O E X T R A O R D I N Á R I O
- Miguel
Marques -
D O W N L O A D
Aconselhamos todos a fazerem o download do documento com a fan fic completa, torna a leitura muito mais fácil e a execução das escolhas também. Podem baixar a história clicando AQUI. É totalmente seguro e gratuito.
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N O T A S
A fan fic que pode ser lida
abaixo passa-se vários anos após o último jogo, Rise of the Tomb Raider. É a
nossa primeira experiência com uma história interativa, isto é, em momentos
chave da narrativa, as suas escolhas mudam o rumo da história.
Tudo foi escrito de forma a
respeitar cada HQ lançada, cada jogo, cada documento dentro dos jogos e suas
expansões, etc. Dito isto, existem várias referências que exigem um certo
conhecimento do universo atual de Tomb Raider. É por isso que essas referências
estão assinaladas e, depois, devidamente explicadas, para que todos possam
compreender a história.
T R A I L E R
Veja abaixo o emocionante trailer desta história antes de começar a lê-la! Vale a pena e é uma ótima introdução à leitura.
S I N O P S E
Esta é a derradeira história.
Lara percebe que a sua mãe não morreu da forma que ela pensava e parte numa
grande expedição em busca da resposta para a maior pergunta de todos os tempos:
O que verdadeiramente aconteceu com a Amélia?
Pelo caminho, novos membros na
família surgirão, velhos amigos atraiçoá-la-ão e tudo ela perderá. Foi à
procura de respostas. Agora, tudo o que desejava era ter continuado na
ignorância.
Esta história emocionante – e interativa
– pode ter até oito desfechos diferentes, dependendo das suas escolhas. As
reviravoltas aguardam o melhor momento para aparecer, tenham cuidado.
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P A R T E 1
HOSPITAL ASHFORD, INGLATERRA
DEPOIS DO ACIDENTE
A primeira coisa de que me lembro
é do hospital. Abri os olhos e dois desconhecidos observavam-me. Uma mulher e
um homem. Pude assumir que eram médicos ou enfermeiros pelas batas brancas que
usavam com canetas no bolso do peito e pelo ar de quem já tinha visto, só
naquele dia, outras duas dezenas de pessoas a acordar confusas numa cama.
Cheirava a morte ali. Estava
escuro, era de noite. A cabeça doía-me mais do que qualquer outra coisa alguma
vez me doeu. Não me lembrava de nada. Aliás, eu lembrava-me de tudo. Só não do
que aconteceu. Porque eu estava ali?
Fiquei sozinha por um momento.
Estava assustada. A porta do quarto voltou a abrir-se e fui capaz de ver 2
silhuetas a entrar. Não eram os médicos. Muito melhor do que isso. Winston1
e Sam2. Um pai e uma irmã. A minha atual família. A minha única
família já há muito tempo. O Jonah3 estava muito provavelmente lá fora
ou a chegar, pensei eu. Não pude evitar um leve sorriso.
Retribuíram-me o sorriso. Queria
abraça-los, apesar de nem ter forças para falar. Levantei o braço. Estava todo
ligado. O que era aquilo? Podia sentir fogo debaixo daquelas ligaduras. O meu
braço estava queimado.
O sorriso da Sam começou a cair.
Ela fechou os olhos, entortou a boca e desatou a chorar, virando-se para o
Winston, que a abraçou. Também ele. Também ele estava com um ar pesado. Como eu
nunca o tinha visto. Ficaram ali, parados na minha frente. Ela a soluçar no
peito dele. E ele de olhos fechados a lamentar o que se tinha passado. Fosse lá
o que fosse.
Bem, talvez eu devesse começar
pelo início...
1 Winston –
Mordomo da Mansão Croft. Ele criou a Lara.
2 Sam – Melhor
amiga da Lara desde os tempos de faculdade. Estudaram juntas. Viveram juntas
num apartamento em Londres. Sam é jornalista.
3 Jonah –
Melhor amigo da Lara. Jonah é cozinheiro.
RIO LI, CHINA
ANTES DO ACIDENTE
Mudança drástica de cenário. O
sol brilhava e iluminava todo o calmo leito do rio Li. Um dia quente e bonito. Era,
pelo menos, o que eu via da janela do avião. Ótimo destino turístico. Quase me
sentia de férias, se não estivesse ali pelos motivos que estava.
Depois de perder a herança para
mim, o meu tio Atlas DeMornay1 reformou-se. Não falava com ele há 2
anos quando recebi um telefonema. Quis encontrar-se comigo junto ao rio Li. Do
outro lado do mundo. Disse-me que era urgente e que não podíamos tratar disto
em Londres ou em qualquer outro sítio. Se não for realmente importante posso
sempre atirá-lo ao rio. Não, nós não somos amigos.
Desembarquei no Aeroporto
Internacional de Guilin Liangjiang. Para os mais chegados, o aeroporto mais
próximo ao rio. Um motorista levou-me até às exatas coordenadas que recebi,
numa das margens. Ele pareceu confuso por eu não trazer nenhuma bagagem além de
uma pequena mochila. Bem, não tencionava passar mais do que 2 minutos à
conversa com o DeMornay. Até porque acabamos sempre a discutir.
Quando chegámos o sol estava a
pôr-se. Ainda dentro do jipe consegui ver o meu tio. Sentado a observar o rio e
a beber um cocktail. De costas para mim, por enquanto. Se não o pudesse afogar,
pelo menos podia ficar a apreciar a paisagem. Era linda.
