MINI FAN FIC - VIVER COM TRAUMA




► OBSERVAÇÕES: A mini fan fic que pode ser lida abaixo, como o nome sugere, é apenas ficção. Situada entre o reboot de 2013 e a sequela Rise of the Tomb Raider, o seguinte texto não respeita necessariamente as HQs ou livros lançados.


► SINOPSE:

No silencio da noite e na solidão do seu quarto, Lara desabafa, pela primeira vez, sobre tudo o que se passou na sua vida. A depressão e o stress pós-traumático que trouxe de Yamatai não podem continuar retidas no seu peito. Numa carta sem destinatário ela escreve, sobre uma folha manchada de lágrimas, tudo o que não consegue que saia da sua boca.


► MINI FIC:

«Não consigo encarar as pessoas. Olhá-las nos olhos dói tanto. Ando de cabeça baixa e com as mãos nos bolsos, sem saber o que fazer com elas. Ando sempre com um capuz enfiado na cabeça e não consigo explicar a minha necessidade de o ter posto. Talvez me sinta mais segura com ele. Talvez seja só uma forma de impedir que as pessoas olhem para mim.

Eu matei. É possível imaginar o que isso é? Como eu me sinto? Ter de viver com essa imagem na cabeça? Já não sou o que era. Não consigo fazer outra coisa a não ser questionar-me o porquê desta vida. Encontrar uma razão para me levantar da cama todos os dias é das coisas mais difíceis que já tive de fazer. É como se o colchão me estivesse a abraçar com toda a força e não me deixasse sair e como se a rua fosse um coliseu antigo, no qual as feras são as pessoas e a vítima que lhes mata a fome sou eu. Porquê? Porque é que tem de ser assim? Eu vi muita coisa. Eu fiz muita coisa. Não consigo viver com isto na memória. Não consigo viver com este peso na consciência.  De dia lembranças, à noite pesadelos.

A vontade de falar? Nenhuma. Dirigem-me a palavra e somente quando não sou capaz de responder por gestos ou fingir que não ouvi é que abro a boca. A voz sai rouca, como se fossem as primeiras palavras do dia. Por vezes, eram mesmo. Já vi muitas vezes a morte. Demasiadas vezes. Ela já não me assusta. Morreram amigos cuja a amizade podia jurar ser para a vida. Então, se perdi o medo da morte e a vida já não me atrai, o que estou aqui a fazer? Sim, são esses os pensamentos que não me saem da cabeça. O psicólogo bem que tenta fazer-me pensar positivamente e eu sei que é o que devo fazer. Tenho perfeita noção disso.

Olho-me ao espelho e não me reconheço. Tenho um ar cansado e fraco. Já nem me acho bonita. Devo arranjar um espelho melhor? Olhar mais perto? Olhar por mais tempo? O que eu faço? O que se passa? Foi-me diagnosticada uma depressão, o que só me deixou com menos ânimo.  Não é fácil. Saí da ilha com muitas feridas, mas nenhuma delas arde tanto como esta que agora me assombra. Assim como nenhuma das ligaduras que trouxe comigo são capazes de me ajudar.

Estou completamente farta de medicamentos. Fico com raiva só de ter de olhar para eles. Fazem-me lembrar que estou doente. Não sei o que é maior. Se determinação em curar-me ou se a vontade de desistir e acabar com tudo de uma só vez. Supondo que eu supero esta fase. E depois? Quanto tempo? Quanto tempo até eu voltar a sentir-me cercada pelas memórias do naufrágio? Quanto tempo até o medo de viver tudo aquilo de novo voltar? “A depressão é a doença mais traiçoeira que existe”. Isso significa que num dia posso sentir-me extremamente bem e no outro cair para o fundo do poço. Como é que se vive assim? A saber que mesmo que fique melhor não será por muito tempo. Eu não quero. Não mesmo. Se for para ser assim, prefiro acabar com a minha vida, como fiz com a de tantas outras pessoas. Assim seria mais justo.

Todas as noites cubro-me até à cabeça e inundo a cama de lágrimas. Dói-me a alma ao olhar para a Sam. Está igual ou pior que eu. Nela, porém, vejo alguma força de vontade, o que não consigo encontrar em mim. O Jonah vem cá todos os dias. Obriga-me a tomar a medicação, a falar, a levantar-me, a comer. Eu sou o quê? Inválida? Não! Chega! Eu sei que a intenção é boa mas as facadas que sinto doem demasiado. Sou um inconveniente para os outros. Uma pedra no sapato. Sou a amiga doente.

