira de antes. Começou a levantar-se lentamente. Lara e Zip seguiam-lhe
com as pistolas enquanto Winston fazia o mesmo com os seus olhos.
O homem espetou a faca na perna de Winston, furando os
lençóis da cama. Este soltou um grito doloroso. Lara disparou de novo para o
peito da figura sinistra, gritando o nome do mordomo e esta agarrou numa
pistola sua, apontando para a cabeça de Winston, que estava a morrer de dores
na cama cheia de sangue.
► CAPITULO #20
- O que queres de nós? O que queres de mim!? – chorava
Lara.
- O meu objetivo é simples! Assombrar os teus
últimos dias de vida! – sussurrou o homem.
- Achas mesmo que acredito em fantasmas? – gritou ela.
- Os que não acreditam em mim são os maiores desafios!
Ah! E sabes qual é a minha melhor estratégia? É exatamente fazer com que
ninguém acredite em mim! – sussurrava o homem.
- Hum… E tu revelas as tuas estratégias? Que amador! –
provocou ela, dando alguns passos à frente, sempre com as suas armas apontadas
para ele.
- Porquê não revelar? Não vais sobreviver para contar
a ninguém! – respondeu a figura sinistra.
Lara levantou as pistolas, de modo a fazer pontaria
para a cabeça do homem.
- Veremos se és fantasma também na cabeça! – disse,
limpando uma lágrima com o braço, nunca deixando de apontar as pistolas.
- Mais um passo e o teu mordomo morre! – ameaçou o
homem, arrancando a faca cheia de sangue da perna de Winston, que reagiu com um
grito.
O homem misterioso com uma arma apontada para a cabeça
de Winston e Lara com duas armas apontadas para a cabeça do homem. O que
poderia acontecer?
Zip, que estava apenas com uma arma apontada para a
figura sinistra, tentou negociar:
- Deixa o Winston sair daqui! Ele precisa de ajuda!
Está a perder muito sangue!
- E o que ganho em troca? – sussurrou o homem.
- Eu… Eu… Se não o deixares ir eu ligo à polícia! –
ameaçou Zip com o seu telemóvel na mão, ainda com uma pistola apontada para o
homem misterioso.
- Achas que cedo a chantagens? – gritou o homem,
disparando para o peito de Zip.
- Zip! – gritou Lara ao ver o amigo cair no chão.
A figura sinistra atirou a tocha ao chão que caiu em
cima de um tapete junto à cama, ardendo. O fogo passou para a cama de Winston,
que estava inconsciente.
Lara agarrou no Zip e arrastou-o até ao exterior do
quarto, de seguida, ao ir ter com Winston viu que o homem misterioso tinha
desaparecido. Arrancou os lençóis em chamas da cama e puxou Winston para o
chão, arrastando-o da mesma forma até junto de Zip.
Correu até um extintor que estava junto à sala de
computadores de Winston mas, pelo caminho, tropeçou numa armadilha preparada
para o homem, caindo. Desfeita em lágrimas Lara levantou-se, agarrou no
extintor e apagou o pequeno incêndio no quarto de Winston.
De seguida agarrou no telemóvel e chamou duas
ambulâncias à sua morada.
Lara tinha agora os dois amigos no hospital. Estava a
viver sozinha na sua mansão. Sentia-se completamente desprotegida. A situação
dos dois era grave. Zip estava às portas da morte devido ao tiro que levou no
pulmão. Winston, devido à hemorragia causada pela faca na sua perna, estava na
mesma situação.
► CAPITULO #21
Aquela figura tão misteriosa ficou conhecida em todo o
mundo e era uma das pessoas mais procuradas.
Passaram-se dois anos. Winston e Zip estavam vivos e
completamente perfeitos de saúde, como se nunca tivesse acontecido nada. Tanto
eles como Lara já se tinham esquecido do homem misterioso. Durante aqueles dois
anos ele nunca mais apareceu. As suas vidas estavam agora calmas e normais.
Lara tinha uma aventura ou outra de vez em quando mas nada que se comparasse
com o que ainda estaria por vir.
Numa noite de chuva e trovoada como aquela em que tudo
começou, Winston foi ao quarto de Lara com uma carta na mão que tinha
encontrado no jardim.
Lara, no meio de um enorme déjà-vu, abriu a carta na
frente do mordomo, que já sabia da história do Estêvão. Leu a carta e ficou a
olhar para ela um bom bocado, como se fosse muito grande.
Winston, curioso, aguardava.
- Podes ir, Winston! Não é nada de especial! – disse
Lara.
- Com certeza, senhora! – obedeceu, saindo do quarto.
Um arrepio introduziu uma lágrima que caiu do olho
esquerdo da arqueóloga. A lágrima escorreu e caiu em cima da folha da carta.
Não era uma lágrima de tristeza, mas sim de medo e raiva.
Lara machucou a carta e apertou-a com força na sua
mão.
- Ela recebeu uma carta e ficou estranha! – contou
Winston, ao encontrar Zip na sala.
- Estranha como? – inquiriu ele.
- Não sei… Bem… Vou dormir! Até amanhã! – despediu-se
Winston.
- Vou lá ver o que se passa! Dorme bem! – informou
Zip.
Ao ouvir baterem à porta, Lara escondeu a carta debaixo
da almofada. Zip entrou e perguntou se estava tudo bem, obtendo uma resposta
positiva.
- Então, o que dizia a carta? – começou ele.
- Qual carta? – perguntou ela.
- A carta que recebeste! O Winston disse-me que
ficaste estranha! Sabes que podes confiar em mim! – explicou Zip.
- Não é que eu não confie em vocês, mas tenho medo que
comece tudo de novo! – desculpou-se Lara.
- Tudo o quê? – confundiu-se ele.
Como resposta, Lara tirou a carta debaixo da almofada
e tentou recompô-la.
- Primeiro quero que chames o Winston, por favor!-
pediu ela.
Zip correu até ao quarto de Winston, que estava quase
a adormecer. Pouco tempo depois estavam os dois lá em cima, no quarto de Lara,
sentados na sua cama, à espera.
Lara entregou-lhes a carta com os olhos molhados.
Ficaram os dois com o queixo caído depois de ler a pequena mensagem que vinha
escrita à mão:
“Hoje faz 12 anos”.
► CAPITULO #22
- Estão a pensar no mesmo que eu? – assustou-se Zip.
- Aquele fantasma de novo? – gritou Winston.
- Não! Aquele filho da mãe de novo! – corrigiu Lara.
- Porque estaria de volta tanto tempo depois? –
perguntou Zip.
- Achas que eu sei? Eu nem sei o que ele quer de mim!
Só sei que é uma questão pessoal. – informou ela.
- Não acredito nisto… - lamentava-se Winston.
- Depois de tantos problemas que nos causou, o que
quererá mais? Quase morremos por culpa dele! – gritava Zip.
- Parece que quase morrer não chega! Ele quer mais do
que isso! – pensou ela.
- O que vamos fazer? – perguntou Winston, nervoso.
- Absolutamente nada! Assim que ele me aparecer à
frente dou-lhe um tiro nos cornos e esta história acaba! – respondeu Lara,
irritada.
Winston detestava a ideia de ter a casa assombrada de
novo. Bem que tentou ir dormir, mas foi difícil. Tirando isso foi uma noite
normal. Normal no mundo real, porque no mundo dos sonhos, Lara não esteve em
paz durante toda a noite, com pesadelos sobre o homem vestido de negro.
De manhã, Winston acordou Lara com uma má notícia.
Trazia um jornal na mão.
- Lara, veja a
notícia de capa! – disse ele, nervoso.
Lara pegou no jornal e leu apenas o título da notícia:
“Vários arqueólogos assassinados recentemente”
- Quero lá saber, Winston! Deixe-me dormir! –
protestou ela.
- Mas veja, senhora! Aqui diz que algumas testemunhas
viram um homem todo vestido de negro antes dos atentados! – continuou ele.
- Já disse que se ele me aparece à frente morre!
Deixe-me dormir! – insistiu ela.
- O Romão está na lista, senhora! Vem aqui escrito a
lista de nomes dos arqueólogos mortos! Não quer ver se conhece algum? –
perguntou Winston.
- Winston, quando eu decidir levantar-me vejo esse
jornal, pode ser? – pediu ela.
- Sim, mas olhe que todos esses arqueólogos que
morreram tinham nas suas casas uma carta igual à que a senhora recebeu! –
provocou ele.
- O quê? O que disseste? – levantou-se Lara
rapidamente, agarrando no jornal para ler a notícia.
Ao terminar de ler, Lara deixou o jornal cair no chão.
- Eu conheço todos estes nomes! Agora lembro-me!
Estavam todos naquele navio comigo! Há 12 anos atrás! Quando… - contava ela.
- Quando o Estêvão morreu… - interrompeu Winston.
- Sim! E agora todos receberam a mesma carta e
morreram! Realmente eu encontrei uma carta igual à minha na casa do Romão! A
única viva sou eu! Isso quer dizer que sou o próximo alvo! – pensava ela.
- Temos que fazer alguma coisa, senhora! – gritou o
mordomo.
- Fazer o quê? Que ele me quer matar já eu sei há
muito tempo! Só fiquei a saber que não é só a mim… Mas continuo sem saber o
porquê de tudo isto. – explicou.
-Esta noite vais saber o porquê! – sussurrou uma voz
vinda debaixo da cama.
► CAPITULO #23
Winston, assustadíssimo, saiu a correr do quarto de
Lara para chamar Zip. Lara colocou a mão debaixo da sua almofada para agarrar
nas suas pistolas mas elas não estavam lá.
Saiu debaixo da cama a figura sinistra com duas armas
apontadas para Lara.
- Tu outra vez? – gritou Lara – Porque não vais de vez
para o Inferno?
- Às vezes, quando não há mais espaço no Inferno, os
mortos andam pela terra… - sussurrou o homem.
- Pensas que me assustas com essas coisas? O que se
passa? Que ligação tens com todas aquelas pessoas que estavam naquele navio
onde o Estêvão morreu? – continuava ela.
- Isto acaba aqui! Vais juntar-te a eles todos, no
Inferno! – disse o homem, dando um tiro na Lara, que caiu no chão.
Ao ouvir Zip e Winston a subir as escadas, a figura
sinistra partiu a janela do quarto e saltou. Entraram pelo quarto dentro e
viram Lara a tentar levantar-se com um tiro no braço.
- Vai buscar o kit de primeiros socorros! – pediu Zip a
Winston, assustado.
Winston, que tremia por todos os lados, chegou ao
quarto e colocou o kit médico em cima da cama, junto a Lara.
- Não o deixem fugir! – sussurrou Lara, sem forças.
- Não te preocupes com isso! – pediu Zip.
- Ai! Cuidado! – queixava-se ela enquanto Zip lhe
retirava a bala com uma pinça.
- Calma! Já está quase! Olha, ele viu que o tiro foi
no braço? – inquiriu ele.
- Acho que não! Quando vos ouviu fugiu logo. –
explicou ela.
- Hum… Então deve achar que estás morta! – sorriu Zip.
- Mas deve voltar cá para confirmar! – pensou ela.
- Talvez sim! – concordou ele.
- E se fingíssemos que eu morri mesmo? – sugeriu ela.
Um arrepio foi a primeira reação de Zip. Winston ainda
estava em choque com o regresso da figura sinistra.
- Como vai fazer isso? – surpreendeu-se Winston.
- Os jornalistas acreditam em tudo! – disse ela.