- Estou aqui. – aproximei-me, sem
fazer questão de ser simpática.
- Lara! Que bom ver-te. Senta-te
aqui, por favor. – pediu ele, acariciando o chão à sua esquerda.
Jamais me sentaria depois de
horas fechada num avião e num jipe. E também não entendi a sua tentativa de ser
amigável. Não funcionou. Ainda o odeio. E ele ainda me odeia.
Ele levantou-se, provavelmente
para se sentir do mesmo nível, e perguntou como eu estava. Como se ele quisesse
realmente saber. Foi aí que tive de conter uma gargalhada. O senhor Atlas
DeMornay de camiseiro, calções e chinelos. O que tinha acontecido com o fato e
com a gravata? Estilo de reformado, confere!
- Eu vim a outro continente só
para falar consigo. Por favor, POR FAVOR, vá direto ao assunto. E seja rápido. –
comecei eu, já com pouca disposição.
- Muito bem. Não vejo motivo para
estarmos com cerimónias. Nós já sabemos bem o que cada um acha do outro. –
concordou – Lara, agora que estou reformado e fora do mundo dos negócios tenho
tido mais tempo para pensar. Eu sou teu tio. Tu és a única coisa que me resta
da minha irmã.
- Não está a querer
reconciliar-se comigo, pois não? – revirei os olhos.
- Não. De todo. Estou a querer
que saibas a verdade. – respondeu.
- Bem, você é um homem de
negócios. Mentir deve ser a sua especialidade. Não me faça perder tempo e
diga-me de uma vez o que me quer dizer.
- É sobre o teu pai e a tua
mãe...
Já imaginava o tema da conversa
desde o segundo em que recebi a chamada dele há uns dias. Já conseguia até
prever todo o discurso que se avizinhava. O DeMornay sempre culpou o meu pai
pelo que aconteceu com a minha mãe. Nunca foi capaz de fazer o luto sem arranjar
um alvo onde pudesse descarregar a sua raiva. E eu, uma criança na época, além
de ficar órfã, tive de assistir a discussões entre o meu tio e o meu pai. Sobre
a morte da minha mãe. Eu, uma criança, até hoje não descarreguei a minha raiva
em ninguém. Parece que o meu tio se quer oferecer para isso. Seria uma oferta
irrecusável.
- Tu sabes que eu sempre culpei o
teu pai pela morte da tua mãe... – continuou ele.
As exatas palavras que eu
imaginei. A sair pela boca dele. Apertei os punhos e respirei fundo. Não precisava
de mais um familiar morto.
- E, Lara, sinto que fui injusto
contigo. Eras uma criança, não precisavas de assistir a discussões entre mim e
o teu pai quando tinhas acabado de perder a mãe.
Isto foi estranho. Será que ele
consegue ler os meus pensamentos?
- Onde está a querer chegar? –
perdi, eu, a paciência.
- Como disse, quero que saibas a
verdade. Guardei algo comigo por muitos anos. Mas agora sinto que preciso de te
explicar o porquê de tantas acusações ao teu pai.
- Já ouviu falar em SMS? Um
telefonema, uma carta, um postal, QUALQUER COISA! Eu viajei quilómetros para
ouvir mais paranoias sobre a minha família? – exaltei-me.
- Este é o sítio ideal para
falarmos sobre isto, Lara. O sítio ideal para falarmos sobre a Amélia.
- Porquê? Até onde eu sei a mãe
nunca sequer veio à China.
- Enganas-te. Aqui mesmo, onde
estamos agora, foi o último sítio onde ela esteve. Antes de...
- A minha mãe morreu nos
Himalaias.2 – interrompi.
- Foi o que eu achei por muito
tempo. O teu pai roubou-me a Amélia, sim. Mas não foi quando ela se foi
encontrar com ele nos Himalaias.2 Ela sobreviveu, Lara.
Não podia negar que a conversa
começava a interessar-me. O pai raramente falava da mãe. Aliás, a maior parte
das histórias que sei deles foi o Roth3 que me contou. Mas quem me
garantia que este tio lunático não estava a inventar tudo?
- E o tio está aqui de férias por
mero acaso ou viajou de propósito para isto? – desviei o assunto.
- Eu vim de propósito passar
férias exatamente aqui. – respondeu.
Soa cada vez mais louco. Mas bebo
cada palavra dele, o que é raro. Se é que alguma vez prestei a mínima atenção a
alguma coisa que saiu da boca dele.
- Depois dos Himalaias, eles
continuaram a viajar. Tu sabes que sempre viajaram muito. Foram juntos numa
última viagem. E o teu pai voltou sozinho.
- E isso é razão suficiente para
você achar que ele a matou? – levantei a voz.
- Eu nunca achei que ele a matou.
Há outras formas de se ter culpa da morte de alguém, Lara.
- Por exemplo? – a conversa
deixou de me agradar.
- Qualquer que tenha sido a morte
dela, ele estava lá. Com ela. Ele não a protegeu. Não impediu que esta tragédia
acontecesse. Quando ele voltou da viagem ele veio completamente alterado.
Louco. E foi depois disso que começou a ficar obcecado por lendas e mitos sobre
imortalidade.4 Como se fosse trazer de volta a minha irmã. Desde o
primeiro dia depois da morte dela que eu desconfio do teu pai. Alguma coisa
aconteceu. – contou.
