«Torna-te na Tomb Raider»
O fim do início chegou. Shadow of the Tomb Raider é o jogo que
encerra a trilogia que conta a história da origem da Lara Croft, a famosa
arqueóloga e salteadora de túmulos. Depois de, em abril, termos sido convidados pela Crystal Dynamics para o evento de imprensa em Los Angeles e termos tido a oportunidade de estar entre as primeiras pessoas do mundo a ver e testar o Shadow, a Square
Enix ainda nos disponibilizou o jogo gratuitamente quase duas semanas antes do seu lançamento. Hoje, os fãs podem ficar a conhecer a nossa opinião completa (sem spoilers).
A Lara Croft está mais madura e
experiente, mas isso não significa que ela já saiba fazer tudo. De facto, logo
no prólogo, na ilha de Cozumel, um erro fá-la desencadear o apocalipse e toda a
sua jornada é uma tentativa de impedir a tragédia. Desengane-se quem acha que
este Tomb Raider é um jogo de tiro em terceira pessoa. Este é o capítulo com
menos combate da trilogia, já que o foco dos produtores foi, desta vez, a
exploração e os puzzles. Não deixa de ser estranho ver a personagem a passear e
socializar enquanto o fim do mundo está, literalmente, a chegar.
Noventa por cento do jogo é
passado no Peru, na Floresta Amazónica. A variedade dos cenários é aceitável,
tendo em conta que são apenas três os hubs. As paisagens são de tirar o fôlego,
mesmo com os gráficos inconstantes. Paititi, a cidade escondida, é a maior área
que um jogo Tomb Raider já teve para ser explorada. Ao fim de algumas horas
torna-se cansativo e repetitivo voltar sempre ao mesmo lugar após uma missão
principal na história, e de lá partir para alcançar a próxima. Por falar em
missões, há também recrutadores ao longo de todo o jogo, que nos dão tarefas
secundárias em troca de recompensas raramente proveitosas.
O conteúdo opcional é agora maior e melhor. Há mais túmulos e criptas, colecionáveis e áreas escondidas. Shadow of the Tomb Raider é um RPG mundo
aberto sem o assumir. Para jogo linear de ação e aventura, faz muito. Para
jogo RPG mundo aberto, não é suficiente. É o mais difícil da série reboot, mas
ainda peca pela falta de inovação, como o seu antecessor. A Lara tem algumas
novas habilidades, mas várias terá de reaprender, forçando o jogador, nalguns
casos, a comprar a mesma habilidade três vezes, em três jogos distintos.
Há um novo sistema de venda e
compra, que não é muito desafiador, já que os recursos são demasiado abundantes
no ambiente e vendê-los dá facilmente ao jogador dinheiro suficiente para comprar
todos os itens. Outro problema que a excessiva disponibilização de recursos
traz é o upgrade instantâneo das armas. Basta conseguir um novo arco, pistola,
caçadeira ou rifle, que Lara consegue evolui-los ao máximo de uma só vez, especialmente
se o jogador for muito explorador.
Os puzzles são mais complexos e
variados. Nem todos são para usar uma flecha com corda e puxar algo, como
acontecia frequentemente no jogo anterior. Agora há também armadilhas e
inimigos dentro dos túmulos. Lara continua a servir-se da física e dos
elementos naturais para desimpedir ou criar o caminho para o ponto importante
do templo, mas também há puzzles com alavancas e enigmas, que têm aquele gosto
clássico.
A imersão que a trilha e os
efeitos sonoros trazem é a melhor dos três jogos, há momentos em que não
sabemos o que é música e o que são sons do ambiente. Especialmente nos túmulos
escuros e soterrados, a experiência sonora do jogo é incrível, mesmo sem ter
grandes temas.
A história é o ponto mais fraco
do jogo. Não acontece muita coisa na narrativa desde o momento em que Lara
desencadeia o apocalipse até ao momento do desfecho final, que também não é
muito satisfatório. Sim, existe um crescimento na personagem, mas o final não é
convincente. Ela «torna-se na Tomb Raider», sim, mas bastava colocarem esse
subtítulo no jogo anterior que o resultado seria mais ou menos o mesmo. As
personagens são mais bem desenvolvidas e, desta vez, os companheiros de
aventura são mais prestativos.
Há momentos emocionantes, há
momentos de cortar a respiração, momentos de fazer o queixo cair, mas, no que
toca à história em si, não há muito para ser dito. Sente-se falta das
reviravoltas e revelações. Fazer referências aos jogos clássicos não chega, se
estas forem totalmente escusadas e desconectadas da narrativa. Não falo de Easter
Eggs, mas antes de momentos chave na história. Parece um caminho fácil, mexer com a
nostalgia dos fãs para nos dar a sensação de «dever cumprido».
Shadow of the Tomb Raider é um
jogo divertido, que vale muito a pena. No final de contas, é isso que importa.
Há muitas e muitas horas de gameplay, se ambicionarem os cem por cento. Certas
partes deste jogo vão tornar-se as favoritas de muitos fãs. Esta é a melhor
Lara Croft dos últimos anos, e isso é algo que todos vão querer testemunhar.
Miguel Marques | LARA CROFT PT
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