- Estás a pensar que nós vamos contar aos jornalistas
que tu morreste? – perguntou Zip.
- Isso mesmo! – sorriu Lara.
- E se o homem não ler ou vir as notícias? – insistiu
ele.
- Vamos fazer uma cova no jardim e uma campa falsa com
o meu nome. Quando ele cá voltar vai vê-la antes de entrar, quase de certeza! –
pensou ela.
- E está a pensar ficar escondida para sempre,
senhora? – inquiriu Winston, preocupado com a ideia.
- Claro que não! Quando ele menos esperar irá para a
cova primeiro do que eu! – respondeu ela.
- Ai! Não gosto nada dessas brincadeiras com mortes! –
suspirou Winston, aflito.
► CAPITULO #24
Pouco tempo depois já tinham tudo planeado! Winston ligou
para a imprensa a dizer que Lara havia morrido naquela manhã, vítima do
assassino que tinha morto vários arqueólogos, argumentando que achava que ela
merecia uma enorme homenagem e que todos falassem na tão famosa Lara Croft,
para que ela pudesse ser eterna.
Claro que, perante tal notícia, nenhum jornalista
ficou indiferente. Tanto nas revistas como nos jornais e na televisão apareceu
a notícia da morte de Lara. Alguns jornalistas pediram provas e queriam ver o
corpo mas Winston disse que este já estava enterrado no jardim. Era disso que
Zip estava a tratar. Estava a encher de terra uma cova que tinha feito e depois
era só encomendar uma campa falsa. Até deixaram alguns jornalistas tirarem
fotografias à cova.
Enquanto tudo isto acontecia, Lara estava no seu
quarto, sentada na cama, a pensar na possibilidade do seu plano não resultar.
Era a sua última esperança. Todo o mistério estaria prestes a ser desvendado.
Anoiteceu. Em alguns canais de televisão já estava a
dar a notícia de última hora, porém, ninguém na mansão Croft estava a ver
televisão. Da janela do seu quarto Lara conseguia ver a cova feita no quintal,
que estava a alguns metros do portão principal.
Chovia e trovejava como na noite anterior, agora com
um pouco de nevoeiro. Lara viu pela janela a figura sinistra a trepar o portão,
para atravessá-lo. Antes de o escalar, tinha atirado uma pá para o lado de
dentro.
Ao conseguir entrar no jardim, o homem misterioso
agarrou na pá e caminhou lentamente até à cova.
Lara correu até ao andar inferior, chamando com voz
baixa Winston e Zip.
- Que se passa? – perguntou Zip.
- Façam pouco barulho! O homem está lá fora! –
explicou ela.
Foram todos até à cozinha, baixando-se junto à janela,
de modo a que pudessem ver tudo, sem serem vistos.
- Onde deixaste a pá que usaste para cavar aquilo lá
fora? – inquiriu ela.
- Lá fora, junto à porta de entrada. Não a trouxe para
dentro porque estava suja. – respondeu Zip, confuso.
Lara levantou-se e caminhou na direção da porta.
- Onde vai? – perguntou Winston, nervoso.
- Fiquem aí! Eu trato disto! – ordenou ela.
- Tenha cuidado! – pediu Winston.
- Muito cuidado! – completou Zip.
Lara abriu a porta da rua muito lentamente. Ao mínimo
ruído era apanhada. Não a fechou, para não arriscar. A figura sinistra estava de
costas para Lara e parecia estar a escavar a terra que, supostamente, enterrava
o corpo da arqueóloga.
Ela, arrepiando-se, agarrou na pá que Zip tinha
deixado ali e caminhou passo a passo na direção do homem misterioso.
Estava a poucos centímetros dele e ainda não tinha
sido vista. Ele já tinha escavado um bom pedaço e estava quase no fundo. Lara
ergueu a sua pá, preparando-se para o atacar quando ele se virou e, ao vê-la,
fez-lhe uma rasteira, fazendo-lhe cair para a cova.
- Vai para o Inferno! – gritou o homem, erguendo a sua
pá.
De seguida começou a enterrar Lara viva, que estava
caída no fundo, magoada no braço.
► CAPITULO #25
Zip e Winston, aterrorizados e completamente em pânico
saíram a correr na direção da figura sinistra, mas esta viu-os e começou a
fugir, correndo o mais rápido possível dali. Zip, não se conformando com a
ideia do homem voltar a fugir, deu-lhe um tiro na perna. Agora sim! Sangue! O
homem misterioso caiu no chão.
Lara não estava completamente enterrada mas permanecia
muito aflita. Zip e Winston desenterraram-na com as mãos o mais rápido que
conseguiram. Lara estava bem. Um pouco atordoada, mas bem.
Ela não lhes agradeceu nem olhou para eles. A sua
atenção estava toda concentrada naquela figura sinistra que estava a tentar
levantar-se do chão. Lara correu atrás dela. O homem misterioso, ao conseguir
levantar-se, começou a fugir usando apenas uma das pernas. Lara tinha-se
esquecido das armas em casa, mas nem isso a fez voltar para trás. Viu, alguns
metros adiante, o homem a trepar o portão. Ela fez o mesmo. Já tinham
atravessado o portão do jardim da mansão e Lara continuava a perseguir a figura
sinistra, que fugia só com um pé, mas que tinha um grande avanço.
Estava escuro e Lara estava a perder o rival de vista!
Tinham entrado numa floresta e a luz era escassa. A uma certa altura Lara
deixou de ver a figura sinistra mas continuou a correr sempre em frente. De
repente Lara ouviu o homem misterioso tropeçar e cair em água. Era um
lago! Lara entrou no lado e começou a procurar o homem com as mãos, apalpando
tudo o que encontrava.
Não encontrou nada e começou a voltar para trás, em
direção a casa, na esperança de, no dia seguinte, encontra-lo!
- Lara? O que aconteceu? – perguntou Zip ao encontrar
Lara pelo caminho.
- O que estão aqui a fazer? – surpreendeu-se ela.
- Viemos atrás de si! Estávamos preocupados! –
explicou Winston.
- Estás toda molhada! O que aconteceu? – inquiriu Zip.
- Entramos num lago e eu perdi-o. Não sei se bateu com
a cabeça e está lá, não sei se fugiu, não sei nada! Tentei procura-lo mas
estava muito escuro! – explicou ela.
- Não te preocupes! Amanhã de manhã vamos procura-lo!
O que achas? – sugeriu ele.
- Sim! Amanhã volto cá, mas não sei se ele ainda
estará cá! – informou ela.
- Agora temos um problema! – interrompeu Winston.
- O que foi? – perguntou Lara.
- Agora ele já sabe que a senhora está viva! –
respondeu ele.
- Resta saber é se ele está vivo! – corrigiu Lara.
No dia seguinte, Lara e Zip foram até ao lago procurar
a figura sinistra enquanto Winston ficou em casa a tratar de outros assuntos.
- Pronto! Chegamos! – apontou Lara, ao avistar o lago.
O Lago estava ligeiramente vermelho. Era sangue! Zip e
Lara começaram a andar à volta do lago, procurando um corpo.
- Nada! – lamentou Lara.
- O corpo deve ter afundado! – pensou Zip.
- Ou então ele fugiu – continuou ela – Bem, o que
achas de entrarmos no lago para procurar melhor?
- Vamos a isso! – concordou Zip.
Mal sabiam eles que o que estavam prestes a encontrar
iria mudar tudo.
► CAPITULO #26
Nadar sem fato de banho não era novidade para Lara.
Toda a sua vida mergulhou sem se preocupar com a roupa. Desta vez não seria
exceção. Zip, porém, nunca tinha feito nada parecido. Na verdade, ele não
gostava muito da ideia mas ficava mal um homem tão forte deixar uma senhora
fazer uma coisa daquelas sozinha. Então, ele viu-se praticamente obrigado a
fazê-lo.
Entraram os dois no lago e separaram-se para procurar
o homem misterioso. O lago não era grande nem fundo. Mas tinha profundidade
suficiente para esconder um corpo afundado.
Com os pés e com as mãos, começaram a procurar
irregularidades no fundo. Quando menos esperava, Zip tropeçou em algo, caindo
na água. Não foi o suficiente para ele ficar completamente submerso porque algo
lhe amparou a queda.
Era alguém com a roupa e a capa com capuz do homem
misterioso e onde Zip tropeçou, foi numa rocha que estava no fundo do lago.
Poderia ser? Poderia mesmo estar na hora de descobrir quem seria a figura
sinistra?
- Lara! Chega cá! – chamou ele, espantado!
- Meu deus! – surpreendeu-se ela, ao ver alguém com
aquelas roupas afundado no lago.
Zip não aguentou e tirou-lhe o capuz! Era um homem!
Até agora Lara não o estava a reconhecer. Ele estava com o rosto virado para a
água, por isso ainda não era possível ver o seu rosto!
- Vira-o! – pediu ela.
Zip virou o corpo e puderam observar um homem, na casa
dos quarenta, morto, com uma grande ferida na cabeça.
- Conheces? – inquiriu ele.
- Não! Que estranho! Como posso não conhecer uma
pessoa que me quer matar? – estranhou Lara.
- É muito estranho mesmo! Faz um esforço! Deves
conhecê-lo! – insistiu ele.
- Não conheço! Já disse! – irritou-se Lara.
- Bem, mas ele conhece-te! Caso contrário não teria
motivos para te tentar matar. – pensou ele. – Agora será difícil saber… Ele
está morto! Deve ter batido com a cabeça na pedra onde tropecei.
- Mas quem será ele? Quais seriam as suas razões? –
intrigava-se ela.
- Bem, o que fazemos? – perguntou Zip.
- Por mim fica aqui a apodrecer! – disse Lara,
virando-lhe as costas.
- Então? O que aconteceu? – Perguntou Winston,
assustadíssimo, ao vê-los regressar a casa.
- Basicamente vimos a cara ao homem e eu não o conheço
de lado nenhum. – contou Lara.
- Não conhecia o homem? Meu deus! Então não era um
fantasma? – recomeçou ele.
- Claro que não era um fantasma, Winston! Não vai
começar, pois não? – irritou-se ela, novamente.
- Não! Desculpe, senhora! – desculpou-se, saindo dali
para ir fazer o seu trabalho.
- Lara, estou aqui a pensar numa coisa que não me sai
da cabeça desde que vimos a cara ao homem. – desabafou Zip, ao ficar sozinho
com Lara.
- O que foi agora? – inquiriu ela, curiosa.
- O homem não tinha barba? – lançou ele.
Nesse momento o coração de Lara começou a bater mais
rápido. Com tanta confusão e emoção ela nem se lembrou que o homem, que sempre
lhe “assombrou” a casa, tinha barba, porém, o homem que encontraram morto no
lago com as suas roupas, não tinha.
► CAPITULO #27
- As pessoas podem fazer a barba! – pensou Lara.
- Lara, o homem que encontraste morto no lago não é o
mesmo homem que nos tem assombrado a casa! O homem que esteve aqui e tentou
enterrar-te viva tinha barba! Como é que no dia a seguir não tem se,
supostamente, morreu com a queda no lago? – insistiu Zip.
- Pois! Tu tens toda a razão! Eu é que estou aqui a
tentar arranjar desculpas para me ver livre deste pesadelo! Ele só quis
incriminar alguém! – lamentou ela.
- Mas se calhar só tentou incriminar alguém porque
decidiu parar com tudo isto… - pensou ele.