- Eles já estavam a estudar a
vida eterna muito antes. Sim, os dois. E o meu pai não estava louco. Ele
estava...
- Certo. Já sei. – interrompeu
ele, sempre tão educado.
- É esta a verdade de que eu
tinha de saber? Que a minha mãe morreu quando estava com o meu pai? Isso não
prova NADA. – irritei-me.
- Não te estranha que o teu pai
nunca falasse da tua mãe? Ele evitava esse assunto ao máximo.
- Até o tio chegar e começar a
gritar na cara dele, não é?
- Convenhamos que a Amélia só
entrou naquele maldito avião para sustentar a obsessão do teu pai por histórias
e lendas infantis. Ela... – continuou.
- Afinal? Morreu no avião dos
Himalaias ou na China? Porque é que está a querer desenterrar esta história?
Não entendo.
- A seu tempo vais perceber que
está tudo ligado. Lara, ouve-me. Depois da morte dele, eu... Depois de eu ficar
com a herança, por tu seres muito pequena, eu fui à Mansão Croft. Eu procurei
tudo o que pude. Tinham de haver provas da culpa dele na morte da Amélia.
Aquela história do avião estava muito mal contada. Não havia corpo, não havia
nada. E parece que eu estava certo, não é? Ele realmente escondia algo. Ele
tinha a minha irmã enterrada em casa este tempo todo.
- Você foi mexer nas coisas dele?
Eu não acredito que...
- A mansão faz parte da herança,
Lara. Eu tinha o direito. Eu TINHA de descobrir alguma coisa. Eu estava...
- Obcecado? – interrompi, com um
sorriso no rosto – Tão obcecado como ele estava em descobrir o segredo da
imortalidade?3
- Obcecado com a verdade. Era ali
que ele vivia. Tinha de haver alguma prova, alguma pista, algo... –
desculpou-se ele.
- Pois, mas não havia lá nada. –
continuei – Bem, tirando, claro, uma cripta secreta com toda a minha família
paterna lá sepultada e um cofre com evidências do que aconteceu com a minha
mãe. Descobri tudo o que aconteceu com ela, lembra-se? Foi assim que consegui
recuperar o meu legado.5 Se eu, que parti paredes e abri passagens
secretas, não encontrei nada, o que pode você ter encontrado? Não há lá nada
que incrimine o meu pai!
- Isso é porque eu levei comigo
essas provas.
1 Atlas DeMornay – Irmão da Amélia. Tio da Lara. Apareceu
na HQ #13 de Tomb Raider, em 2015. Sempre culpou o pai da Lara pela morte da
irmã. É parte da DLC ‘Laços de Sangue’, na Mansão Croft, em Rise of the Tomb
Raider.
2 Segundo a
expansão ‘Laços de Sangue’ de Rise of the Tomb Raider, Amélia morreu na neve,
depois da queda do avião que a levava ao encontro de Richard, nos Himalaias.
3 Roth –
Velho amigo do Richard Croft, pai da Lara. Foi mentor da Lara durante a sua
infância. Pode ser visto como um segundo pai. Continua o seu papel de mentor no
Tomb Raider 2013, com a Lara já adulta.
4 A história
de Rise of the Tomb Raider, o último jogo, baseia-se nas pesquisas do pai da
Lara sobre imortalidade. Ele acreditava que existiam almas e que a vida eterna
era possível. No final do jogo de 2013, Lara percebe que coisas sobrenaturais
existem e que o pai podia estar certo. Ela comprova isso no jogo seguinte, Rise
of the Tomb Raider.
5 Na expansão
‘Laços de Sangue’ de Rise of the Tomb Raider, foi ao encontrar uma carta da mãe
que a Lara provou o seu direito sobre a Mansão Croft.
MANSÃO CROFT, INGLATERRA
MUITO ANTES DO ACIDENTE
Quando o meu pai chegou da
misteriosa viagem ele realmente veio sozinho. Eu estava com um sorriso de
orelha a orelha a espera-lo, no portão do jardim da mansão. Ele não saiu do
carro com o ar bem-disposto com que costumava sair sempre que chegava de
viagem. E nem correu para me dar um abraço caloroso depois do tempo que tínhamos
passado separados, como ele fazia sempre. Mais importante: A minha mãe não saiu
do carro com ele. Ele veio a andar lentamente e com um ar triste. O meu sorriso
desmanchou-se.
O Winston já sabia do que tinha
acontecido. Ele estava agachado e tinha a mão pousada no meu ombro. Ele já
devia ter recebido um telefonema do meu pai com as más notícias. Más notícias
que seriam agora dadas pessoalmente à pequena Lara de apenas 3 anos.
- Vais ter de ser muito forte,
amor.
As famosas palavras. Porque é que
isso não me consolou? Onde está a mãe? Ficou na mercearia do costume a comprar
os croissants de chocolate quentinhos que comíamos sempre em família quando
eles chegavam? Não pediu ao Winston para os comprar porque ele estava a tomar
conta de mim? Porque o pai estava tão triste? Os croissants estavam esgotados?
A mãe teve de comprar outro doce qualquer? Não havia problema, eu não me
importava. Qualquer coisa que fizéssemos em família seria boa também. Qualquer
coisa. Lara, sua criança estúpida. Tu já sabias que algo não estava bem desde o
momento em que o carro estacionou. Eu desatei a chorar. Eu sabia que algo de
muito mau estava a acontecer.