Para piorar, ainda tenho que lidar com críticas de pessoas que não conheço. Pelo que percebi, as pessoas que souberam das notícias de Yamatai, acham que eu estou a exagerar e só quero chamar a atenção. Como assim? Palavras destas soam como cabeçadas. Já pensei em matar-me e alguém teve a ousadia de me dizer: “Cura-te!”. Como se uma depressão pudesse ser remediada por qualquer coisa encontrada dentro de uma caixa de primeiros socorros. Tento não ir abaixo com coisas destas, mas ando sensível. Será que eles têm razão? E se eu for tão fraca ao ponto de não resolver um problema que para os outros parece tão simples?

Porque ninguém opta por me ouvir? Será que eu realmente digo alguma coisa ou sou só um ruído de fundo num disco riscado? Será que toda a minha vida foi sempre uma enorme tenda de circo que estava condenada a acabar assim? Bem, talvez seja por isso que escrevo este desabafo. Talvez seja uma carta de despedida sem destinatário. Talvez vá diretamente para o lixo mal acabe de escrever. Não sei. Sinto-me um carro parado no meio de uma estrada vazia. Muitas pessoas agora diriam que a solução seria só sair e ir buscar combustível. Não é assim tão simples. E se não houver combustível por perto?

Até quando estou com o psicólogo me sinto mal. Sinto que sou mais uma cliente que lhe preenche o dia e que lhe faz chegar a casa cansado. Será que ele me quer ajudar mesmo? Será que ele só faz isto pelo dinheiro? Vou ao seu consultório três vezes por semana. Cada consulta de noventa minutos é uma tortura. Todas as vezes pede-me para tirar o capuz. Sei que pareço mal educada, mas recuso sempre. Ele tenta fazer perguntas cuja resposta não seja “Sim” ou “Não” para que eu não possa abanar a cabeça. Mas eu encolho os ombros. Chego ao ponto de não encontrar posição para estar sentada. Não é a cadeira que é desconfortável, mas sim a situação. Pede-me várias vezes. “Olha para mim”. Levanto a cabeça por um segundo, com os olhos vermelhos e com as lágrimas a escorrer-me pelo rosto. Que vergonha. Sinto que por dentro está a rir-se de mim.

É tão difícil falar do que se passou no acidente. Já tive várias crises de ansiedade ali mesmo, na frente dele. Como se não bastasse a depressão, ainda há o “stress pós-traumático”. Revejo tudo o que vivi. Sons de tiros invadem a minha cabeça. Imagens da ilha vão e vêm sem qualquer aviso. Fico com dificuldades em respirar e, por vezes, quando ele se levanta e se aproxima para me acalmar, fico pior ainda, porque não vejo um psicólogo, mas sim um inimigo pronto a atacar. É como se a sua caneta se transformasse numa faca e o consultório numa prisão. É muito difícil explicar. Ninguém percebe como eu odeio estar ali dentro.

Há uma coisa de que me tenho tentado lembrar: é que todas aquelas pessoas que me apontaram o dedo e que me chamaram de fraca, apenas não sabem o peso de uma dor  psicológica e eu não posso julgá-las por isso. Na verdade, elas não sabem o quanto são felizes. Como se um osso partido doesse mais do que uma depressão. Como se um corte magoasse mais do que um peso na consciência. Como se uma cicatriz marcasse mais do que uma má memória. Uma vida encravada não é algo que um cirurgião possa resolver. Isso dói  tanto como qualquer ferida física. Cheguei à conclusão de que a minha dor nunca vai passar. Eu vou simplesmente aprender a viver com ela.
Lara Croft.»


FIM


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5 comentários:

  1. Respostas
    1. a mais belas de todas ... Lara e´ incrivel sem duvida a musa dos gemes ...

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    2. a mais belas de todas ... Lara e´ incrivel sem duvida a musa dos gemes ...

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  2. Maravilhoso!! Tenho depressão e me identifiquei em muitos trechos da fan fic, adorei parabéns xD

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