- Hum… Não me parece! Depois de matar todos aqueles
arqueólogos? Depois de só faltar um alvo? Depois de estar tão perto do seu
objetivo, seja ele qual for? Acho que não. – disse ela.
No dia seguinte Winston acordou Lara, mais uma vez,
com um jornal na mão, preocupadíssimo:
- Senhora! Senhora! O fantasma não estava morto? –
gritava ele.
- O que se passa, Winston? – protestou ela, com sono.
- Vem no jornal a notícia de que a polícia encontrou
um homem com as vestes do assassino dos arqueólogos morto no lago, mas que,
ontem à noite, ele foi visto perto de uma casa isolada próxima de uma doca em
Liverpool.
- O quê? Deixe-me ver! – pediu ela, levantando-se
rapidamente.
Ao ler a notícia Lara nem queria acreditar na grande
pista que tinha em mãos!
- A polícia foi atrás dele mas ele escapou! Filho da
mãe! Escapa sempre! – revoltou-se ela.
- Tem razão! Mas há uma coisa que a polícia não fez! –
continuou Winston.
- O quê? – perguntou ela, curiosa.
- Não foram investigar a casa que ficava próxima do
sítio onde ele foi visto! – informou ele.
- Acha que é a casa dele? – inquiriu ela.
- É possível… O que estaria ele a fazer numa zona sem
mais casas? – pensou ele.
- Pois é! Hoje mesmo vou lá! Vou falar com o Zip e
perguntar se ele quer vir comigo! Ah! E, Winston, tenho fome! – informou ela.
- Não diga mais nada! Vou já preparar-lhe um
pequeno-almoço reforçado! – sorriu ele, indo embora.
-Zip, preciso de falar contigo! – começou ela, ao ver
Zip na sua sala enquanto descia as escadas!
- Diz! – respondeu ele.
- Hoje à noite queres ir comigo investigar a casa do
homem misterioso? – sugeriu ela.
- A casa dele? Mas desde quando é que sabes onde ele
mora? – impressionou-se Zip.
- É uma longa história! Vens ou não? – insistiu ela.
- Hoje não posso, desculpa! Tenho um jogo de póquer na
casa de um amigo da faculdade! – explicou ele.
- Tu jogas póquer? Não sabia! – surpreendeu-se ela.
- Há muitas coisas que não sabes sobre mim! Mas olha,
se quiseres podemos ir agora! – disponibilizou-se ele.
- Não pode ser! Tem de estar de noite para ninguém me
ver! Ainda pensam que é um assalto… - negou ela.
- E vais sozinha? Podes sempre ir amanhã! – sugeriu
ele.
- Não! Eu vou hoje à noite, sozinha!
► CAPITULO #28
A escuridão da noite invadiu a mansão Croft. Lara já
estava pronta e preparava-se para sair de casa.
- Onde é que eu deixei a porcaria das chaves da mota?
– queixava-se ela, enquanto andava de um lado para o outro.
- Está à procura disto, senhora? – inquiriu o mordomo,
estendendo a mão que segurava as chaves procuradas por Lara. – tenha cuidado!
- Merda! Tenho pouco combustível! Vai ter de chegar! –
dizia Lara, ao sentar-se na sua mota.
Liverpool era o seu destino! A arqueóloga, sem preocupação
com a velocidade a que ia, pôs-se a caminho. Já estava dentro da cidade e
procurou uma doca, para facilitar a procura da tal casa.
- Desculpe, sabe dizer-me onde fica a doca? –
perguntou Lara ao parar a mota junto a uma senhora que passava.
- Continue por este caminho! Chegará lá! – indicou
ela.
- Obrigada! – agradeceu Lara.
Chegou lá. Realmente não tinha visto nenhuma casa pelo
caminho, mas já sabia que, a primeira que visse, seria a única.
Continuou a procurar perto dali até que encontrou uma
casa. Era velha. Parecia estar abandonada! Das janelas não vinha luz nenhuma!
Ou não estava lá ninguém ou estavam a dormir.
- Vou precisar de ti! – sussurrava Lara ao tirar a sua
lanterna da mochila.
A arqueóloga não necessitou de grandes estratégias para
entrar na casa. Um pequeno empurrão na porta principal e esta foi
abaixo. Enquanto entrava, Lara agarrou numa das suas pistolas, segurando a
lanterna com a outra mão.
Não deu muitos mais passos até encontrar algo, no
mínimo, arrepiante: Estavam duas cordas de enforcar presas ao teto da casa!
- Meu deus! – sussurrou ela. – que lugar é este?
Nesse momento o telemóvel de Lara começou a vibrar.
Zip estava a ligar-lhe!
- O que foi? – atendeu ela.
- Lara! Volta para casa! O filho da mãe está aqui! –
gritou Zip.
- O quê? – questionou Lara.
- O homem! O homem misterioso está no jardim! –
continuou ele.
- Tratem vocês dele! Estou prestes a descobrir muita
coisa! – finalizou ela, desligando o telemóvel e deixando Zip a falar sozinho.
Lara até podia achar que só faltava descobrir quem era
a verdadeira figura sinistra, mas a verdade é que ainda havia uma história a
expor por trás de tudo isto.
► CAPITULO #29
“Pode parecer mais suave ao imaginar, mas ao sentir é
diferente. Ao ler isto vão imaginar uma situação muito mais ligeira do que a
realmente é. Mesmo assim, aqui vai: Sabem aquela sensação de estarem sozinhos?
Não estou a falar daquela solidão normal pela qual todos nós passamos em certos
momentos do nosso dia-a-dia. Até esse ponto, é uma solidão saudável. O que
ultrapassa essa situação torna-se mais preocupante! Durante anos eu esperei por
ti! Sempre na esperança que voltasses. Os outros voltaram! Voltaram todos! Tu
ficaste lá para sempre. Onde estás? Para onde foste? Porque nos abandonaste?
Porque me abandonaste?!
Sim, é complicado. Dizem que a esperança é a última a
morrer. No meu caso isso não aconteceu. Ela foi-se! E com ela foram todos os
meus planos, todos os meus sonhos e todo o meu sustento! Não consigo viver sem
ti! É por isso que hoje vamos ter contigo. Porque é que deixei este bilhete?
Bem… Talvez a esperança não se tenha apagado por completo! 99% do meu coração
diz-me que já não estás entre nós. 1% fica agarrado à esperança de que um dia
voltes! De qualquer das maneiras, até já.
Olívia.”
Foi esta mensagem que Lara encontrou escrita num
bilhete que se encontrava no chão, entre as duas cordas de enforcar.
- Olívia? Hum… O que é que me está a escapar? –
questionava-se ela.
Os seus pensamentos foram, mais uma vez, interrompidos
pela vibração do telemóvel. Zip ligava-lhe.
- Diz. – atendeu ela.
- Lara, sai daí agora! Ele percebeu que estavas na
casa dele! Prendeu-nos e encontrou o jornal no teu quarto! – gritava Zip.
- Vocês não sabem fazer nada! Daqui eu não saio! Ele
que venha! – zangou-se ela, desligando o telemóvel.
A arqueóloga não podia fugir. Não agora que estava a
descobrir tanta coisa! Decidiu continuar a explorar a casa. Não encontrou mais
nada de estranho e não havia sinal da figura sinistra. Porém, ainda não estava
tudo visto! Lara ainda não tinha espreitado o jardim das traseiras.
Lá, viu algo mais macabro do que as cordas. Algo que
lhe causou arrepios constantes. Junto a uma árvore estavam duas covas cheias de
terra! Uma maior e outra mais pequena! Com um pouco de esforço, aproximou-se e
na cova maior pôde ler escrito: “Eu prometo”, lendo, assim, na mais pequena:
“vingança”, como se uma completasse a outra. Parecia ter sido escrito com um
dedo ou qualquer coisa do género.
- Isto está a ficar cada vez mais estranho. – pensou
ela.
Naquele instante Lara sentiu uma mão no seu ombro.
Tinha receio de se virar e ver quem era, mas teve de olhar! Era o homem
misterioso. Não só tinha uma mão no ombro da arqueóloga, como tinha uma
faca apontada para ela.
A figura sinistra virou a faca ao contrário e bateu
com ela na cabeça de Lara, fazendo-a ficar inconsciente.
► CAPITULO #30
Estava frio. A primeira coisa que viu ao abrir os
olhos foi o homem misterioso! Lara estava fraca. Sentia-se como se lhe tivessem
atropelado e tinha uma ferida na cabeça, causada pela faca. Bem que tentou
procurar as suas armas com as mãos, mas não teve sucesso.
- De hoje não passa! – disse o homem, saindo dali.
Ela estava entre as duas cordas de enforcar, deitada
no chão. Não estava atada, aproveitando assim, para tentar fugir. Correu,
embora com muitas dores. Olhou para trás. Já estava a alguns metros da casa e
conseguia ver o homem misterioso a correr atrás dela. Estava nevoeiro.
Tropeçando sabe-se lá onde, caiu no chão. O homem
misterioso passou por ela a correr e continuou sempre em frente, sem a ver.
Com medo de ser vista, Lara começou a rastejar até à
casa, na esperança de encontrar as suas armas ou o seu telemóvel.
Já estava junto à porta quando ouviu passos a
voltarem. No meio de um arrepio, olhou para trás e viu a figura sinistra a
correr. Aí a arqueóloga levantou-se e entrou na casa a correr.
Nervosa, não sabia o que fazer, então, trancou-se na
casa de banho. Lá dentro, mal respirava, de modo a não fazer barulho, para não
ser descoberta.
- Aparece! – gritava o homem, quebrando tudo o que
encontrava.
Os nervos de Lara aumentavam a cada pancada que ouvia.
Sentia as coisas a tremer e a partir. Vidros, móveis, tudo! O homem estava a
virar a casa ao contrário e, certamente, não faltaria muito para chegar até à
casa de banho! Ela precisava de sair dali.
Não teve muito tempo para pensar pois foi interrompida
por um grande estrondo que ia metendo a porta abaixo. A figura sinistra estava
a tentar entrar na casa de banho. A avaliar pela resistência da porta
principal, a entrada do homem não iria tardar.
Lara não pensou duas vezes e enfiou-se dentro da
banheira, fechando as cortinas. Nesse preciso momento o homem arrombou a porta,
entrando na casa de banho. O primeiro sítio onde foi procurar foi precisamente
onde ela estava! Abriu as cortinas, descobrindo-a.
Surpreendendo-lhe, a arqueóloga agarrou no suporte das
cortinas, que era de ferro, e lançou-o à cabeça do homem, aproveitando para
fugir.
Para onde poderia ela ir? Decidiu tentar de novo e
correr até à mota. A figura sinistra corria atrás dela. Lara já estava sentada
na mota e as suas luzes taparam a visão ao seu rival. A arqueóloga não hesitou
e acelerou em direção a este, com o objetivo de acabar com aquela história de
uma vez por todas.
O homem agarrou numa pistola e disparou para os dois
pneus da mota, provocando a Lara uma pequena queda.
- Não tenhas dúvidas de que hoje acaba tudo! – gritou
a figura sinistra, tirando o capuz e dando um pontapé na cara de Lara.
- Tu? – surpreendeu-se ela, enquanto cuspia sangue.
► CAPITULO #31
Sim, eu! – gritou ele.
- Est… Est… - gaguejava Lara, incrédula.
- Estêvão! Sim!
- Como é possível? – inquiriu ela.
- Como? Bem, foi possível! Mas poderia ter sido muito
mais fácil, sabes? – berrou, dando outro pontapé na cara de Lara.