O meu pai nunca me disse “A tua mãe morreu”
até ser ele próprio a ir embora. Nunca. Ela simplesmente desapareceu das nossas
vidas. Eu era abraçada e mimada, mas nada preenchia o vazio que eu sentia. Nada
preencheu até hoje. O assunto “Amélia” tornou-se quase proibido. Não que ele me
impedisse de falar dela. Ele só ficava deprimido o resto do dia cada vez que eu
o fazia. Eu também ficava deprimida. Então eu própria proibi-me de falar da
minha mãe.
Toda a ala oeste da mansão foi
trancada. Ali sim, fui proibida de entrar. Ali ficava o ateliê de pintura da
mãe. Lembro-me das palavras dele até hoje. “Tranquei toda a ala oeste e não vou
voltar a abri-la enquanto viver. Talvez um dia a Lara destranque tudo e deixe a
luz entrar novamente naquele lugar.”
Passaram 6 anos. Era a época em
que ele estava obcecado por investigar lendas. Ele estava no fundo do poço. Ele
era humilhado e desacreditado por todos. Ele tinha uma nova mulher. Ana1.
Ela apoiava-o. Era, pelo menos, o que ele achava. Todas as evidências que o meu
pai arranjava para fundamentar os seus pensamentos e teorias eram apagadas pela
Trindade2. Essa organização foi a principal culpada pelo suicídio
dele. A imprensa difamava-o como se ele não fosse um ser humano. O mundo estava
contra ele. Até eu. Eu tinha 9 anos e só queria ter um pai que brincasse
comigo, que me levasse nas suas viagens, agora que eu era mais crescida. Um pai
que me desse atenção, um pai que comprasse croissants de chocolate e me fizesse
companhia num filme. Por isso eu era a favor do encerramento das investigações
dele. Como eu me sinto mal por isso hoje.
Até que o dia chegou. Eu estava a
jogar xadrez com o Winston na adega e a perder, como sempre. Ouvimos um tiro. Olhámos
um para o outro e corremos assustados. Não me passava pela cabeça que o meu pai
estaria agora morto. Ele tentou parar-me e pedir que eu esperasse enquanto ele
ia ver o que se tinha passado. Provavelmente ele já tinha uma ideia da
tragédia.
Mas nada podia parar-me. Eu
sentia que algo não estava bem. Eu
conhecia aquela sensação. Estava a acontecer outra vez. Esquivei-me por baixo
da mesa, fugi do Winston e fechei-lhe a porta no nariz, para que não me pudesse
apanhar. Corri quase tropeçando nos próprios pés escadas acima até ao
escritório do pai.
- Pai? Pai? Está tudo bem? –
gritava eu, aflita.
Nada vai tirar esta imagem da
minha cabeça. Quando abri a porta do escritório vejo-o com uma pistola na mão,
caído sobre a mesa. Um jornal onde a imprensa o humilhava estava caído no chão,
banhado em sangue que pingava da cabeça dele. Aquele rosto. Os olhos e a boca
abertos. Ele estava morto. Morto, mesmo à minha frente.
O Winston chegou quase arrombando
a porta. Ficou, por um segundo petrificado a olhar para o cenário de terror.
Imagino o que passou pela cabeça dele. Como ele tinha sido capaz de abandonar a
filha? Eu também pensei isso por muito tempo. Ele puxou-me e mergulhou a minha
cabeça nos braços dele, onde eu podia chorar e onde não conseguia ver o meu
pai. Nem queria. Não naquele estado.
Depois chegou a Ana, claro,
chocadíssima. Empurrou o mordomo e a enteada e ficou a chorar a morte do marido
junto a ele. “Chorar.” Não me lembro de ver nenhuma lágrima. Quem me garante
que não foi ela a mata-lo?
Foi aí que a minha vida ruiu.
Tive de ser criada por ela e, em parte, pelo Winston. Ainda bem que na altura
não sabia o que sei hoje sobre ela3. Porque eu teria muito
provavelmente fugido de casa e morrido numa semana. Agora haviam dois vazios
dentro de mim. Até hoje, dois vazios não preenchidos. Nunca preenchidos. Nunca.
1 Ana –
Madrasta da Lara. Ana pertencia à Trindade e traiu a família Croft. A sua
traição é confessada quando Lara tem 22 anos, no último jogo, Rise of the Tomb
Raider.
2 Trindade –
Organização secreta, religiosa e antiga. Eles anseiam por relíquias místicas
com poderes sobrenaturais. São obcecados também por civilizações antigas.
Cobrem e apagam vários factos a seu favor, se necessário. Têm poder para isso.
3 Lara refere-se
à traição da Ana revelada em Rise of the Tomb Raider e a tudo o que ela fez com
a sua família, inclusive tentar matar a enteada.
RIO LI, CHINA
ANTES DO ACIDENTE
Bem, vamos continuar. Lá estava
eu, a querer socar a cara do meu tio. Além de ter mexido nas coisas do meu pai,
roubou-as. E pior, roubou coisas que diziam respeito à minha mãe. A melhor
parte é que acha que o que viu, seja lá o que for, incrimina o meu pai de
alguma forma e muda toda a história. A minha mãe teria sobrevivido ao acidente
e vindo a morrer mais tarde na China. Dá para acreditar? O DeMornay não tem
moral nenhuma para chamar o meu pai de louco. Nenhuma.