- Porquê tudo isto? Porquê? – irritou-se ela.
- Porquê? Simples! Vingança! – acalmou-se Estêvão.
- Vingança? Eu nunca te fiz nada! O que se passa? –
gritou ela.
- Para com as perguntas e ouve! Vais ficar a saber de
tudo, mas da morte não te escapas! Quero que morras esclarecida, por isso aqui
vai: Naquela viagem de barco que fizemos há uns anos com uns arqueólogos,
ninguém sabe o que aconteceu verdadeiramente! Vocês safaram-se todos! Eu vi! Eu
estava enterrado naquela merda toda e ninguém me ajudou! Cada um estava
preocupado em salvar-se a si próprio. Só vos via a nadar para a superfície
enquanto eu estava ali, aflito, coberto por milhares de moedas de ouro. –
começou, sempre com uma pistola apontada para Lara.
- E não morreste? – interrompeu ela.
- Cala-te! Eu ainda não acabei! Eu mal comecei! Depois
disso só me lembro de acordar numa praia. Eu não sabia quem era. Eu não sabia
nada. Tinha perdido a memória e estava completamente desorientado. Estava numa
ilha qualquer e vivi lá anos sempre sem saber quem eu era. Ou melhor, eu
sobrevivi. Quando me comecei a lembrar das coisas, juntei dinheiro até ter o
suficiente para regressar a casa. Ou seja, passaram-se mais uns bons anos. Eu
tinha uma filha, a Allie! Eu tinha uma mulher, a Olívia! Eu tinha uma família!
Quando cheguei a casa sabes o que encontrei? – perguntou ele, com uma lágrima
no olho.
- Imagino. – respondeu Lara.
- Elas mataram-se! Mataram-se as duas! Lembro-me de
tudo tão bem… Cheguei a casa mais contente do que nunca e vi as duas mulheres
da minha vida enforcadas! Duas cadeiras no chão e a merda de um bilhete! Sabes
o que dizia o bilhete? Elas mataram-se porque achavam que eu estava morto! Eu é
que as sustentava! Elas passavam grandes necessidades sem mim! Mataram-se! Vês
o que aconteceu? Tudo por causa de vocês! De ti e de todos os arqueólogos que
foram naquela viagem e que não pensaram duas vezes em regressar sem mim! A
minha família viu-vos a voltar… Elas viram que voltaram todos os arqueólogos,
exceto eu. Ninguém sabia nada de mim! – contou.
- E qual é o objetivo da tua vingança? Matar-nos a
todos? – gritou Lara.
- Não… É muito mais do que isso! A vingança consiste
em aterrorizar os vossos últimos dias de vida! Como se eu fosse um fantasma!
Mandei aquela carta a todos! Como fiz contigo, assustei-vos a todos com esta
roupa, com sons de água, gritos e tudo o que tu tens visto de
estranho nos últimos tempos! E lembras-te daqueles tempos em que nunca mais
apareci? Foi apenas uma pausa porque a polícia estava atrás de mim! Ah! E o homem
que encontraste morto no lago, recordas-te? Foi uma sorte! Matei-o e
vesti-lhe as minhas roupas! Não faço a mínima ideia de quem ele é, mas também o
que faria ele ali àquelas horas? Só pode ser o destino! A justiça será feita! Sim! Foi
tudo planeado! Imagina o que seria morrer tranquilamente. Não! Não era
suficiente para mim! Tinham de morrer todos aterrorizados! Tinham de viver num
inferno como eu vivo desde o dia do naufrágio! – explicou ele.
- E o que vais fazer comigo? – sussurrou ela.
No meio de uma gargalhada maléfica, Estêvão respondeu,
como sempre, sinistramente:
- Contigo? Vais ter a pior morte de todas! Isto vai
acabar onde começou! No mar!
► CAPITULO #32
Nesse momento tudo foi interrompido pela sirene da
polícia, que se aproximava!
- Zip! – sussurrou Lara, sorrindo.
- Até agora não me apanharam! Não será agora! –
murmurou o assassino, agarrando Lara pelo cabelo.
Ele colocou automaticamente o capuz e, arrastando a
arqueóloga até um velho carro, tentou escapar. Embora um pouco estragado, o automóvel
ainda andava rápido! A alta velocidade, Estêvão fugia à polícia com Lara no
carro.
- Para onde estás a ir? É impossível fugir!
Entrega-te! – gritava Lara.
- Cala-te ou levas um tiro no meio dos cornos! –
ameaçou ele, nervoso.
Ainda que fraca, Lara partiu o vidro de uma das
janelas do velho caro, com os pés, tentando fugir de alguma maneira. Estêvão
olhou para o banco de trás, onde estava a rival e viu a janela partida, com
muitos vidros espetados.
- Força! Corta o pescoço aí! – riu-se ele.
- Estás muito bem-humorado para quem vai ser apanhado!
– disse ela.
Lara já conseguia ver ao longe uma doca, onde não
havia ninguém e um arrepio acompanhou o pensamento que ela teve. O que iria
aquele homem fazer com ela? Como poderia ela defender-se sem armas e tão fraca
como estava? Para piorar a situação, Estêvão estava a conseguir despistar o
carro da polícia. Era, provavelmente, a primeira vez, em muitos anos, que Lara
estava tão assustada.
- O que vais fazer? Fala comigo! – chorava ela.
- Calma, minha querida! Tens medo, é? – provocou ele.
Chegaram lá! O homem estacionou numa zona escondida.
Saiu do carro e abriu o porta-bagagens, tirando de lá uma corda e um peso de
fazer exercício. De seguida abriu a porta de trás do carro e puxou Lara,
violentamente, deixando-a caída junto ao veículo. Puxou-a pelo cabelo e
encostou-a ao automóvel, fazendo-a ficar em pé. Aí, amarrou-lhe os braços
fracos e as pernas com uma corda que, por sua vez, estava atada ao peso.
- Para! Por favor! – desesperava Lara ao ouvir a
sirene afastar-se.
- Agora vais dizer “olá” aos peixinhos, pode ser? –
sorriu ele, sinistramente, como sempre.
Agarrou nela e levou-a até junto de água, perto de um
amarradouro, onde estava preso um barco. Ela estava em pé, embora com muito
esforço e o homem segurava no peso, preparando-se para o golpe final.
- Últimas palavras? – perguntou ele.
Nesse instante Lara fez uma rasteira a Estêvão,
fazendo com que este quase batesse com a cabeça no sítio onde estava atado o
barco. Por sorte ou azar, ele não sofreu qualquer dano, levantando-se
rapidamente. A arqueóloga não teve sucesso ao tentar fugir devido à bola pesada
que estava presa a ela.
- Já chega! Boa viagem até ao inferno! – gritou ele,
empurrando-a e fazendo-a cair da margem.
► CAPITULO #33
Não se ouviu o som da água. Estêvão espreitou e viu
Lara caída nas rochas que antecediam o mar.
- Salta! – ordenou ele, irritado.
- O quê? – gritou Lara.
- Salta para a água! Agora! – repetiu, apontando-lhe
uma pistola.
Morrer afogada ou baleada? Uma escolha difícil que não
oferecia muito tempo para pensar. Lara optou pela primeira opção. Caminhou com
esforço até sentir que as rochas acabavam, arrastando o peso consigo. A água já
lhe chegava à cintura e o próximo passo fá-la-ia cair para o fundo.
- Vamos! Mexe-te! – insistiu o homem.
Lara olhou uma última vez para trás com um olhar de
raiva e, de seguida, atirou-se. Estêvão ficou a olhar por uns segundos e a
única coisa que podia ver eram bolhas que vinham à superfície.
- É impossível sobreviver! – riu ele – A vingança
agora está completa!
Ao ouvir a sirene da polícia aproximar-se novamente,
Estêvão entrou no carro e saiu dali, atravessando o seu veículo mesmo na frente
do da autoridade, a alta velocidade. Aí iniciou-se outra perseguição, fazendo
com que Lara estivesse distante de tudo e de todos, a afogar-se.
A água estava gelada e a arqueóloga ainda não tinha
aberto os olhos. Abrir para quê? Estava de noite… O que poderia ela ver? Mesmo
assim abriu, apenas por uns instantes. A lua cheia era a única coisa que
iluminava o local. Lara olhou para as mãos. Estavam atadas. Olhou para os pés.
Estavam atados. Olhou, por fim, para o fundo. Viu a bola pesada praticamente
enterrada na areia.
Estava a ficar sem ar. Pareceu que, por um segundo, a
arqueóloga se esqueceu que estava debaixo de água e inspirou fundo. Engoliu
bastante água. Ela estava aflitíssima! Desesperada!
"Não! Eu não posso morrer assim" – pensava
ela – "Vamos lá, Lara!"
Zip e Winston continuavam presos na mansão, a
quilómetros de Lara. Esta, como último recurso e tentativa de salvação, começou
a cortar a corda, friccionando-a contra as rochas. Quem poderia imaginar?
Resultou! Estava com as mãos livres, mas os pés ainda estavam atados ao peso.
Finalmente mergulhou até à bola pesada que lhe impedia de fugir e desprendeu-a
da corda. Nadou o mais rápido que conseguiu.
Chegou à superfície, vomitou e desmaiou, ficando
deitada numa rocha.
► CAPITULO #34
Zip estava na cozinha com Winston, a tomar café. Ambos
com um ar preocupado. Era de manhã. A noite anterior tinha sido muito emotiva
para todos, principalmente para Lara, da qual ninguém sabia desde então.
O que aconteceu com a antiga figura sinistra? O
Estêvão? Bem, logo depois de ter passado pelo carro da polícia, o seu automóvel
foi contra uma árvore e ele foi apanhado! Foi preso!
A polícia libertou Zip e Winston, que tinham estado
presos toda a noite. Parecia estar tudo a voltar ao normal. Só faltava
encontrar Lara. Estaria viva?
- Estou preocupadíssimo com a senhora Croft –
desabafava Winston.
- Também eu! A polícia não dá novidades… Ainda estão a
procura-la… - concordava Zip.
Nesse instante o telefone tocou. Winston deixou tudo o
que estava a fazer e correu para o atender.
- Sim? – começou ele.
- Bom dia! Encontramos a senhora Lara! – saudou um
polícia, com uma aparente boa notícia.
- Não me diga! Que bom! Ela está bem? – festejou o
mordomo.
- Não lhe queremos mentir. A situação é má! Foi
encontrada completamente encharcada numas rochas na doca e engoliu muita água.
Já foi encaminhada para o hospital, inacreditavelmente, ainda viva. Corria
sérios riscos de morrer de hipotermia ou até mesmo de afogamento. Felizmente
ainda a encontramos a tempo de poder ser salva! Vai precisar de descansar
muito! – explicou o homem.
- Hum… Entendo! Mas ela ficará bem, certo? – insistiu
Winston.
- Esperemos que sim! Bem, vamos ter que desligar!
Pergunte pela Lara Croft no hospital de Liverpool! Eles mostrar-lhe-ão o quarto
onde a senhora se encontra. Bom dia! – despediu-se ele.
- Então? – perguntou Zip, ao ver Winston desligar o
telefone, não muito satisfeito.
- A senhora Croft está no hospital de Liverpool e
corre risco de vida! É uma longa história! Temos de ir para lá agora!
Entretanto, na prisão, Estêvão conversava com o colega
de cela que lhe tinha calhado sobre o que os levou até ali.
- Fui vítima de uma grande injustiça! – queixou-se o
idoso.