Ele tirou da sua bolsa uma das
fitas que o pai gravou para mim.1 Ergueu-a e sorriu, achando que eu
ia ficar feliz por vê-la. Ok, aguentei mais do que devia. Vou mesmo atirá-lo ao
rio.
- Como é que foi capaz? –
gritei-lhe na cara, arrancando a fita da mão dele.
- Lara! Controla a tua
má-criação! – teve, ele, o atrevimento de me repreender.
- COMO é que você entra na MINHA
casa, vasculha as coisas do MEU pai, rouba as fitas que ele gravou PARA MIM e
ainda me chama para contar tudo, achando que eu ia agradecer e sorrir? Você nem
é um Croft.
- Continuas a mesma menina
mimada. Eu estou a tentar ajudar-te. – respondeu-me.
Ele não devia ter dito aquilo.
- Esses calções são de banho? –
perguntei, mirando-o de alto a baixo.
- Não, eles... Mas o que te
interessa?
- Que pena.
Atirei-o ao rio. Ele devia
agradecer-me pelo primeiro banho do mês. Depois desta eu estou oficialmente
banida da minha família materna. Nem a minha mãe era muito DeMornay, para dizer
a verdade. Por isso casou com o meu pai e não com um conde, como a família
queria. Soube-me tão bem. Guardei a fita na mochila e saí dali. Os pescadores
estavam todos a olhar para o DeMornay. Espero que tenha sido a maior vergonha
da vida dele. Quem o mandou beber aquele cocktail? Tropeçou e caiu ao rio.
Pobre tio... Será que ele sabe nadar?
Por um momento pensei em
enfiar-me no próximo avião e voltar a Londres. Mas não. Eu precisava de comer. Eu
precisava de dormir. Descansar. No dia seguinte um longo voo esperava-me. De
novo.
Já tinha saudades da comida
chinesa. Chinesa mesmo, feita na China. Não dessas que se vendem por aí. Saí do
restaurante do hotel e rebolei até ao quarto. Aquela cama era tão irresistível.
Mas aquela fita também. Abri a mochila e, antes que pudesse agarrar na fita, o
telemóvel tocou.
- Olá. – atendi.
- Olá! Estamos aqui no computador
à tua espera, vem para o Skype! – respondeu Sam.
Sempre que estou fora faço uma
chamada de vídeo por dia com eles. Jonah, Winston e Sam. Eles obrigam-me. Deve
ser para confirmarem que estou inteira.
- Lara, a menina parece tão
cansada. – surpreendeu-se Winston.
- Vocês sabem como é... Visitar a
família nunca é fácil. – respondi.
- Pensava que NÓS éramos a TUA
família. – apareceu Jonah.
- Bem, é provável que agora vocês
sejam a minha única família. O meu tio já me odiava. Depois de hoje ele vai candidatar-se
à Trindade. – ri.
- Então não correu bem o
encontro. – assumiu o Jonah.
- Afinal o que é que ele queria?
Nunca gostei desse homem... – acrescentou Sam.
- Se correu bem? Foi ótimo!
Perfeito! Atirei-o ao rio. – contei.
- A menina sabe que eu não sou de
dizer estas coisas. Mas ele estava a merecer algo assim. – apoiou Winston.
- Bem, eu estou MORTA. Acho que vou
dormir, amanhã já estou aí com vocês! Boa noite!
- Noite? Aqui mal começou a
tarde. – riu-se Jonah.
Despedi-me deles e desliguei o
computador. Tomei um banho e preparei-me para dormir. Olhei uma última vez para
a mochila. Eu não ia fechar os olhos sem ouvir aquela fita. Não queria dar
importância às loucuras do meu tio. Provavelmente era só mais uma fita como as
outras. E quanto mais cedo eu a ouvisse mais cedo parava de pensar nela. Apertei
o play.
“Finalmente
o Winston foi dormir. (Risos) Se me ouve a falar sozinho vai achar-me louco. Hoje
tentaste entrar na ala oeste. Sinto que fui bruto demais contigo, mas foi a
minha reação. Eu sei que nós raramente conversamos sobre ela mas eu quero que
tu saibas que eu penso nela todos os dias. Na tua mãe. Todas as noites desejo
que ela ainda estivesse connosco. Queria que soubesses que eu sempre tratei
muito bem a Amélia. O teu tio deve ter a casa cheia de flores, de tantos ramos
que eu oferecia à tua mãe. Ela já não tinha onde as guardar aqui, na mansão. Eu
fazia de tudo para a agradar. Eu queria tanto tê-la ajudado. Queria ter
conseguido. E tentei. Depois dos Himalaias. Mas tive de a ver morrer. Bem, esta
é provavelmente uma das fitas mais longas. Continuo amanhã!”
Pai, o que aconteceu? A fita era
realmente totalmente diferente de todas as outras. Que estranho. Eu tive de
rebobinar e ouvir tudo de novo.
“Eu
queria tanto tê-la ajudado. Queria ter conseguido. Mas tive de a ver morrer.”
E de novo.
“Eu
queria tanto tê-la ajudado. Queria ter conseguido. Mas tive de a ver morrer.”
E de novo.
“Mas
tive de a ver morrer.”
Mas... A história não era esta.