- O que se passou? – inquiriu Estêvão, sem a menor das
paciências para o aturar.
- Um dos guardas desta merda matou um homem e
acusou-me! Simplesmente trouxe-me preso! Disse que me apanhou em
flagrante! Que matei um homem! Mas é tudo mentira! Eu vi com os meus próprios
olhos! Foi ele quem matou o pobre homem! – explicou o senhor.
- Hum… Qual dos guardas é? – inquiriu ele, agora mais
desperto para o assunto.
- Aquele. – apontou o homem, discretamente.
- Aquele? Eu conheço-o! Não sei de onde mas sei que…
Já sei! Ele… Ele era um grande ladrão lá na terra onde eu cresci! Como é que
este idiota se tornou guarda? – surpreendeu-se Estêvão.
- Conheces? Ele era um ladrão? Então acreditas em mim!
Eu não matei ninguém! E tu como vieste preso? – perguntou o velho.
- Isso não interessa para nada! Não percebes? Temos
uma grande carta em mãos! Podemos fazer o que quisermos com aquele guarda! Com
as informações que temos? O que quisermos!
► CAPITULO #35
Lara já estava como nova, na sua mansão. Tinha
passado um mês desde que ela tinha descoberto toda a verdade acerca de
Estêvão. Zip e Winston já estavam a par de tudo e sentiam-se, agora, muito mais
seguros, com o antigo homem misterioso, preso. Ele tinha acabado de ir a
julgamento e foi declarado culpado, sendo condenado a 30 anos de prisão.
A arqueóloga, porém, não se sentia completamente
segura e estava a pensar em alguma forma de ter aquele homem sempre debaixo do
olho. Ela podia perfeitamente contratar um guarda para o vigiar todo o dia. O
dinheiro não era o problema, mas mesmo assim, ela não se sentia tranquila!
Tinha de ser ela própria a garantir que tudo estava bem, mas como? Jamais ela
passaria os dias na prisão. Numa conversa que começou com Zip, um génio da
informática, acharam uma solução para tudo.
- Bem, Lara, estive a pensar e podemos mandar instalar
câmaras de vigilância com microfones na cela do Estêvão e no recreio. Assim,
poderíamos ver e ouvir tudo através de um computador! Só tinhas de pagar a
alguém para as instalar lá e para estar a ver as gravações, porque eu não posso
dedicar-me a isso todo o dia! Podíamos também instalar um pequeno televisor no
teu quarto para que também possas assistir a tudo, quando te apeteça. O que
achas? – sugeriu ele.
- Hum… Não sei… Mas é a melhor ideia que temos… -
pensava ela – Quero mesmo poder vigia-lo! Tenho a sensação que ele só vai
arranjar merda ali dentro…
- Pensa no assunto! – insistiu.
- Bem, está decidido! Vamos fazer isso! Hoje mesmo vou
a Liverpool, falar com alguém na prisão que possa instalar as câmaras! –
informou Lara.
- Se ficas mais tranquila assim, eu também fico! –
terminou ele.
Algumas horas depois Lara já estava na prisão, a ter
uma conversa privada com um dos guardas. Não era um guarda qualquer! Era o tal
guarda que o colega de cela de Estêvão tinha visto matar um homem.
- Hum… Então quer ter sobre vigia o Estêvão, da cela
número 12, é isso? – resumiu o guarda.
- Sim! Estava a pensar que podia instalar umas câmaras
de vigilância e microfones escondidos para que eu pudesse ter acesso às
filmagens, em minha casa. Eu pago, claro! – explicou Lara.
- Senhora Croft, está a tentar subornar uma
autoridade? – surpreendeu-se ele.
- Subornar? Nada disso! Estou apenas a sugerir que me
faça um trabalho, no qual eu pago. – disse ela.
- Bem, de qualquer maneira, vou explicar-lhe como isto
funciona por aqui! Já temos câmaras de vigilância por toda a prisão! Sou eu que
fico responsável por elas, a maior parte do tempo! Sou eu quem fico a ver as
gravações! Há coisas nas quais os guardas não reparam, é por isso que temos as
câmaras! Quando não estou a tratar delas, estou a ver se está tudo nas devidas
condições com a cerca elétrica. O que eu iria sugerir era que, no lugar de
instalarmos mais câmaras, a senhora poderia pagar o acesso às que já temos! Só
teria de instalar uns microfones, porque não os temos! E só a senhora teria
acesso ao som! Sem ninguém saber de nada, claro! Ficava o nosso segredinho! –
sugeriu o vigilante.
- Acho muito bem! Temos acordo? – finalizou a
arqueóloga.
- Temos! – concordou o homem.
Mal sabiam eles que tinham acabado de traçar o destino
de Estêvão, naquele segundo.
► CAPITULO #36
Na semana seguinte Lara já tinha acesso às gravações
das câmaras de vigilância da prisão e os microfones tinham sido acabados de
esconder. Zip tinha um dos seus computadores disponibilizado exclusivamente
para isso e Lara contratou uma mulher para ficar a ver as gravações todo o dia
e outra para ver toda a noite, ambas com ordens para avisarem a arqueóloga à
mínima coisa. Eram as duas muito bem pagas e não desviavam o olhar dos ecrãs.
Lara, de vez em quando também assistia às filmagens, através do televisor que
foi posto no seu quarto. Agora sim, ela sentia que estava tudo bem.
Winston não gostava nada da ideia. Odiava que, mesmo
preso, Estêvão continuasse a causar desconforto pela mansão. Iriam passar os
próximos 30 anos assim? Sempre de vigia? Sempre alerta? E quando o homem saísse
da prisão? Já não haveriam câmaras que o vigiassem! Estes pensamentos não saiam
da cabeça do mordomo, já Zip, achava que, se Lara se sentisse melhor assim, não
custava nada fazer este pequeno esforço. Winston sentia-se incomodado ao ver as
mulheres quase sem se mexer, a olhar para um ecrã. Quase sem pestanejar! Só se
movimentavam para comer e beber, mesmo assim, sempre de olho nas gravações.
Entretanto, na prisão, Estêvão e Milton, o seu colega
de cela, começaram uma conversa suspeita, que fez chamar a atenção da mulher
que assistia às filmagens, fazendo com que esta chamasse de imediato a
arqueóloga.
- Olha, agora que saí do julgamento e que tenho mesmo
a certeza que vou ficar preso, acho que temos uma boa hipótese de fugir daqui!
– começou Estêvão.
- Fugir!? – surpreendeu-se o velho.
- Fala baixo! Sim, fugir! Com aquilo que me contaste
sobre um dos guardas, podemos chantageá-lo! Ou ele nos ajuda a fugir ou
contamos aos outros guardas que foi ele que cometeu o crime pelo qual foste
acusado! - explicou.
- Mas ninguém vai acreditar em nós! – lamentou o
senhor.
- Em nós não! Mas não podem desconfiar de provas!
Fazemos com que o guarda diga que foi ele e fica tudo guardado nas câmaras de
vigilância! – continuou, Estêvão.
- Ah! É uma ideia genial! Mas as câmaras só gravam a
imagem! Como vão ouvir a confissão dele? – inquiriu o idoso.
- Devem ter microfones… E se não tiverem pode ler-se
os lábios dele! Não percebes!? Vamos fugir desta prisão! Vamos sair do país e
nunca mais ninguém ouve falar em nós!
- Hum… Eu não preciso de fugir porque fica provado que
estou inocente! – sorriu o homem.
- Exatamente! – concordou o outro.
-Eu sabia que ele não se ia deixar ficar por aqui! –
irritou-se Lara, ao ver a gravação.
- Não se preocupe, senhora Croft! A polícia nunca vai
ceder a chantagem! – acalmava-a Winston.
- Mas há um problema! – recomeçou Estêvão.
- Qual? – perguntou o velho.
- Aquele tal guarda nunca mais andou aqui pelas celas!
Nunca mais o vi! – pensou ele.
- É normal! De acordo com o que se diz por aqui é ele
quem vê as câmaras de vigilância! – informou o homem. – ele raramente aparece
por aqui.
- O quê? Assim, na hora da confissão, ele vai
lembrar-se que está a ser filmado! – protestou ele.
- Não custa tentar… - terminou o colega.
- E eu que pensava que este filme tinha terminado!
Afinal era só o fim da primeira parte! – sussurrou Lara, com os olhos molhados
pela raiva.
► CAPITULO #37
Dias depois, o guarda das câmaras voltou a aparecer
pelas celas. Lara estava nesse momento a assistir às gravações. Era a
oportunidade perfeita para o plano dos dois colegas de cela ser posto em
prática!
- Hey! Vem até aqui! – chamou Estêvão.
O guarda, primeiramente olhou para trás para ver se
havia alguém e só depois percebeu que lhe estavam a chamar a ele. Desconfiado,
aproximou-se da cela.
- O que é que queres? – perguntou o guarda.
- Nada de especial! Hum… Lembras-te deste homem? – avançou,
puxando Milton, o seu colega, para as grades que os separavam da autoridade.
- Nunca o vi antes! – mentiu o homem.
- Vá! Não adianta mentir! Ambos sabemos que tu sabes
quem ele é! – continuou Estêvão.
- Não te dei confiança para me tratares por tu! –
protestou ele.
- Não desvies a conversa! – pediu o assassino – Tu
sabes que cometeste um crime e que culpaste este homem! Tu sabes!
- Fala baixo! O que pretendes? Não estou a gostar do
teu tom! – avisou ele.
- Como se estivesses em posição de exigir alguma
coisa! O meu objetivo é simples! Sair desta cadeia! E o teu também é!
Ajudar-me! – explicou.
- Tenho mais que fazer! Adeus! – despediu-se, virando
as costas.
- Vais arrepender-te se deres mais um passo que seja!
– gritou Milton.
Todos olharam para ali. O guarda parou e olhou para
trás. Aproximou-se novamente das grades, irritado.
- O que é que queres, seu velho? – sussurrou o homem,
entre dentes.
- Ou me ajudas a sair desta prisão ou todos ficarão a
saber o grande exemplo de autoridade que és! Escolhe! – ameaçou Estêvão.
- Pobre e ingénua criança… Isso só dá certo nos
filmes! Agora dorme que isso é sono! – respondeu ele.
- A escolha foi tua! Ainda hoje trocas de lugar
comigo! – provocou Milton.
- Ouçam bem! Acham mesmo que alguém vai acreditar em
vocês? Acordem! – irritou-se de novo.
- Hum… Primeiro mandas-nos dormir e agora acordar? Não
me pareces muito bem psicologicamente… Uns aninhos nesta cela iam fazer-te
maravilhas! – continuou Estêvão.
► CAPITULO #38
- Já avisei que não gosto desse tom – relembrou o
guarda.
- Já avisei que tens uma decisão a fazer! Ajudas-nos a
sair daqui ou contamos tudo o que sabemos! Tu sabes que mataste aquele homem e
que incriminaste o Milton! – continuava Estêvão.
- Sim! Eu sei que fiz isso, mas mais ninguém sabe! E
ninguém vai acreditar em vocês! – irritou-se ainda mais.
- Claro que não! Peço imensa desculpa! Tens toda a
razão, ninguém vai acreditar em nós! E é por isso que lhes vamos pedir que
vejam as gravações das câmaras de vigilância, onde tu acabaste de confessar que
trouxeste preso um homem pelo crime que tu cometeste! – riu-se ele.
Nesse instante o guarda lembrou-se de que estava a ser
filmado! Pior! Lembrou-se que Lara podia ouvir tudo da sua casa! Então, tentou
disfarçar:
- Eu confessei? Eu não disse nada… Agora adeus!