Não. Quando encontraram a minha mãe ela já estava morta, ela... Como pôde ele
tê-la visto morrer? Isto é impossível ele... Mentiu-me?
“Continuo
amanhã!”
Espera, o quê?
“Continuo
amanhã!”
“Continuo
amanhã!”
Nenhuma das fitas que ele me
deixou continuava a história de como a minha mãe morreu. Pelo menos, nenhuma
das que estavam em casa. Nem mesmo nas passagens secretas2. Todas as
fitas dele estavam numeradas. Esta era a número 120. Não me lembro de sequer
chegar à fita 115. Parece uma história totalmente nova, mas porque é que o meu
pai me deixaria algumas mensagens sobre a morte da minha mãe nos Himalaias e
outras sobre a morte dela na China?
“O
teu tio deve ter a casa cheia de flores, de tantos ramos que eu oferecia à
Amélia. Ela já não tinha onde as guardar aqui, na mansão”
“O
teu tio deve ter a casa cheia de flores”
“O
teu tio deve ter a casa cheia de flores”
“O
teu tio deve ter a casa cheia”
De pistas. Cheia... de PISTAS!
Aposto que aquele filho da... Ele não roubou só uma fita. Deve ter roubado tudo
o que era sobre a minha mãe. POR ISSO é que o meu pai falava tão pouco dela.
Ele estava a gravar tudo para eu entender mais tarde. Só que eu nunca ouvi
essas gravações. Acho que está na altura. Próxima paragem: Liverpool. Eu vou
entrar na casa dele. Custe o que custar.
1 Em Rise of
the Tomb Raider, enquanto a Lara está nos acampamentos, ela ouve fitas que o
pai gravou para ela ouvir mais tarde. Não são as fitas sobre as suas pesquisas
de lendas. São fitas para a Lara. No menu é possível ler e ouvir tudo arquivado
no “Diário do Richard Croft”. Nestas gravações o pai fala-lhe de como foi o seu
dia, conta-lhe histórias aleatórias, fala-lhe do Roth, da Ana, mas muito
raramente (apenas uma pequena referência) da Amélia.
2 Na expansão
‘Laços de Sangue’ de Rise of the Tomb Raider, todos os documentos que a Lara
encontra que explicam a morte da mãe estão escondidos ou em cofres ou em
passagens secretas. Todos a montar a história da morte após a queda do avião
nos Himalaias. Ela morreu sozinha na neve, sem ninguém a ter encontrado,
segundo um desses documentos.
LIVERPOOL, INGLATERRA
ANTES DO ACIDENTE
Era de noite. Tarde. Levei comigo
uma mochila vazia. Não sabia o que podia encontrar. Eu já estava na frente do
condomínio privado do DeMornay. Privado. Nunca iria conseguir passar pela
portaria. Ainda bem que aquelas grades eram facilmente escaláveis.
Se a memória não me falha, a casa
dele era a número 5. Eu podia entrar lá, certo? Afinal, ele também entrou na
minha. Dei uma corrida sorrateira até à fachada principal, onde me escondi,
enquanto passavam dois casais, que saíam do prédio. Eu não podia ser vista.
Pronto, o jardim estava atravessado. Mas como eu ia entrar?
Senti-me uma ladra. E aquilo não
era um túmulo. Ele vivia no segundo andar. Pude ver que a casa dele era a única
com as luzes apagadas, pelo menos do prédio número 5. Bem, mais escalada. Eu
devia ter levado os meus machados.
As várias varandas do condomínio
tornaram a minha escalada mais fácil. Eu só desejava que ninguém estivesse a
passar em baixo. Eu ia totalmente parecer uma ladra. Um pé num tijolo, uma mão
numa grade, e fui subindo.
Estava na varanda da casa dele.
Tentei abrir a janela, não abriu. Tentei arrombar, não arrombou. Fartei-me.
Dei-lhe um chute e partiu-se. Jarras e pratos caem, ninguém ia suspeitar do
barulho dos vidros.
Finalmente eu estava lá dentro. Acendi
a luz e comecei a vasculhar tudo o que pude. O escritório dele foi o primeiro
sítio onde fui. Era muito provável ele esconder tudo lá. Fui à sua secretária e
comecei a abrir as gavetas. Na primeira tive o desprazer de ver uma revista
pornográfica. Bem usada. Velha, digo. Na segunda vi arquivos, papelada. Na
terceira havia uma garrafa de bolso com uma bebida alcoólica qualquer. A última
gaveta estava fechada. Coisas trancadas escondem algo.
O que quer que estivesse guardado
ali, devia ter sido fechado na primeira gaveta. Só tive de tirar a gaveta de
cima. Pousei-a no chão e pronto, já podia descobrir o que estava ali escondido.
Enfiei a mão lá dentro e tirei uma fita. Podia ser do meu pai. Tinha de ser.
Antes que pudesse ouvi-la, fui alertada pela fechadura da porta da casa. Alguém
estava a entrar.
Luzes acesas, janela partida. Não
era difícil de imaginar que estava ali mais alguém. Consegui tirar da gaveta
mais umas 4 fitas até que não senti mais nada lá dentro. Arrumei tudo na
mochila, voltei a pôr a terceira gaveta no seu sítio e preparei-me para sair.
- Lara? És tu que estás aqui? –
perguntou.
Era a voz do meu tio. O que ele
fazia em casa? Consegui esquivar-me até à cozinha. Eu precisava de sair dali.
Conseguia ouvir os passos cautelosos dele. Ouvi também algo familiar. Ele
carregou uma arma.
- Lara, podes aparecer. Eu sei
que és tu. – chamou ele, depois de entrar no escritório e de eu ter ouvido uma
gaveta a abrir.
Eu estava encostada a uma parede.
Deixei de ouvir os passos dele. Não sabia onde ele estava. Até que o nosso
olhar se cruzou num espelho. Eu tinha sido descoberta. Corri para trás da
bancada da cozinha e senti, no mesmo instante, a corrida dele atrás de mim.
- Lara, devolve o que roubaste ou
não vou pensar duas vezes antes de disparar. – ameaçou, instalando um
silenciador na pistola.
- Claro, dispare e chame a
atenção da vizinhança toda! – atirei-lhe um chaleiro à cabeça.
- A minha casa está a ser
invadida. – disparou 5 vezes contra a bancada, deitando vários equipamentos ao
chão – Eu estou em perigo. Se te matar agora mesmo será em legítima defesa.
Acabou-se o tio simpático. Começou
a aproximar-se. Bem, se ele me ia matar, que fosse mesmo em legítima defesa.
Para isso, eu precisava de estar armada. Agarrei no faqueiro e começou a
diversão.
Mal ele conseguiu espreitar o meu
esconderijo e já levou com uma faca no braço. Antes que ele pudesse puxar o
gatilho, corri e deitei-o ao chão, empurrando-o pela altura da cintura. Agarrei
na pistola e corri para a sala. Só tinha de sair pela mesma janela que entrei.
Mas não quis perder a oportunidade de lhe fazer umas perguntas.
Quando ele entrou na sala eu
estava na varanda. Podia vê-lo através das cortinas. Quando o apanhei de costas
arranquei o reposteiro e usei-o para puxar o querido tio pelo pescoço.
- O que é que você quer de mim? –
cerrei os dentes, ao ouvido dele, com a pistola a levantar-lhe o queixo.
- LARA! Tu estás completamente
desequilibrada! Eu nunca devia...
- RESPONDA!! – empurrei-o contra
o parapeito da varanda.
Retiro o que disse sobre não
estar num túmulo. A minha vontade era mata-lo naquele instante.
- Eu estou sem paciência. Diga-me
porque é que roubou tantas gravações do meu pai. Diga-me porque as escondeu
estes anos todos. – gritei, sempre com a arma apontada para ele.
- Lara, por favor fala baixo, tu
não estás na tua mansão. Aqui há vizinhos. – pediu.
- Eu juro que vou mata-lo agora
mesmo se você não começar a falar. – enervei-me.
- Já roubaste as fitas. Podes...
- ELAS SÃO MINHAS! Só estou a
leva-las de volta. – interrompi.
- Podes ouvi-las e vais entender
tudo o que fiz. Talvez deixes de me ver como o vilão nesta história.
- Pode ter a certeza de que as
vou ouvir. Sabe porquê? Porque elas foram gravadas PARA MIM! – levantei o punho,
por um segundo, para o agredir.
Mas não o fiz. Em vez disso
larguei a arma, agarrei nas cortinas, atei-as à varanda e desci o prédio. Lá em
baixo, olhei em volta para ter a certeza de que estava sozinha e corri para as
grades do jardim. Lá fora pude ver, pela janela, o DeMornay a dar um soco na
parede. Algo não tinha corrido como ele planeava. Bem, eu quase o matei. Nada
tinha corrido como ele planeava.
MANSÃO CROFT, INGLATERRA
MUITO ANTES DO ACIDENTE
Quando eu recuperei a Mansão
Croft, há cerca de 3 anos, depois de umas longas obras, a primeira coisa que
fiz foi trazer os meus amigos para cá. Eu não quis ficar sozinha sentada num
canto escuro da mansão. É tudo enorme lá e eu tenho problemas em viver sozinha.
Assim que a casa ficou pronta eu voltei a contratar o Winston. Ele tinha sido
posto na rua quando eu tinha 15 anos e a Ana achou que já não precisávamos de
um mordomo.
O meu tio foi o controlador do
património por muito tempo. Não havia testamento. E o DeMornay não facilitou as
coisas. Tive de revistar a mansão toda à procura de algo que provasse que sou a
herdeira. Mas acabei por encontrar algo muito melhor. A cripta da família
Croft. Dentro da minha própria casa, todos os meus antepassados sepultados.
Entre eles, a minha mãe, no mais bonito dos túmulos.
Então, aqui está o que eu tinha
como verdade absoluta até hoje: Os meus pais estavam juntos a procurar algum
tipo de elixir da vida eterna. Sim, essa obsessão é antiga. Até que, nos
Himalaias, o meu pai encontrou uns monges que começaram a preparar o elixir.
Ele queria a minha mãe presente no momento da descoberta. Foi aí que ela partiu
para os Himalaias ao encontro dele. Foi aí que morreu.1 Até hoje
esse era, para mim, o motivo pelo qual o meu tio sempre odiou o meu pai. Mas
parece que afinal esta verdade não é tão absoluta assim... O que está a
acontecer?
Pelo menos ele deixou-nos ficar
na mansão. A mim e à Ana. Continuou a pagar os serviços do Winston porque achou
que ela ia precisar de ajuda para criar uma criança de 9 anos, a minha idade na
altura. Mas depois o DeMornay achou que eu já estava crescida o suficiente para
não precisar de um mordomo. Para mim ele não era SÓ um mordomo. A Ana podia ter
continuado a pagar-lhe, já que ela era a que mais lhe dava ordens. Mas não. E
ele foi posto na rua.