A autoridade foi até à sala onde se encontravam vários
televisores com as gravações das câmaras e desligou o acesso de Lara a estas,
assim como ao som.
- O que se passou? – inquiriu Lara ao ver o seu
televisor apagar-se.
- Não sei! Talvez um problema com as câmaras. Não deve
durar muito! – explicou Zip.
- Não estás a perceber? Ficamos sem imagem e sem som
logo na pior altura! – protestou ela.
De volta à cela de Estêvão, agora sem câmaras nem
microfones, o guarda reconheceu:
- Esqueci-me completamente das câmaras! Sim, eu
praticamente confessei tudo, é por isso que… vou… bem… vou ceder à chantagem!
- Chantagem? Hum… Que palavra feia! Ninguém usou
chantagem aqui! Bem, vamos combinar o nosso plano para sair daqui? – sugeriu
Milton.
- Está bem! Mas tem que ser muito rápido! Tenho
trabalho a fazer! E temos de fazer as coisas de modo a que eu não saia
prejudicado! Ninguém pode saber que vos ajudei! – explicou o homem.
Poucos minutos depois, Lara já tinha acesso às
gravações novamente, podendo apenas ver os dois colegas de cela a conversar,
depois de terem combinado um plano, do qual a arqueóloga não estava a par.
- Não te preocupes! Quando sairmos daqui tu mostras as
gravações à mesma e tornas-te inocente! – combinava Estêvão, com Milton.
- Sim! Espero que este plano resulte! – desabafou
ele.
Estêvão, sem qualquer paciência para aturar de novo o
velho chato, respondeu:
- Tem tudo para resultar! Eu sabia que ele nos ia
ajudar a sair daqui! Esta noite já estaremos livres! E pode ser que ainda dê um
saltinho à mansão Croft, para me certificar de que aquela arqueóloga inútil
morreu! Só depois poderei fugir do país, descansado, com a minha vingança
cumprida.
► CAPITULO #39
- Mal sabes tu que te estou a ouvir! – sussurrava
Lara.
- Disseste alguma coisa? – perguntou Zip.
- Nada! Esta noite tenho de ir à prisão! Consegues
fazer-me uma cópia destas gravações para um CD? Não posso deixar que ele fuja!
– pediu ela.
- Sim, consigo! Mas não te vão deixar entrar na prisão
à noite! Acho melhor ires agora, como visita e ficares lá sem ninguém saber. –
sugeriu ele.
- Isso não é crime? – inquiriu a arqueóloga.
- Se é crime não sei, mas quando evitares uma fuga da
prisão, desmascarares um guarda criminoso e ainda provares que um dos
prisioneiros é inocente, eu acho que ninguém se vai importar! – riu-se.
Entretanto, na cadeia, enquanto deveria estar a
verificar as gravações das câmaras de vigilância, o tal guarda chantageado,
apenas conseguia pensar na confissão que tinha acabado de fazer frente às
câmaras. E se Lara estivesse a ver as filmagens naquele momento? E se ela
tivesse percebido que ele condenou um homem por um crime que não fez? Poderia
ela saber que ele era um assassino? Bem… ele tentou disfarçar, mas contra
factos não há argumentos. Ele tinha, realmente confessado um crime. Depois de
muito pensar, finalmente concluiu:
- Não há outra escolha! Vou ter que atirar para bem
longe esta pedra que tenho no sapato! Bem longe! Para… vejamos… o Inferno!
Ainda era de manhã. Lara, que não descansa em serviço,
já estava na cadeia de Liverpool, como uma simples visita a Estêvão.
- Tens uma visita! Vem comigo! – chamou um guarda.
- Eu? – surpreendeu-se Estêvão.
- Estou a olhar para mais alguém? Claro que és tu!
Vens ou não? – irritou-se ele.
Caminharam por um corredor, passando por várias celas
até chegarem a uma sala com várias mesas e cadeiras. Estêvão mirou tudo. Em
todas as mesas havia uma pessoa vinda de fora sentada com um prisioneiro e um
guarda em pé ao lado. No entanto, uma das mesas não tinha nem prisioneiro, nem
guarda. Era para aí que eles se dirigiam.
Estêvão, ao ver Lara Croft sentada com as pernas e os
braços cruzados e com uns óculos de sol, com um ar de vencedora e um sorriso
provocante no rosto, encheu os olhos de lágrimas causadas pela raiva. Ela
estava viva! A sua vingança afinal ainda não estava cumprida.
"Já estou preso. O que tenho a
perder?" – pensou ele, atravessando os olhos para as armas do guarda que o
acompanhava.
► CAPITULO # 40
- O que é que fazes aqui? – irritou-se Estêvão.
- Não se nota? – riu-se Lara – Vim fazer-te uma
visitinha!
- Nem sabes o quanto eu te odeio! Um dia eu vou sair
daqui! E nesse dia… - ameaçava ele, quando foi interrompido pelo guarda, que
tossiu.
- Um dia… Hum… Tu não sais desta prisão tão cedo!
Prometo! – continuou ela, piscando-lhe o olho.
- Promessas… Para que servem? São apenas palavras que
saem pela boca fora, como todas as outras! As palavras que utilizamos para
promessas são as mesmas que utilizamos para mentiras! – provocou ele.
- Talvez as tuas sejam! As minhas não! Sabes porquê?
Porque eu cumpro sempre as minhas promessas! – sorriu a arqueóloga.
- E que promessa fizeste agora? Apenas prometeste que
não vou sair daqui cedo, mas vistos que estou numa cadeia, acho que isso é
óbvio e não teve muita lógica… - argumentou o assassino.
- Hum… Tu sabes do que estou a falar! – insistiu.
- Olha lá, o que é que queres dizer com isso? –
gritou, agarrando na pistola do guarda que se encontrava ao seu lado e
apontando-a, por breves segundos, para a arqueóloga.
A autoridade interveio imediatamente, puxando o braço
do homem e agarrando na pistola.
- Bem, acho melhor a visita ficar por aqui! – sugeriu
o polícia.
- Concordo! Olhe, fiquei muito assustada com esta
situação e preciso de ir imediatamente à casa de banho! É um caso urgente!
O vigia, atrapalhado e sem saber o que dizer, apontou:
- Claro! Ah! É… É por ali!
- Obrigada! – agradeceu ela.
Enquanto caminhava, Lara retirou, discretamente, um
par de luvas do bolso e calçou-as, dirigindo-se, assim, cuidadosamente, para a
sala das câmaras de vigilância, preparando-se para as desligar, quando entrou o
guarda que estava acordado com Estêvão, fazendo com que a arqueóloga
mergulhasse para debaixo de uma mesa, escondendo-se.
- Hum… Não podem haver quaisquer filmagens do que se
vai passar aqui agora! – afirmou ele, desligando as câmaras de vigilância e
saindo, de seguida, dali.
- Poupou-me trabalho a descobrir como isto se fazia! –
pensou Lara, espreitando cuidadosamente se o caminho estava livre.
Começou a seguir o homem mas um polícia apareceu,
andando naquele mesmo corredor, na direção de Lara. Esta não teve outra escolha
senão entrar na primeira porta que encontrasse, e assim foi! Entrou e fechou a
porta, mantendo-se virada para a parede, com receio de se virar e ver
alguém. Por enquanto, não ouvia vozes. Parecia estar sozinha, mas teve de
confirmar. Virou-se e realmente não havia ali ninguém.
- O que é esta sala? – inquiriu ela, enquanto
observava tudo ao seu redor.
Era um espaço amplo com alguns bancos e muitos
cacifos. Cheirava bem e era fresco.
Nesse momento Lara ouviu a maçaneta da porta a rodar.
Sem saber para onde ir, encostou-se à parede. Uma vigilante da prisão entrou,
tapando Lara com a porta, fechando-a, de seguida, com um empurrão. Lara
permanecia quieta e a mulher de costas para ela. Esta dirigiu-se a um dos
cacifos, cantando, e abriu-o.
- La! La! La! La! La! Finalmente o meu turno acabou! La!
La! La! La! Para casa eu vou! La! La! La! – cantava ela.
Lara esticou o braço e tentou puxar silenciosamente a
maçaneta da porta mas esta era velha e iria fazer demasiado barulho, fazendo
com que ela fosse vista.
► CAPITULO #41
A mulher tirou a farda e guardou-a no
cacifo, vestindo outra roupa, estando, assim, preparada, para sair do trabalho.
Ela estava a fechar o cacifo. Lara estava prestes a ser descoberta, mas correu
para trás de uma fila de cofres. A guarda passou pela arqueóloga sem a ver e
saiu daquela sala.
Lara tinha de perceber o plano dos
prisioneiros para fugir da prisão, mas não podia ser vista por ninguém, caso
contrário, seria mandada embora. Pensou e pensou até que chegou à conclusão de
que talvez não tivesse de se esconder, mas sim de se disfarçar! Foi então que
se aproximou do cacifo da senhora que tinha acabado de sair e tentou abri-lo.
Como já era de esperar, estava fechado. A arqueóloga retirou um gancho que
tinha no cabelo e, erguendo os óculos de sol até à cabeça, para que pudesse ver
melhor, tentou a sua sorte.
Conseguiu abrir o cacifo e começou a
vestir a farda da mulher, guardando a sua roupa e os óculos na mochila.
- Bem, vou levar isto emprestado! Ela só
cá aparece amanhã! – pensou Lara.
Lara abriu a porta e começou a andar
normalmente pelos corredores da cadeia, à procura do tal guarda chantageado.
Pelo caminho ouviu uma conversa que lhe parecia ser útil, parando, assim, para
apertar as botas.
- Passei pela sala das câmaras e nenhuma está
a funcionar! – informava um guarda.
- Devem estar só desligadas! – pensava o
outro.
- Bem, eu é que não me atrevo a mexer ali!
Tantos botões, tantos controlos… Não percebo nada! – explicou.
- Temos que falar com o Sten! Ele é quem
está sempre ali! Deve saber o que se passa! – continuou ele.
- Agora é hora do almoço, ele deve estar
no refeitório! À tarde tratamos disso! Agora vamos comer! – disse o vigilante,
caminhando com o outro.
- Hum… Então ele chama-se Sten! Vejamos se
estás no refeitório! – falava ela, sozinha.
A arqueóloga começou a seguir os homens,
tentando não dar muito nas vistas. Eles olhavam muitas vezes para trás. Podiam
estar a sentir-se seguidos ou podiam estar a estranhar aquela cara nova. Lara
caminhava com a cabeça baixa e tentava tapar o mais possível a cara com o
chapéu. A dada altura ela achou que estava a chamar demasiado a atenção,
virando, assim, para outro corredor. Nesse não havia ninguém.
- Boa! Agora não sei onde estou! –
protestou, olhando em volta.
Lara acabou por descobrir umas setas que
indicavam direções e chegou ao refeitório. A arqueóloga espreitou e não quis
acreditar no que os seus olhos viam.
- Não acredito nisto! – surpreendeu-se
ela.
Sim, ela estava no refeitório, porém não
era aquilo que a heroína esperava. Ela estava à espera de um refeitório onde os
polícias estivessem a almoçar. Ali quem estava a comer eram os
prisioneiros. Uma tijela minúscula de sopa, um puré irreconhecível e uns
legumes.
- Olhe, desculpe! Pode dizer-me onde fica
o refeitório dos polícias? – pediu ela, ao ver uma senhora das limpezas.