Dali em diante eu vivi sozinha
com ela. Até que saí da mansão. E depois foi ela quem a abandonou. Afinal, ela
só viveu lá durante anos como uma espécie de infiltrada da Trindade. Para quê
viver lá sozinha agora? O meu tio nunca quis morar na mansão e nunca se
preocupou com o estado dela. Deixou-a degradar-se. Abandonada. Quase a cair aos
bocados.
Até hoje não faço ideia de para
onde a Ana foi viver. Só sei que continuava a visitar-me regularmente. E eu,
estúpida, deixava-a sempre a par dos futuros planos.
Mas não, eu não passei a viver
sozinha. Vivi com a Sam em Londres. Eu não tinha a minha herança e, para ser
sincera, nem me fazia muita falta. Então nós dividíamos um apartamento. Quando
a Sam teve uns problemas psicológicos e foi presa, o Jonah praticamente
mudou-se para minha casa para me fazer companhia. Dormia lá quase todos os
dias.
Ah, e eu mantive o contato com o
Winston até hoje. Apesar de ele ter deixado de viver comigo. Mas tudo isso
mudou há 3 anos, quando a mansão ficou pronta de novo. Passei a viver lá com o
Winston, o Jonah e a Sam. Deve ter sido a época mais feliz da minha vida desde
que o meu pai morreu.
MANSÃO CROFT, INGLATERRA
ANTES DO ACIDENTE
- Sam? Jonah? – gritei ao abrir a
porta da mansão.
- Estamos aqui. Onde foste? –
saiu Jonah, com Sam, da cozinha.
- Tranquem tudo! Fechem todas as
portas e janelas. – corri escadas acima.
- O que é que se passa? – estranhou Sam.
- Onde estão as minhas armas? –
desci, depois de atirar a mochila para o meu quarto.
- No mesmo sítio de sempre... Lara,
o que é que está a acontecer? – continuou ela.
- Onde está o Winston?
- Aqui, aqui! – apareceu ele.
- Ok, venham cá. – chamei-os à
sala, já armada.
- Estás bem, Lara? – preocupou-se
Jonah.
- Sim, só temos um pequeno
problema. O meu tio regressou da China mais depressa do que eu imaginei. Eu
estive no apartamento dele, eu...
- Tu o quê? – interromperam.
- Resumindo, eu assaltei a casa
dele, ele entrou, nós lutámos, eu quase o matei, ele ficou bem furioso e eu
fugi.
- Espera... Tu lutaste com o teu
tio? Há quanto tempo esperávamos por este momento? – riu-se Sam.
- Isto não tem piada, Sam. Ele só
não me matou por falta de pontaria. É provável que ele apareça aqui esta noite.
Temos de estar alerta.
- O que é que foste fazer a casa
dele? Explicas-nos? – sentou-se Jonah.
- Eu... Eu fui buscar umas coisas
que me pertencem. Depois eu explico tudo, eu prometo. Agora temos de...
Alguém bateu à porta. Ele tinha
chegado mais depressa do que eu pensei. Outra vez. Espreitei pela janela e
mantivemo-nos todos no interior.
- Lara, sei que estás em casa.
Abre-me a porta ou eu entro de qualquer forma. – insistiu ele.
- Eu gostava de vê-lo tentar.
Eis que ouço a fechadura. Merda,
ele tinha a chave. Posicionei-me, dei sinal ao Jonah e à Sam para se afastarem
um pouco e apontei a pistola para a porta. Ele abriu uma fresta e mostrou a
mão. Entrou devagar com as mãos no ar:
- Não estou aqui para guerras.
- Saia da minha casa. – mandei.
- Tu tem calma. Eu só...
- Eu disse para SAIR! –
exaltei-me.
- Muito bem. – disse ele – Se queres
pular a parte da conversa, pulamos.
Ele baixou uma das mãos.
- Se está a pensar tirar daí uma
arma pense de novo – ameacei, ao vê-lo com a mão no traseiro.
- Eu vou ligar à polícia. Isto é
invasão de propriedade privada. – virou, Sam, as costas.
- Eu não faria isso! – sacou ele uma
arma, apontando-a para mim.
- Nunca pensei dizer isto, mas
tenho saudades do tio que só dava notícias uma vez a cada 5 anos. Acho que
andamos a ver-nos demasiado nos últimos dias. – aproximei-me, ainda com a minha
pistola apontada para ele.
- Devolve-me as fitas – carregou
a arma.
- Devolver o quê? O que você me
roubou?
- Lara, eu não vou pedir de novo.
Faz o que te estou a dizer ou eu, mais uma vez, não penso duas vezes antes de acabar
contigo. – continuou.
- Você não vai disparar... –
ri-me.
- Achas que não? – mirou para o
lado e disparou sobre o Jonah, que caiu no chão com uma bala perfurada no
abdômen.
- JONAH! Você... Você é completamente LOUCO!
Eu devia mata-lo agora mesmo...
- Eu gostava de te ver tentar. –
sorriu.
MATAR O TIO –
Pule para a página 17
NÃO MATAR O TIO –
Pule para a página 35
C O
N T I
N U A
. . .
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