- Não sabe onde é? A senhora não é
polícia? – espantou-se a mulher.
- Sou, claro! E também sou nova cá! É esse
o problema! – desculpou-se ela.
- Hum… Essas luvas são estranhas! Não
fazem parte da farda, pois não? – continuou, pousando a esfregona e agarrando
na mão de Lara – E essa mochila! Nunca vi nenhum polícia com uma parecida!
► CAPITULO #42
- Ouça lá, vai dizer-me onde fica o outro
refeitório ou vou procurar ajuda noutro sítio? – irritou-se Lara.
- Ai! Pronto! Não seja assim! Eu
ajudo-lhe! Sou uma jovem muito prestável! Bem, para chegar ao refeitório dos
polícias, só tem de seguir as setas. – apontou a velha.
Lara seguiu o dedo da mulher e viu uma
seta que dizia “Refeitório 2”. Agradecendo, despediu-se e começou a seguir as
setas. A senhora observava a arqueóloga atentamente, enquanto fingia que lavava
o chão, achando-a muito estranha.
Finalmente chegou onde queria! Era um
espaço muito maior do que o anterior. Haviam muitas mais mesas e bancos e a
comida era mais e melhor! Mirou o refeitório inteiro à procura de Sten, o
guarda chantageado pelos prisioneiros. Só reparou nele quando este se levantou
da mesa, juntamente vários outros polícias, levando o tabuleiro. Todos tinham
comido a sopa, à exceção de Sten, que se tinha ficado pelo prato principal e
pela gelatina.
- Estranho… - pensava Lara, ao espiá-lo,
encostada à porta de entrada.
O homem voltou para a sala das câmaras que
tinha desligado antes do almoço e ligou-as, fazendo o seu trabalho normalmente,
durante o resto do dia. Alguma coisa ele havia feito durante aquele espaço de
tempo e Lara tinha que descobrir o quê! Ela sabia que Estêvão só ia tentar
fugir à noite mas qualquer coisa já estava a ser preparada.
Enquanto o guarda permanecia quieto a
observar as gravações, como de costume, a arqueóloga foi dar uns “passeios”
pelos corredores da cadeia, à procura de pistas. Todos os guardas, sem exceção,
estavam com um ar cansado, com sono e bocejavam frequentemente. A situação era
estranha. Lara tinha de impedir o plano do seu rival, mas para isso tinha de
saber qual era, decidindo, assim, passar pela cela de Estêvão, não só para o
provocar, mas também para ver se descobria algo.
- Como as coisas acabaram! – riu-se ela,
ao chegar e ver o homem deitado a olhar para o teto.
- Quem é que… Lara? És mesmo tu? Que
patético! Disfarçares-te de polícia! – surpreendeu-se ele, levantando-se.
- Nunca sabemos como vamos acabar… É uma
grande verdade! Tanta vingança que querias que acabaste preso! – continuava
ela.
- Mas tu achas que isto acabou? Achas que
é o fim? Deixa-me dizer-te como isto realmente vai acabar: Eu fora deste país e
tu enterrada, a fazer companhia à minha mulher e à minha filha, no jardim
traseiro da minha casa! Disso podes ter a certeza! – irritou-se ele.
- Estás muito seguro disso, para quem está
limitado por quatro paredes! Não! Deixa-me corrigir! Três paredes! E umas
grades! Estás preso! – provocou ela.
- Bem, talvez não acabes morta, mas ver-te
presa numa destas celas também seria uma boa vingança! Estás a usar uma farda
de polícia que não é tua! Nem sequer podes estar aqui! Quem me impede de gritar
e chamar por alguém? – ameaçou.
► CAPITULO #43
- Força! Chama alguém! Essa mesma pessoa
fica a saber que vais tentar fugir da cadeia hoje à noite! – retribuiu Lara.
- Que provas tens disso? – enervou-se
Estêvão.
- Mais do que suficientes! – provocou ela,
retirando um disco da mochila e piscando o olho.
O que é isso? – inquiriu, tentando
roubá-lo das mãos da arqueóloga.
- Hum… Eu acho que tu sabes o que é… Até
logo! – despediu-se ela, com um sorriso no rosto.
- O que se passou? – inquiriu Milton,
acordando.
- Eu acho que a Lara Croft tem filmagens
de nós a chantagear o guarda e a combinar o plano de fuga! – desabafou ele,
zangado.
- O quê? Como é possível? – espantou-se o
colega.
- Não sei, mas acho que ela tem acesso às
câmaras de vigilância, de alguma maneira… - pensou Estêvão.
Lara, de modo a ouvir as conversas dos
prisioneiros e ver se descobria o seu plano, entrou numa arrecadação, que
ficava junto à cela. Com uma fina parede a separá-los, a arqueóloga conseguia
ouvir tudo o que o seu rival dizia.
- Mas… Se ela sabe que vamos fugir ela vai
tentar impedir-nos! – continuou Milton.
- Claro que vai! Tu não viste, mas ela
disfarçou-se de polícia! Está por aqui a ver o que se passa! Com ela aqui não
vamos conseguir fugir! – protestava Estêvão.
- A menos que ela também tenha comido no
refeitório. – pensava o velho.
- Duvido muito! – lamentou ele.
- Hum… Refeitório? – pensava Lara,
enquanto escutava a conversa.
- Tudo bem por aqui? – perguntou Sten,
discretamente, ao passar pela cela.
- Não! Está tudo mal por aqui! – sussurrou
Estêvão, correndo até às grades.
- O que aconteceu? – assustou-se o guarda.
- Conheces a Lara Croft? Não deves
conhecer… Bem, não sei como mas ela tem as gravações das câmaras de vigilância
guardadas num disco! Lá deve ouvir-se nós a combinarmos todo o plano! –
explicou, nervoso.
- O quê? Como é possível? Eu desliguei as
câmaras antes de vir falar convosco! – surpreendeu-se ele.
- Hum… Então foi por isso que as gravações
pararam na parte mais importante! – pensava ela, sentando-se em cima de um
monte de caixotes, na arrecadação.
- Mas desligaste-as antes ou depois de te
chantagearmos? – inquiriu Milton.
- Ah! Então já admitem que me
chantagearam? Bem, foi depois… As imagens em que eu confesso que te condenei
por um crime que eu cometi e as imagens em que vocês me chantageiam, são as que
ela tem acesso e as únicas que ela pode ter naquele disco! – continuou o Sten.
- Mas como é que ela tem acesso a essas
filmagens? Como? – irritou-se Estêvão.
- Bem, a verdade é que eu vendi-lhe o
acesso às câmaras, mas depois esqueci-me completamente! Não se preocupem! Ela
deve andar por aqui na cadeia! Só tenho de a encontrar e livrar-me dela para
que o plano decorra como combinado! – informou ele.
Nesse preciso momento, uma das caixas onde
a arqueóloga estava sentada, partiu-se, fazendo com que esta caísse ao chão,
juntamente com os restantes caixotes e alguns detergentes. No meio da queda, ao
tentar segurar-se em algum lugar, puxou uma prateleira de baldes, deitando-a ao
chão, causando, assim, um enorme ruído, que todos puderam ver que vinha da
arrecadação!
- Merda! E agora? Vou ser descoberta! –
preocupou-se ela.
► CAPITULO #44
Sten correu imediatamente para a
arrecadação, abrindo a porta. Não conseguiu abri-la por completo, devido à
confusão lá dentro mas estava aberta o suficiente para que o guarda conseguisse
entrar.
- O que está a fazer aqui? Não comeu no
refeitório? – inquiriu ele, ao ver uma “polícia”.
- Não! – respondeu Lara, retirando o
chapéu.
- Lara? O que está a fazer aqui? –
perguntou.
- Não te faças de desentendido! Eu sei
muito bem que és um criminoso! E que vais ajudar outros criminosos a sair daqui!
Sei muito bem que tu já sabias que eu estava aqui disfarçada de polícia! Sei de
tudo! E tenho provas! – irritou-se Lara.
- Não! Isto deve ser apenas um
desentendimento! – argumentou ele.
- Não tentes desculpar-te! Não há nada que
possas dizer agora! – informou ela.
- Juro que não vou ajudar ninguém a sair
desta prisão! Sou um polícia! Não sou nenhum criminoso como está a dizer! –
continuou ele.
- Confessaste um crime! E tenho tudo
gravado! Só é pena que não te tenhas esquecido de desligar as câmaras quando
combinaste o plano com aqueles dois! – explicou ela.
- Isto é surreal! Eu nunca confessei
nenhum crime, por isso não podes ter provas nenhumas! A única coisa que podes
ter gravada são dois prisioneiros malucos a tentarem dar-me a volta! Mais nada!
– desculpou-se Sten.
- Não vale a pena… Está muito bem
explícito nas gravações que tu mataste um homem e trouxeste um outro para
aqui para te safares! – gritou ela.
- Já chega! Vai para o Inferno, cabra! –
gritou, dando um murro com toda a sua força na cara da arqueóloga, fazendo-a
cair ao chão.
- Filho da mãe! – protestou ela, com a
boca inundada pelo sangue.
- Cala-te! – ordenou ele, agarrando na
mochila dela, deitando algumas roupas ao chão e roubando o disco que o
incriminava.
- Pensas que é só aí que estão as provas?
Estão também no meu computador! – ameaçou ela.
- Pena que já não possas ir busca-lo para
mostrar! – sorriu o homem, agarrando numa estante de ferro e puxando-a, fazendo
com que a arqueóloga ficasse presa lá em baixo.
- Então? – perguntou Estêvão.
- Era ela! Agora já não nos atrapalha
mais! Com sorte aquela estante cortou-lhe o pescoço! Vamos lá! Está a
anoitecer! É agora! – informou, abrindo a cela com uma chave.
- E a cerca elétrica? – preocupou-se
Milton.
- Está tudo controlado! Os guardas estão
sob o efeito da droga que coloquei na panela de sopa do refeitório e estão
todos a dormir, as câmaras estão desligadas e só falta a cerca! Os porteiros
são os únicos despertos mas não podem ver nada. Os guardas podem acordar a
qualquer momento! Corram para junto da cerca! Faço-vos um sinal quando puderem
subir! – combinou Sten.
Lara estava incapacitada de se levantar
devido à fina, mas pesada estante que tinha em cima de si, com quatro
prateleiras que se desprenderam e mutilaram a arqueóloga. Porém, conseguia
ouvir tudo o que Milton, Estêvão e Sten estavam a combinar. O que poderia ela
fazer para os impedir? Se ficasse ali por muito mais tempo iria sufocar!
- Antes disto tudo quero que a Lara me
veja livre e vencedor, enquanto ela acabou presa! – avisou Estêvão.
O assassino chegou à arrecadação e
baixou-se, de modo a falar com Lara, que gemia de dor.
- Afinal a vingança será cumprida! Vais
ter uma morte lenta! Que delicioso ver-te assim! – riu-se ele, cuspindo na cara
da arqueóloga.
► CAPITULO #45
Não seria uma simples estante que ia parar
a arqueóloga. No instante em que a saliva de Estêvão atingiu o rosto de Lara,
esta agarrou nas algemas que possuía no equipamento de polícia e prendeu a mão
do rival à sua!
- Queres sair daqui? Eu terei de ir
contigo! – afirmava Lara, limpando a cara com a outra mão.
- Cabra! Isso não adianta! Nada me pode
impedir de fugir! – irritava-se Estêvão – Sten, não tens as chaves desta merda?
Tira-me isto!
Lara puxou o braço, fazendo com que
Estêvão batesse com a cabeça no móvel, deixando-o inconsciente.
- Tira-me isto de cima! – ordenou Lara,
escondendo a mão para que o guarda não pudesse desprender as algemas.
- A tua mão! Mostra-a já! Não temos tempo
para isto! – gritou o homem.
- Ajuda-me a sair daqui, caso contrário
ele também fica! – continuou ela.
O guarda cedeu e tirou a enorme estante de
cima da arqueóloga.
- Se tentas algum truque, vais sair-te mal
nesta história! – ameaçou ele, agachando-se para separar os inimigos.
Mal tinha acabado de rodar a chave e já
estava a ser atacado! Lara agarrou num detergente qualquer e despejou-o nos
olhos do polícia, aproveitando para sair dali o mais rápido possível. O seu
queixo ia caindo ao chão quando viu todos os guardas a dormir nos
corredores. Ainda tentou acordá-los, mas foi em vão. Estava magoada numa
perna e tinha dificuldades em correr. O que poderia ela fazer? Milton corria
atrás de Lara, mas a arqueóloga ainda não tinha reparado. O velho tropeçou e
caiu, sendo visto por Lara que, sem quaisquer preocupações, lhe apontou uma
arma.
Atrás de Milton, Lara conseguiu ver Sten
com os olhos fechados a correr, sem saber por onde ia. O idoso desmaiou,
provavelmente, devido a tanta emoção junta. Lara não queria fugir, isso não era
suficiente. Ela queria vingar-se da vingança de Estêvão! Vê-lo apodrecer atrás
das grades já não chegava! Ela estava decidida a matá-lo!
- Tenho de voltar àquela arrecadação! –
sussurrou Lara, observando o guarda a correr e a gritar por ela.
Lentamente, a arqueóloga regressava atrás,
na direção de Sten, que não lhe conseguia ver. Passou por ele, tentando não
fazer barulho, mas este sentiu a sua presença e começou a correr com os braços
esticados, com o objetivo de a apanhar.
Lara correu e fechou-se na casa de banho,
quando o homem entrou disparado nesse mesmo sítio. Percebendo onde estava, o
guarda foi imediatamente lavar os olhos.
► CAPITULO #46
Pouco tempo depois, Sten já conseguia ver
parcialmente e mirou Lara encostada a uma parede, caminhando, de lado, até à
porta. Quando a arqueóloga olhou para o espelho e viu os olhos do guarda
atravessados nos seus, começou a correr. Já não sabia onde estava nem por onde
ia. Estava completamente perdida na cadeia, mas só lhe interessava fugir. Os
outros prisioneiros não estavam a perceber nada do que se estava a passar e os
guardas continuavam inconscientes.
Lara correu e correu até que, sem ela
própria saber como, chegou à sala das câmaras de vigilância, ficando, assim,
encurralada. Sten, furiosíssimo, agarrou com toda a sua força num dos
televisores e atirou-o na direção da arqueóloga. Esta tentou defender-se mas
ficou incapacitada, uma vez que aquela televisão, antiga e pesada, lhe caiu na
perna. O guarda tirou-lhe as armas e saiu dali.
Os minutos que se seguiram foram duros.
Lara estava a gemer de dor, com muito sangue na perna e, talvez, com o osso
partido. Não se conseguia levantar. Pouco tempo depois Sten apareceu naquela
mesma sala, às gargalhadas.
- Como é que é ter uma derrota assim tão
grande? – riu-se ele.
- Tu não vais sair bem desta história! –
ameaçou ela.
- Enganas-te! Já saí! - corrigiu ele,
sentando-se na sua habitual cadeira, em frente às várias televisões.
- O que achas? Que vão todos pensar que
eles conseguiram desligar as câmaras de vigilância sem saírem da cela? Obviamente
vão descobrir que os ajudaste! – continuou, Lara, cheia de dores.
- É por isso que aqui estás! Quando te
encontrarem aqui, morta, vestida de polícia, o que achas que vão pensar? Claro
que vão achar que tu é que os drogaste e ajudaste os prisioneiros a fugir! –
respondeu ele, virando a cadeira para a mesa.
- Eu? Para alguém chegar até às câmaras e
desliga-las, tinha de ser filmado até lá! Isso não vai resultar! – gritou Lara.
- Já resultou, minha querida! As gravações
podem muito bem ser eliminadas! – sorriu ele, carregando num botão que
desativou a cerca elétrica.
- Onde eles estão? – chorou ela.
- Eles? Neste momento devem estar à beira
do muro que se antecede à cerca! Estão à espera do meu sinal! – explicou ele,
com um olhar sinistro.
- E que sinal lhes vais dar? – inquiriu,
limpando as lágrimas.
- Pensa um pouco! Quando os guardas
acordarem têm de te ver aqui morta, e eu preciso de um sinal! Hum… E que tal um
grito mortal de uma arqueóloga? – sugeriu ele, abrindo uma gaveta e tirando de
lá uma faca.
► CAPITULO # 47
- Não sou a menina frágil que pensas! O
meu grito não se ouve lá fora, além disso eu não ia gritar. – provocou Lara.
- Não és frágil? Então vá! Levanta-te,
Super Mulher! – riu-se Sten.
- Até posso ser frágil, mas isso trás-te
inconveniente! É que as coisas frágeis, não só partem, como cortam! – ameaçou
ela.
- Estás muito filosófica para quem vai
morrer. – disse o homem, acariciando cuidadosamente a faca. – Estás com azar! É
que hoje a sobremesa no refeitório não foi fruta, foi droga! Por isso não usei
esta minha amiga! Mas bem, não há problema! Ela vai continuar a ser-me útil!
- Não seria a primeira vez que um plano
teu corria mal. – continuou a arqueóloga.
- Bem, preciso de um sinal. As miúdas são
todas iguais! Têm uma voz que se ouve a quilómetros. A cerca elétrica não é
assim tão longe! – explicou, acendendo um cigarro.
- Se estás à espera que eu te ajude, é
melhor esperares deitado para não te doerem as costas! – gritou Lara.
- Há mais com que me preocupar do que com
a tua morte! Eu já volto, não me parece que vás sair daqui.– sorriu ele,
levantando-se.
- E tu vais onde? – inquiriu ela.
- Vou arranjar um sinal. – despediu-se
ele, saindo da sala.
Ao ficar sozinha, Lara tentou, por várias
vezes, levantar-se, sempre sem sucesso. Não demorou muito até essa solidão
acabar. A arqueóloga começou a ouvir umas pancadas. Olhou em volta e não viu
nada. Olhou para cima e viu, para além do teto de vidro, o Sten, a provoca-la!
Estava no andar de cima, mas o que haveria lá? Ela só conseguiu vê-lo a subir
uns degraus.
Com esforço, Lara conseguiu levantar-se,
servindo-se de alguns moveis como apoio e, saltando apenas com um pé, saiu da
sala dos televisores e entrou na porta por onde tinha ido o guarda. Subiu e
subiu até que chegou à sala com o tal chão de vidro. Não havia nada, apenas uns
degraus. A arqueóloga agachou-se e espreitou. Lá em cima havia um espaço aberto
como uma espécie de varanda gigante, com inúmeros holofotes e Sten estava a
apontar um deles para os prisioneiros em fuga.
- Hum… Já deve chegar! Já devem ter
percebido! – pensou ele.
- Isso é o teu sinal? – riu-se Lara,
levantando-se!
- Tu? Que fazes aqui? – gritou ele,
correndo até Lara.
A arqueóloga, mesmo com uma perna quase
partida, continuava ágil e desviou-se rapidamente. O guarda ainda tentou travar
mas o rasto de sangue que seguia Lara, fê-lo escorregar e este agarrou-se no
corrimão que se partiu, fazendo com que o polícia caísse sobre o chão de vidro,
que se quebrou, tirando-lhe a vida e dando-lhe uma passagem direta para a sala
das câmaras de vigilância.
Ora, quebrado o chão onde os degraus
estavam apoiados, estes ficaram pouco estáveis. A arqueóloga, que estava
deitada sobre eles, tombou juntamente com as escadas, aterrando sobre os vidros
partidos, junto ao guarda morto.
► CAPITULO #48 (FINAL)
Como se a perna quase partida não
chegasse, Lara agora tinha diversos vidros espetados no corpo. Começou a tirar,
um a um. Cada vidro vinha acompanhado de um grito. A arqueóloga tinha de
estagnar o sangue que estava por todo o lado.
Rastejando sobre os pedaços de vidro, Lara
chegou até uma mesa e puxou-se até se sentar numa cadeira. Respirando fundo,
começou a vasculhar as gavetas, procurando um kit de primeiros socorros. Não
havia nada e a arqueóloga estava a desesperar. O sangue não parava de correr e
ela sentia-se cada vez mais fraca e tonta.
De repente, caiu da cadeira por não
conseguir segurar-se mais. No chão, tentava estancar o sangue, pressionando os
cortes com os dedos, mas eram demasiadas feridas.
Como último recurso, e em modo de
desespero, a arqueóloga tirou a camisa ao guarda, rasgou-a em bocados e começou
a usá-los como ligaduras.
Permaneceu por uns minutos a descansar mas
não poderia continuar quieta por muito mais tempo. Teria Estêvão conseguido
fugir? Lara tinha de o impedir mas não queria que Milton, o inocente, pagasse
por algo que não fez.
Agarrou nas suas armas e saltou até lá
fora. Observou toda a cerca, cuidadosamente até que encontrou os dois
prisioneiros já na cerca elétrica a tentar cortá-la. Apontou a arma para junto
de Milton, de modo a não acertá-lo e disparou, fazendo com que este se deixasse
cair. Estêvão, porém, continuou agarrado à vedação, como se estivesse a abraçar
a sua própria vida, quando estava, na verdade, a abraçar a morte.
Lara voltou à sala das televisões e
agarrou na bolsa de Sten, tirando de lá o disco que continha todas as
explicações para o sucedido. Abriu uma das gavetas e tirou uma caneta e um
bloco de notas, escrevendo:
“Todas as explicações, aqui!”
O disco não só tinha as filmagens das
câmaras, como também estava sujeito a uma edição feita por Zip, que colocava
tudo por ordem e de forma a que tudo estivesse bem explicado. Feito isto, Lara
tinha um assunto pessoal a tratar com Estêvão, que tinha tornado os últimos anos
da vida da arqueóloga num verdadeiro inferno!
- É para lá que vais agora! Para o
inferno! – sussurrou Lara, olhando para o botão que ativava a cerca elétrica –
Esta cerca existe para impedir que os prisioneiros fujam… Acho justo que ela
faça o seu papel.
O seu dedo aproximou-se do botão e só se
ia voltar a afastar, depois de o apertar.
Não se pode dizer que foi fazer companhia
à mulher e à filha, pois estas não se encontravam onde ele agora estava: No
inferno, a arder, por tudo o que fez! Esta vingança foi servida quente, bem
quente. A escaldar!
Lara, coxeando pelos corredores da cadeia,
a passar por inúmeros guardas adormecidos, desejando chegar ao seu lar, dizia,
de cabeça erguida:
- Eu cumpro sempre as minhas promessas. O
Karma foi justo para ambos.
FIM
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Muito bom mesmo eu realmente naveguei nessa história tão de parabéns..
ResponderEliminarSinceramente, depois q li a fanfic corri atrás de outra, o enredo a forma de escrever, os detalhes tudo muito bom, espero que tenha mais alguma outra fic sequencial ou em outra cronologia.
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